Coleção pessoal de outrosonhos
Ela escreve.
Eu escravo.
Ela tem métrica
Eu só faço em verso
porque acho bonito.
Ela deve conhecer uns cinco países.
Eu conheço o bar com a cerveja mais barata do bairro,
e cá pra nós,
já nem está tão barata.
Ela faculdade.
Eu facultativo.
Ela fala três idiomas.
Eu acho que nem português sei falar direito,
porque às vezes o dono do bar não entende o que eu falo.
Ela escreve no quarto.
Eu depois do quarto copo,
escrevo no guardanapo,
usando o balcão do bar de apoio.
Ela breve.
Eu bravo.
Ela clama
Eu reclamo
Pra ela amor acaba
pra mim amor é escambo.
Ela diz que caibo no seu canto.
Eu de canto, canto. Me aproximo aos tantos e no entanto
Ela tem pressa de ser feliz
Eu tenho um peito que não é pressa, é presa fácil.
Ela se lembra.
Eu silêncio.
Ela se queixa
Eu me encaixo
Ela excede
Eu escasso
Ela merece
Eu marasmo.
Ela tem modos,
Eu tenho medos.
Ela tão tarde
Eu tão cedo.
Ela já sabe.
Eu já disse:
Ela escreve
Eu escravo.
Ela com suas palavras
Eu com as minhas.
Ela só não sabe que
Eu sou quase seu inverso,
e mesmo controverso, confesso:
Eu gosto mesmo é quando a gente
U N I V E R S O S
Pequeno o mundo não é, mas quando a gente quer: parece que qualquer distância da pra prosseguir a pé.
Se vocês ainda pensam que greve, protesto, ocupação é brincadeira: Cuidado pra não ser rato que aplaude a ratoeira.