Coleção pessoal de ovclvs
Depois daquele verão, eu nunca mais fui a mesma.
Com o mesmo cabelo, a mesma voz, as mesmas lembranças.
Mas quem era aquela pessoa que eu conhecia?
Sou a única que me conheceu antes do verão,
e tenho certeza: essa coisa agora não sou eu.
Não sou gentil como deveria ser.
Quanto mais gentil as pessoas são consigo mesmas,
mais permissivas se tornam com os outros.
Nessa rede de concessões, perco-me, perco meu ser.
Ninguém conhece ninguém, nem mesmo a si próprio.
Estamos em constante metamorfose, um rio que nunca cessa.
Busquei ocupar minha mente com distrações, mas, na verdade, estava fugindo do que me atravessa.
O caos me cerca como um corvo sobrevoando, sombrio e persistente,
a me espreitar nas sombras.
E embora eu tentasse escapar, meu coração sempre voltava.
Me cercando do completo vazio ao redemoinho da tormenta,
onde minha força e fraqueza se misturavam.
O tempo todo é tempo demais, assim como a fidelidade de construir uma arca para sonhos perdidos e, por descuido,
esquecê-la por décadas, enterrada na penumbra dos anos esquecidos.
Terei paz quando renunciar, quando admitir minha fragilidade.
Mas isso não iria me trazer a verdadeira felicidade,
apenas a obediência, a rendição silenciosa.
Uma aceitação sem alegria, uma paz espinhosa.