Coleção pessoal de Pathigino
Tenho asas de menino que vê desenhos em nuvens, que na esperança se mantém voando mesmo com pés firmes no chão, porque o voo mais alto é aquele que de olhos fechados realizamos de mãos dadas.
Gente grande deseja o fim do caminho, d’outro lado vento empurra, chão que não deseja a queda, o medo e sua vontade imensa de nos paralisar, marcha ré, muro alto, rio profundo, da montanha assisto a tudo, de lá de cima águia, asas imensas, das portas fechadas não me lembro de nenhuma, elas estavam lá claro, e daí, havia sorriso, gente de mãos dadas, o horizonte acolhedor, do NÓS.
Um dia sei que meu coração não conversará mais comigo, sei que meus pulmões deixarão de reclamar, meus pés não quererão mais o caminhar, minhas mãos suaves acenarão com prazer o adeus e tudo fará mais sentido, em alguns momentos começo e não quero parar, em outros começo e tudo que desejo é recomeçar, nas certezas das histórias que já se foram, a chuva sempre passa, as certezas não existem, nem as das chuvas, nem as nossas. O todo, o tudo e um pouco mais.
Minha imensa gratidão a todos aqueles grandes mestres que tenho tido o privilégio de encontrar, alimento para continuar seguindo adiante, pequenos ou grandes, jovens ou maiores de suas idades, homens e mulheres em sua plenitude, sorte desses meninos e meninas que poderão a partir desse encanto transformar suas próprias realidades, as nossas e a do todo que conquistarão.
Aqui, habitamos o mundo do que é possível, é no mundo das possibilidades que o movimento se perpetua e é no mundo do movimento que as transformações ocorrem, há pessoas que passam sua existência transitando no mundo do impossível, lá, nesse lugar obscuro, no mundo das impossibilidades, mora o nada, as tristezas da omissão.
Levanta, ergue teus braços, reclama do que ainda não foi, da promessa não cumprida, do prato vazio, sai desse lugar, te move!
Já não sei mais o que dizer ou a quem dizer, já não há mais palavras, não existem mais linhas, cadernos ou canetas, basta o silêncio, o nada, a ausência.
A verdade inventada..., ora, a verdade é sempre inventada, ilusão do mundo, o vazio de cada um de nós, o dito, repetido, o lugar daqueles que nunca foram, o nada existente na conveniência do mais forte, sigo no mundo, desejo o silêncio que outrora minha alma sonhou, nesse lugar o todo, o permitido para todos nós, a vida.
No aprender mais infinito de que a vida plena só valerá ser vivida se no hoje, nesse agora, algo novo deve acontecer, não saio de casa hoje para repetir o que ontem já foi feito, que saiamos a cada novo dia para fazermos o diferente, pois se repetirmos o ontem de que valerá o hoje.
É preciso pisar no chão, descalços, todos nós, pés no solo amado, sentir o incomodo das pedras, o frio, o calor, o conforto e o carinho, o abraço aos dedos de terra mãe tão gentil. É preciso sair às ruas sentir o cheiro daquilo que desconhecemos, daquilo que achamos que conhecemos, é preciso estranhar o estabelecido, o posto e o imposto.
Calçados estamos, desatentos, ou muito, a nós mesmos, cheios de pressa, alguns de bota, outros de chinelos, tênis, sapato, todos bem abotoados, presos, amarrados, não tocamos a poeira virgem de pés descalços, não sei a dor que sentiria, ou o sorriso ingênuo que daria, não conheço o abraço, não sei calor ou frio, sou cego, surdo e mudo de paladar e tato inexistente.
Vivo repetindo, multiplicando, aderindo, calço sapatos que me protegem, uso calças e blusas, coloco meu casaco de general, gorro e guarda chuva, dia de sol, praia, chuva, lua, o mais em si mesmice do mesmo de todo dia. EU...
Ousa, o mais que puder, enxerga, escuta, senti, vem em minha direção, sorri e segue adiante, tira, pisa.
Não me deixe negá-las porque tolo sou, me permita ver com olhos cerrados aquilo que ainda não enxerguei, me permita tocar de mãos atadas aquilo que ainda não senti, me permita ouvir surdo o que ainda não escutei, o paladar de novos temperos, o cheiro amável do que me cerca, que alegria, as possibilidades do vazio, do não sei enorme que se une ao nada, do todo em construção, do eu contínuo, do nós absoluto, do tudo eterno. As possibilidades!
Ora, o silêncio.. invade as mentes e soma-se a todos os sentidos, multiplica as sensações onde palavras não fazem sentido, no que há valor, não necessitamos de palavras, faladas ou escritas, o palpitar dos corações, o olhar puro da criança, o amor verdadeiro, o brilho da lua, o mergulho no mar, as mãos em concha com a água alimento da vida, o afago no rosto carente, a lágrima de quem deixou saudade. O silêncio.