Coleção pessoal de PianoEmpoeirado
- Uma esperança perdida em seus sentidos
Para alguns, a existência significa somente alcançar os seus objetivos, realizar os mais diversos sonhos; para outros, é muito mais que isso, é dar sentido ao que realmente parece ter importância, sejam os pais, os amigos, as paixões, as lembranças; e para os outros poucos, ou muitos, visto que essa é a visão de alguém que está em um beco escuro, é conseguir se manter de pé mesmo sem ninguém. É muito mais significativo pensar em como tudo se resolve quando se é rodeado por pessoas queridas, em como tudo parece ter realmente um sentido. Bom, talvez essa ideia faça realmente sentido para aqueles cujo possuem um lugar para retornar, um braço ao qual clama por sua volta após uma partida incerta de retorno, um sorriso tímido ao fim de tarde esperando algo em troca. Em épocas assim, onde o vento tem um canto mais prazeroso e simbólico, essas pessoas que refletem a própria existência passam a perceber que elas possuem algum valor, tudo graças aos laços que possuem. Outros, por outro lado, por alguma razão desconhecida, perderam tais laços de diversas formas, sejam por divergências sentimentais ou até mesmo pela tão temida e indesejável visita agourenta. Tudo o que resta para aqueles que não conseguem encontrar o sentido da própria existência é um enorme vazio, um buraco que jamais poderá ser preenchido com qualquer outro tipo de sentimento, sejam bons ou ruins, e assim, seguem as suas vidas sem sentido, sem propósito, apenas depositando fé que algo um dia vai mudar, e jamais depositando em si, pois a própria força de vontade e valorização se perderam ao longo do tempo. Então, o que resta? Talvez a idealização dos seus sonhos que jamais poderão ser realizados pela falta de fé em si. Então tudo que sobra são os ideais que jamais se concretizarão, isto é, a menos que alguém faça tal pessoa sentir a vontade de construir algo, ou até mesmo buscar um novo propósito, talvez não em si mesmo, mas nesta pessoa. O medo de depositar as esperanças novamente e se frustrar são gigantescos, mas será que vale a pena viver no mesmo céu nublado, cinzento e sem vida, que é como estão estes olhos insignificantes, ou tentar ver as cores do céu que outrora foram azuis e valiosos?
Ah, tudo é tão cinza e molhado, essa chuva que banha e torna essa terra gostosa de apreciar devem possuir algum significado. Talvez não deva tentar encontrar o sentido de tudo em outros, ou em alguém específico, e sim em como abraça-te e ama-te. Bom, essa chuva parece ter um algum sentimento, passa uma tristeza confortante, daquelas que realmente podem nos compreender. Sim, realmente deve ser isso, talvez o que possa fazer bem seja em como sentir o que a vida ao redor que passar, e não tentar alcançar os outros que jamais compreenderão essa forma de pensar. A chuva é o choro da vida, é o choro que precisa banhar esse corpo impregnado de falsas esperanças e sonhos esquecidos, para quem sabe um dia renascerem com novas esperanças, e tudo voltar a ter um novo propósito.
Neblina de lembranças
Aquele olhar seco que volta em direção á neblina, sussurra por alguém, o olhar perdido em desespero sem sequer possuir um refúgio, perdido nas lembranças que criara sobre vastas perspectivas de momentos inesquecíveis. Esse olhar outrora foi vivo, enérgico, porém nesta manhã estava mais cinza que os céus em dias chuvosos, era uma chuva sem trégua, o próprio olhar era a tempestade, ondas quebrando nas costas rochosas, uma noite de puro agouro onde a melodia tocada era o canto das corujas e dos morcegos. A falência desse olhar afundou junto com aquele corpo frio naquela manhã, tanto o olhar como seu dono perdiam seu propósito, e de cabisbaixa, a única coisa que podia fazer era olhar quem tanto amou partir. Talvez seu olhar seja reflexo de quem foi um dia, ou talvez seja assim que queria olhar para ela. Frustração, medo, arrependimento: Essas três coisas dançam em tons distintos dentro de sua íris. Tudo fica escuro, seu corpo está prestes a afundar no esquecimento, e só uma única vez quisera aquele rapaz, que aqueles olhos se abrissem mais uma vez, não para dizer que a ama, ou lhe agarrar firmemente, mas tão somente para que seus olhares cruzassem novamente, e quem sabe, o olhar vivo da morta acendesse o olhar morto do vivo… É um jogo de sentimentos… Essa neblina cobriu tudo… Adeus.
Não se engane ao ler os textos de um escritor, pois tudo que pode estar vendo é a transformação de seus sentimentos de solidão convertidos em traços reconfortantes e belos, tudo para que sua existência possa um dia ter um significado, ou tão somente alcançar alguém amado.
- Distorção
Talvez estejamos no mundo não para aprender o que é o amor, mas sim para deixar o legado de o que entendemos que seja o amor.
