Coleção pessoal de PATRICIAVOLPE
A educação salva o pensamento, que salva as escolhas, que salva pessoas, que salva o mundo inteiro.
Terminando meu dia agora, tarde, e indo pra casa com essa conclusão.
Mistura de calor, frio, seco, molhado, verde, marrom...
Cochicho de folhas que se desprendem, se soltam, sem a preocupação de onde pousar.
Árvores despindo-se num silêncio gostoso, sem a preocupação se a primavera há de voltar.
Nesse ar, o cheiro do café, do chá e do chocolate são mais saborosos.
Sim, o cheiro tem sabor, e dos bons.
A cama dificilmente arruma-se e o sofá sempre possui um travesseiro.
Se eu fosse uma estação, seria Outono de carne, ossos e sangue!
Envelhecer é estranho.
Traz-me a estranha percepção de estar habitando um corpo. Sério. Isso é lógico, mas poucas vezes percebido.
Vivemos correndo atrás de coisas, de melhorias. Reformamos nossas casas, programamos reparos no carro, no jardim, naquele móvel. Tudo tem jeito, tudo pode melhorar. Sempre olhamos para fora, nossos olhos não olham para dentro. Não é anatomicamente possível.
O espelho é fofoqueiro, ele entrega, mostra que a vida está passando. E ninguém pode te ajudar nisso. Nem Deus.
Existe alguma oração, reza ou simpatia contra o envelhecimento?
Uma das piores injustiças é essa, quando começamos a valorizar a vida, o corpo envelhece.
Quando aprendemos coisas realmente importantes, quando entendemos um pouco mais, quando melhoramos por dentro, pioramos por fora.
Exploro o espelho, o meu rosto. Observo minhas mãos enquanto seguro o lápis ao escrever essas linhas e vejo as linhas nelas, me comovo.
Sei que vai piorar muito isso, ainda sou nova, aliás, 30 anos é só o começo do envelhecimento. Ninguém pode me ajudar nisso. Vendem-se passagens para a lua mas não para a Terra do Nunca, que pena.
Rugas. Dobras na pele. O que elas mostram? Será genética? Cada um está predestinado a ter essa ruga ou aquela nesse ou naquele lugar? Depende do corpo ou do que se aprendeu, do que a pessoa já passou ou onde viveu?
Rugas contam algo?
Parece que estou com mais dificuldade para ler do que antes, preciso ir ver óculos. Mas tudo bem, uso muito meus olhos, deve ser por isso.
Mas porque raios o fio de cabelo perde a cor? Qual a lógica disso? Desnecessário.
Quando vejo uma pessoa idosa, rugas a mapear o corpo todo, cabelos sem cor, músculos e ossos debilitados e usados, percebo em seu olhar algo misteriosamente grandioso. Quanta coisa essa pessoa aprendeu, viu, presenciou, sentiu, guardou. Como uma caixa velha que guarda luz. Sim, e deve ser angustiante ter tanto para falar, para contar, ensinar e não ser ouvido, não ser reparado, ninguém perguntar.
Os mais velhos, deviam ser exaltados pela família, pelos descendentes. Devíamos colocá-los em poltronas reais, no melhor cômodo da casa, com os mais diversos mimos e nos dividir em horários para ficarmos um pouco mais com esses poços de vida, pois logo eles secam, e nós burros nem fizemos questão de tomar um pouco dessa água tão valiosa. Talvez seja essa a água que um dia irá acabar.
A percepção do tempo também mudou bastante. Antes, um ano demorava mais para passar a meu ver. Hoje quando me dou por conta o dia acabou e nem fiz o que precisava. Isso também é comum a todos. Tudo fica meio acelerado. Não dou conta.
Sabe, não lembro muito bem, de forma clara e separada de meus 22, 23, 24, 25 anos por exemplo. Lembro-me mais dos 2, 3, 4, 5 anos de minha filha. Isso é bom e ruim ao mesmo tempo.
