Coleção pessoal de pauloforte
Sonho
Á medida que ia percorrendo o vazio, o infinito, olhei para os pés e apareciam pedaços das estrelas que de tanto que havia. Já tinha dado a volta completa e o horizonte simplesmente não aparecia delineado. Só pensava voltar a casa e abraçá-los.
No espaço é difícil distinguir a noite e o ar é muito pesado, por isso decidi fazê-lo em sonho, era mais fácil porque a imaginação é a visão suprema. Falava com a base e penso que até me respondia. um golpe de sorte foi tê-la encontrado a tempo, enquanto cá ando...
ela falava-me de mundos de poeira, só de água e outros de fogo. O da música era o seu preferido. ``É a chave do universo´´- dizia com o seu conhecimento milenar.
Navegando naquele vácuo pude perceber que as coisas mortas é que falam conosco e que na dúvida temos de comunicar com o coração, é assim que se traçam os caminhos dos bons sonhos.
Quando vi que já estava estabilizada perguntei até ela quase se sentir insultada:
- Deus existe? Diz-me.
Ela ficou escarnecida e como se já soubesse a resposta de cor replicou:
- Deus foi inventado por vocês de outra maneira, porque os homens tinham medo e ignorância, á medida que se forem conhecendo eles acabam por se dissipar pois a sabedoria suprime-os, e quando chegarem a essa conclusão eu já lá estarei há muito tempo á vossa espera. Isto funciona assim porque eu não posso percorrer o caminho por vocês.
- Fico contente, por me teres respondido.
No final das contas aquele pedaço inerte valia mais que milhões de viagens na terra, e sabia tanto como o próprio universo.
A meio do percurso estava pronto para a catarse que se adivinhava, eram tantas as perguntas, como os pedaços das estrelas que tinha nos pés, só que tinha o que sempre procurei:
falei com coisas mortas, vi novos mundos, perdi-me e encontrei-me.
A vida é maravilhosa - pensei observando a conjuntura.