Coleção pessoal de OsicranAkdov
Transolhar
(ou olhar transmoderno)
No fundo
do olhar
o findo mar
no infinito
do sal
da lágrima
da rima
final.
Canto translírico
Eu canto teu canto,
tu cantas comigo.
Eu canto um pranto
se dividido contigo.
Eu canto.
Eu canto o tempo
que me resta
nos teus olhos.
Eu canto a sina
tua, minha
nos meus versos
findos.
Eu canto ainda.
Canto do tempo
O tempo
não tem sinônimos,
não tem antônimos.
O tempo é
simplesmente
um de cada um.
Quanto corre
o tempo
de cada um?
Não se sabe.
Nem conta
um,
nem outro
sabe contar.
Faz tanto tempo,
que ninguém conta!
Mas eu canto
o tempo que tenho,
muito ou pouco,
porque o tempo
me ensinou a cantar.
Sim,
nós,
poetas,
temos o combustível
da geração das estrelas:
a poética da vida
no profundo
e no transfundo,
porque
jamais nos situamos
na superfície.
"A Arte está na sutileza do que o artista não revela, apenas deixa imaginar. Eis o mistério da beleza!"
Ego transmoderno
Toda palavra
que um poeta diga
triste
ou contente
é só pra mim
que ele diz
igual me diz
silente
me paralisa
o olhar
da Mona Lisa.
Ama sem medida,
sem medo,
hoje, e sempre,
que o teu segredo
de amar assim
guarda o mar
em seu perigo
sem fim;
guardo comigo
o teu olhar de ontem
que hoje me diz sim,
e amanhã me diz de mim;
guardo contigo a poesia
do amor deste dia.
TRANSVERSOS
Tinha uma pedra
no meio do caminho
Tinha um poeta
caído ali
Tinha no coração
uma rima infinita
Tinha sua
desatenção
Nos olhos
tinha um poema
em linha curva
Tinha as mãos
nas mãos
que não tinha
Tinha o rosto
pintado no chão
Tinha debaixo
a sombra sangrada
Tinha ao lado
outra cara
que também tinha
levado porrada
E bem longe
da alma
outro corpo
que só
não se salva
Tinha o sonho
nos braços
de um anjo
aos pedaços
sonhado ali
Tinha uma pedra
no meio do caminho
Tinha um poeta
caído ali
mas não foi a pedra
não foi a porrada
O poeta caiu de si.
Poética transmoderna
Por onde o poeta pisa,
abre-se
um verso em agonia,
e, aberto, avisa
que num caminho
amor
só dura um dia.