Percebi também que ultimamente perdi o interesse em ler sobre economia, política e afins. Revistas e mais revistas chegam em casa, jornais, assinaturas que fiz e pago em prol da informação. Já fui fanática nisso tudo. No caos. Já escrevi para revistas e jornais, opinei, tomei parte, formei opiniões, ganhei elogios por isso, às vezes fui atacada, mas eu gostava. Hoje parece que não mais.
Não por decisão, pois não decidi parar de ler sobre isso tudo, foi acontecendo, eu acho. Ainda leio as vezes, como por obrigação.
Vivemos, convivemos e dependemos de toda essa porcaria, dessas informações distorcidas sobre tudo, sim, porque nunca vi tanta informação e pessoas tão mal informadas.
Parece que quero ler o que me faz bem, o que me faz sonhar, o que me acrescenta algo como pessoa. A vida esta passando lembra? E no que todo esse coquetel de informações mentirosas, opiniões cheias de sabedoria da atualidade irão me ajudar quando minha vida passar? O que vou falar para minha filha e netos quando me colocarem naquela poltrona real? Sobre como o presidente roubou em minha época?
Não! Por favor. Há de ter algo a mais, alguma informação valiosa que não seja da atualidade, que não envelheça comigo, algum ensinamento sábio que não fique ultrapassado, aquilo que soma sem perceber. O que intriga a alma normalmente não é calculável em números.
Quando eu estiver idosa, com rugas a mapear todo o meu corpo, meus cabelos sem cor, meus músculos e ossos debilitados e usados, quero ter um conteúdo brilhante. Um olhar grandioso. O que faltar de cor em meus cabelos terão em minhas tatuagens. Sim, com rugas e tatuada. E daí? Enrugados todos ficarão, eu pelo menos farei parte dos coloridos. Ora, porque a vida pode marcar meu corpo e eu não?
E quando eu falar quero que seja sobre coisas que tocam a alma de quem as escutar. Não importa se serão palavras bonitas ou palavrões, palavras difíceis ou simples, mas elas precisam ter consistência, sentido, sentimento. Sei que a probabilidade de alguém querer me ouvir também será mínima, mas sabe, existem vários tipos de inteligências. Talvez eu ainda encontre pessoas sentimentalmente inteligentes.
É estranho. O corpo não é mais o mesmo do qual eu me lembro, e amanha estará diferente de hoje. Mas o eu, continua o mesmo, me sinto a mesma de quando queria fazer 18 anos para tirar carteira de motorista.
"... Em um mundo contraditório, em um tempo apressado e sem dó.
Não podemos isso. Talvez aquilo. Mas não totalmente.
Sociedade ilógica, chapada. Aceitam mas não querem. Gostam, mas nem tanto. Contraditório.
Meu corpo, meu conteúdo. Meu. Não julgue minha casa se nunca a visitou. Não me condene querido júri, não comi a maçã, mas não vejo porque não comê-la."
Patricia Volpe
Salto alto, bico fino, seriedade.
Ela pode de verdade.
Salto baixo, seriedade disfarçada, insinua conforto.
Ela está na ativa, mas não quer confronto.
Sandália alta, pele a mostra, frescor.
Mistura de menina, sensualidade e cor.
Sandália baixa como quem não quer nada,
Rasteira e presente, a feminilidade calada.
Prontidão para qualquer situação.
Botas com salto ou sem salto, cano baixo ou alto.
Tênis também se encaixa, relaxa.
Não importa cor ou marca, ela é despojada.
Há aqueles que não entendem,
Quantos pés cabem em uma mulher.
Chinelos, pantufas, descalças.
São pés e mulheres que não acabam mais.
Quantas mulheres cabem em um par de pés, quantas uma pode ser.
Em seus sapatos elas podem aparecer.
Patricia Volpe
Um sábado qualquer de sol, uma xícara de café bem feito, uma rede, um bom livro para viajar, uma casa cheia de querer, de música humana e daquela que vem dos animais, horas disponíveis sem compromissos assumidos, a presença calma de quem nos ama sem julgamentos, daqueles que amamos porque é impossível evitar amar. A fé que transborda internamente sem verem, sem o pleno controle e conhecimento absoluto de fundamentos.
