Coleção pessoal de Pillarmendes
Encontros desajeitados, desafiadores, que fitam, te fazem estar, ficar. São faíscas que queimam e fazem queimar. É energia, onda , que te permite dropar, se enlaçar, equilibrar. Fascínio perdido, convexo. É exagero dizer que não, mas loucura dizer que sim. Distante é tão perto. Um olhar direto. É quebranto desvairado, que soa e vibra, que faz emergir e mergulhar em seus reflexos, que refletem nos sentidos meus.
Um aguaceiro, temporal, atemporal, caia sobre as estradas desconhecidas, derrapantes. Era noite, garoava, o sopror enlaçava e as ondas encobertas pela noite.
No crepúsculo da manhã, a claridade fez morada pelos caminhos a desbravar...
O mar recebia a conexão, a energia que dissipava-se pelo ar...
Estática, e no cúmulo da observância, viajava, mergulhava, nas cores, no mar, nos movimentos a calhar, até me encontrar no fundo do teu olhar.
Meu âmago transcende em poesia, deleite entre a Costa do oceano teu. Nele coexistem a fúria das tuas ondas e a calmaria de seu tom azul, anil, primaveril. A primavera habita. Em tuas entrelinhas, em tuas cores, amores. Na imensidão do coração, canção ao som da voz tua ao pé do ouvido. Numa ventania de um dia girassol, soletrava palavras nuas ,vestidas de ressignificados.
De repente num mirante, distante, aspirante, sentei-me sobre as margaridas caídas, a pairar pelo ar; O sopror enlaçava meus fios de cabelo, era alto, planalto, de vegetação exuberante, mesclando o céu e o mel espalhado entre casulos despedaçados. Lá do alto eu enxergava as complacências dissipadas pelo ar, pelo tempo. Avistava um jardim de arbustos que plantei, reguei, parei, hoje vivos estão nas memórias dos corações, uns acesos, outros apagados, árduos de memórias insanas, inacabadas, perversas, obscenas, apaixonantes e vibrantes, desconcertantes; Conexões que se desconectaram, calafrios que se amenizaram. O sol se pôs, o sol raiou, o tempo passou e tudo mudou, nada mudou, as pessoas se mudaram, arbritaram os corações cruéis, fiéis, em viés, ao invés, entre anéis, entre céus, entre o mar, entre dropar, enlaçar, pegar uma onda, risonha, loucona; sal ardente, sal latente, a pele no sol, o sol na pele, na areia, clareia, nas ondas, na água, no fundo, o mar é antigo, fascínio, abismo, numa locução, numa navegação. Fui atriz, fui personagem principal, eu sou atriz, encenei, enceno, a vida é arte, encerrar faz parte e iniciar uma nova página, um novo enredo, é pura sagacidade, sagacidade de viver.
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O toque sinuoso foi escaneado pela película da sensibilidade, nostalgia num canto retrô, gotículas de orvalho caiam sobre meus fios de cabelos ao sopror. As palavras iam, voltavam, encantavam, como o toque de uma borboleta sobre minha face.
Os olhos brilhavam como as estrelas do céu, a voz, a vibração da canção, estórias de uma vida em estações, conduzida pelo estro, o verve coexiste em minha visão, em minhas mãos, em meu coração.
Meras ações transfiguradas em escritos, perversos, inversos, uma ambiguidade, uma antítese. Enxerguei em tons de azul a neblina que encobria a paisagem da viajem sem fim.
As nuvens dialogavam comigo, eram como um obra de Van Gogh ou um escrito de Drummond. O vento balanceava as cortinas vinho tinto, a música rolava ao som de Bon Jovi, a guitarra recitava em versos o que eu não podia datilografar.
As tintas jorradas ao ar, ao mar, num balançar de ondas, quebradas, completas, simples e compostas, além do que os olhos podem enxergar, assim és tu, assim sou eu!
O balançar dos cabelos, os corpos em livre constância pelos ares, livres,livres pra voar aonde o coração conduzir.
Voo, voo como um pássaro solto nesse bailar de corações .
O meu âmago acende e apaga nas escuridões dilaceradas.Entretanto brilha uma constelação perene, só que tênue, tênue por causa dos cactos estilhaçados pelos caminhos inóspitos. Transcrevo e apago, amargo o ardor desprovido, comido pelo mal abrigo. Desabrigo de um devaneio múltiplo, alumbrei as vísceras num tom estonteante. O afago me cobria naquela estação, canção não cantada em voz alguma, em tons de aquarela encontrei-me numa mistura homogênea, meandrica. Choveu cor, e eu me inundei até o último pote de tinta revirado. Dancei só nessa chuva, as tintas dialogavam comigo, e diziam que eu era meu abrigo, caiam feito as águas do céu, cantavam feito um cantor, e susurraram em meus ouvidos, que nem toda cor veio pra fazer aquarela, simplesmente se misturam e desaparecem.
Devaneio em espiral, sinto-me um temporal em meio a este caos de vidas vividas, despidas, comidas pelo tempo. Paixões são monções em direção contrária, é um sopror guiado pelo algar das vísceras do coração.