Coleção pessoal de oannaselten
A poesia nos vincula ao imo, etéreo e imaterial, de nós mesmos. Deste modo possibilita-nos a autotranscendência. Contudo, de nada serve este elo se não há consciência alguma de sua constituição. Assim como a razão e a emoção, quando dissociadas, são inúteis.
Veja-me sempre no transcender da tua própria singularidade, ou ver-me-á com as lentes de tuas idealizações, sentimentos e vivências; não se abstendo de si, verás meu semblante como um espelho distorcido e, quando a tua ilusão se extinguir - dado o caráter efêmero da utopia - derramarás tua culpa sobre mim ainda que saibas, medianamente, que toda a responsabilidade pertence-te. Então tu te emergirás na inautenticidade, apanhando todo e qualquer entretenimento que torne mais inconsciente o teu autossacrilégio a ponto de, no acúmen da cegueira voluntária, sofreres da morte - a mais angustiosa morte - aquela que se efetiva contígua à vida.
O "outro" é senão o nosso depósito egoísta, e se "egoísta" é um termo demasiado terrífico a nós - tanto que nos leva a negá-lo com uma veemência suspeita; então, talvez, o tenhamos com tanta familiaridade que assusta.
Suspender os seus juízos sobre as coisas do mundo, não as aceitar como verdades ou mentiras absolutas; olhá-las em busca de compreendê-las como são, exatamente como são em sua essência. Eis aí o ponto de partida da arte da compreensão existencial.
O “nada” assusta somente porque não existe uma consciência sobre ele e ao nível dele. A humanidade com a sua consciência retrograda não é capaz de compreender o “nada”.