Quero mais o quê? Do que mais se precisa?
Às vezes não temos a escolha.
A vida simplesmente vai lá e decide, decreta.
Sem chances de negociações.
Democracia zero.
Patricia Volpe
Raros são aqueles que valorizam nosso sol quando estamos nublados.
Que percebem todas as cores de nossos olhos.
Todos os relâmpagos de nossa mente.
Todos os cheiros de nossa pele.
Todas as lágrimas engasgadas.
E por terem essa percepção, sabem nos acarinhar a alma.
Nos curam, às vezes com apenas uma palavra.
Trazem alívio e não mais e mais tempestades.
Esses, são raros.
Patricia Volpe
No desespero por viver, acabamos vivendo em desespero.
Dia após dia, sempre em busca de algo do amanhã em um jogo de marcas.
Nós marcando as horas, os dias, o tempo...
E o tempo nos marcando.
Bárbaras controversas humanas.
Jogar risos aos céus, ao norte, ao sul, ao leste e oeste...
Tudo volta para nós...
Queria, de repente, receber uma brisa gargalhante.
Falta 'quentura', como dizia minha vó.
Falta a falta de ar.
Falta entranhas nisso, ventania estomacal.
Falta o pecado.
Morte à prestação, asco disso!
Menu do dia:
Aproveitamento de tempo - economia de vida.
* Descrição do prato: Não manobre seu coração em ruazinhas esburacadas e banalmente remendadas, seu coração não tem seguro. Fuja de ruelas e becos, é foda, volta e meia, ter de dar meia volta.
Não dá para desconhecer pessoas.
(infelizmente)
Não dá para sermos perfeitos.
(sinto muito)
Se arrependimento matasse, já haveria vacina.
(então erre mesmo)
Para vai. Julgar é feio. Cuidar da própria vida é jóia.
(uuuiii).
Não duvide de fé.
(nem alheia nem da própria).
Fé é perigosa. É nossa força e nossa fraqueza.
(uuuiii x 2).
Tome um café quente.
(ocupe a boca com algo que preste)
Viva uma vida quente.
(assim esquece a vida dos outros).
Cuidado com gente boazinha e cheias de verdades, é quente.
(uuuiii x 3)
No começo faz falta. Dói. Sentimos muito.
Depois não sentimos mais.
A ausência é preenchida por outras coisas, outros compromissos... Outros.
E a dor da ausência, assim como o seu causador, não é mais presente.
Patricia Volpe
As pessoas irão dizer que você não consegue, que não serve.
As pessoas irão te desanimar. A vida irá te desanimar.
Normalmente as pessoas que deveriam estar ao seu lado são as que mais irão te prejudicar. Isso dói. Dói muito.
Você irá mudar de ideia sobre tudo várias vezes.
Vai perder sonhos, realizar sonhos, esquecer alguns deles, trocar um sonho por outro, depois destrocar de novo, vai bagunçar todos, de repente vai achar que não dá para realizar mais nenhum...
Você terá vontade de provar para todos, depois vai se chatear, aí vai entender que não importa.
Pode ser que queira se vingar, abandonar, se afastar, ficar de mal, isso é normal.
O verdadeiro sabor da vida está nas superações.
Naquele suspiro depois de seu próprio choro.
Não se trata dos outros, trata-se de você.
Da sua consciência e da sua satisfação em saber que fez o certo.
Não se nasce vencedor. A oportunidade o faz.
Você vai se fortalecer, redesenhar, buscar trajetos.
Aí vão dizer que você não é quem se diz ser.
Muitos dirão que você não é verdadeiro, que se acha o dono da razão, o rei da falsidade montado em um unicórnio enfeitado com princípios baratos.
Razão. Procure a sua. Apenas a sua razão. Suas razões.
Você irá morrer só. Ninguém irá morrer por você.
E levarás contigo apenas você.
Quem você foi.
Quem você é.
O que você sente e sentiu.
Sua bagagem será valiosa ou oca?
Se você morresse hoje a noite...
Teria orgulho da vida que levou?
Patricia Volpe