- Legado do amor
Fui vasculhar os lugares cujo eu nunca havia adentrado da minha casa, e após um certo período, encontrei essa carruagem, e aparentemente, ela servia para tocar um tipo de música. Ela está há muito tempo soterrada e coberta por poeira, eu diria que anos e anos, e não seria exagero dizer quase uma década. E o mais incrível de tudo é que ela ainda reproduz melodias de piano, e em seu contorno, possui umas frases, como se fosse uma espécie de declaração de amor. Imagino eu que, o(a) antigo(a) dono(a) sofreu com alguma desilusão amorosa, e assim resolveu enterrar a carruagem, juntamente com seus sentimentos. Estou eu, resgatando tais sentimentos perdidos, e revivendo a caixa, e quem sabe ela não sorria para mim e toque como um dia tocou, ou talvez, quem saiba eu não sofra do mesmo modo, e a enterre novamente, assim, em alguns anos, um novo alguém pode encontrar, e tentar fazer a carruagem tocar novamente…
Quanto mais tempo se passa com alguém, mais doente e dependente da companhia você fica. Isso pode ser simplesmente o laço que dá sentido a existência, ou a fraqueza e a queda de todo indivíduo.
- Necessidade
A paz que os mortos emanam acabam com qualquer frustração humana com respeito a si mesma, pois a vida em si é o tormento de cada um.
- Paz..?
Não sou o brilho constante que procura, apenas sobrevivo de lampejos que somem junto com sonhos e esperanças.
Seria tão bom se as pessoas perdessem a vontade de depender do passado e conseguissem viver como se a cada dia uma nova história fosse construída, como um desenho quando é acabado, e a próxima página começa a ser preenchida. Mas preferem apagar os desenhos, deixar a marcas e construir um novo desenho mal feito por cima. A vida segue o mesmo fluxo de uma flecha quando é lançada, então, tentar ir contra ao próprio curso da existência, além de ser pura ignorância, é um desrespeito para com as outras pessoas que sustentam o seu presente
- Prisão de lembranças
É um cinza meio morto, ofuscante, mas que ainda sim, serve para embaçar minha visão. Tento ampliar o modo como tento ver, mas de nada adianta, toda aquela neblina cega-me completamente. Estou preso no mundo que cresci, e dele não posso mais sair, nem a frente consigo enxergar, tudo que queria ver foi tirado de mim, seja pelos acontecimentos inevitáveis, ou por essa fumaça desconfortante. Eu já tentei correr para a frente, para os lados, mas é como se eu andasse em círculos, como se aquilo não tivesse um fim. Eu já não mais sabia onde estava, só sabia para onde queria ir, e eu queria ir embora dali, não sabia como, apenas sentia o desconforto, sabia que não pertencia, sabia que eu queria sumir, só não sabia como sumir, apenas senti. Eu corri tanto, mas tanto, que acabei escorregando, escorreguei na lama, deslizei pela grama, e aos seus pés cheguei, cheguei desacordado. Quando voltei a mim, olhei em sua feição, não sabia o motivo, apenas senti um certo conforto, talvez seja porque consegui finalmente sair dali, daquela escuridão, e, quando volto a visão em sua face, encontro-a, com um sorriso tímido, esperando algo de mim, eu não sabia o que falar, e muito menos como me expressar, então timidamente sorri. O resto eu não conto, pois a partir daqui, se tornou um sonho, um sonho que eu quero sonhar, sonhar, sonhar, e sentir…
- A miragem refletida no céu
Ainda lembro-me quando tu cruzaste aquela porta, como uma brisa ocasional levada junto com as folhas soltas e secas, vi teu cabelo flutuar naquela tarde de outono, o teu laranja misturou-se com o alaranjado entardecer daquele dia. Tantas vezes tens passado por mim, que quando cruzei em seu olhar percebi o mais raso e puro rio esverdeado, cintilante, cheio de vida. Quando olhava tua pele, parecia acariciar o mais sensível tecido já criado, quando te abraçava, sentia a mais gostosa das sensações, conforto, amor, paz, tranquilidade, porém, é uma pena, pois ao te soltar, vi que desapareceste como uma simples nuvem, e que na verdade, você era a própria mãe natureza, que eu sempre admirei. Você existe de forma natural ou a natureza é seu existir? volta aqui moça.
- Naturexistência
Ar frio, tempo úmido, folhas secas, céu pintado com lápis cinza, o inverno se aproxima. O mundo foi pintado com variações de cores, do tom simples ao mais complexo, mistura de cores que formam novas cores, como o marrom da terra e a pureza translucida do rio que corta essa floresta quase sem vida que se aproxima do inverno. A floresta chora por perder sua cor laranja que mais parece um pôr do sol sem fim para o branco da neve desse turbulento inverno. Estou aqui apenas vendo o laranja desaparecer juntamente com algumas esperanças, e o branco assumir o lugar com um total desespero. Todas as cores são belas, mas umas assustam mais que outras, como às escuras que podem representar tanto a noite como o coração de algumas pessoas, ou o verde, representando a vida e o amor no coração de muitos. O meu sempre foi cinza, como esse céu nublado, talvez seja pela ausência de esperança, ou assim como essa floresta, tive tudo tomado de mim. A vida é construída por uma caixa de lápis de cor, onde algo ou alguém constrói o tempo de cada tom, se isso não for possível, cabe a nós mesmos pintarmos a vida de acordo com nossas necessidades, seja um laranja ardente, ou um cinza mórbido. Não devemos nos desesperar, pois assim como as cores, a vida é um ciclo, se o laranja da árvore ou o meu verde foram tomados, outrora eles voltarão, seja com o outono ou o verão.
O mundo colorido e a cor do meu mundoー
Diversão não está relacionada com outras pessoas, mas sim consigo mesmo. De nada adianta pairar perante multidões, se está tão vazio de si próprio.
Passado ou presente, um estou matando para sobreviver, o outro me mata para continuar a existir. É a lei do mais forte, somente um pode continuar a ter um significado e uma existência.