Coleção pessoal de pe51
Resistência
Quando me cortaram as mãos
usei a boca para escrever;
Quando me arrancaram os dentes
usei meus pés para escrever;
Quando me arrancaram os pés
usei meus olhos para escrever;
Quando me cegaram
usei meus cabelos
para com eles fazer um pincel
a fim de pintar
o que já não me deixavam mais escrever!
Te vejo no olhar das seis
sucumbindo
a tudo que tenho
sem ter nada
para conquistar no futuro.
Te vejo no olhar das sete
contando os dias
como se amanhã
estivesse garantida
a existência do futuro.
Te vejo no olhar das oito
porque ainda sou capaz
de me iludir
acreditando que o futuro virá.
Fico cega à espera do futuro.
Futuro não há.
Eu sou a rainha do teu inferno
sou tua deusa
perdida no tempo
que te procurou
por milenios
até encontrar
novamente
teus braços viris.
Sou a musa dos teus sonhos
a alma que te acompanha
desde a criação do universo
tua fera
teu refúgio
teu alento.
Eu sou tua vilã
mais perfeita
porque compreendo teus sonhos
teus desejos
e perdoo teus fracassos
assim como perdoas os meus.
Sou teu complemento
tua floresta
aquela que chamas quando tocas
tua flauta
na solidão do encantamento
que te tornou um deus
e me deixou humana.
Estou cumprindo minha última jornada
e estarei livre
depois disso
para correr ao teu encontro
e te abraçar
e te beijar
e sucumbir
para sempre
em teu espírito!
Estavas tão vazio
que pensei estavas morto.
Mas o que doeu muito
foi saber que estavas vivo
incapaz de amar
ou distinguir o bem do mal.
As mulheres são navios:
elas sempre estão pensando
em ir embora
mesmo que tenham de enfrentar
Netuno, o rei dos mares.
As mulheres tem ancoras
que as prendem na areia:
filhos, casa, família
mas seus olhos estão sempre
sonhando com um mundo sem horizontes.
Quando as mulheres cortam as ancoras
não pensem que voltam atrás:
vão para longe
bem longe
navegando no alto mar!