Coleção pessoal de noi_soul
É chato ter consciência de que sua escrita não é boa o suficiente. Não é boa o suficiente para quem? Para os parâmetros que eu mesma me impus. E vejo que não escrevo nada com nada e o sentimento apenas não reside nas palavras ou em suas junções como eu gostaria… fim. Sem finalidade. Sem vontade de se expressar ao mundo como vivem em mim.
estou bufando Poesia
cagando Poesia
arrotando Poesia
quem diria!
num tô me aguentando
tô arrebentando de Poesia
esta magia!
me agonia
me aperreia
me fantasia
de melodia
estou vomitando Poesia
tá vendo?
até nisso ela me atormenta
quem aguenta?
estou muito insana
de Poesia
a barriga continua vazia
mas o coração se alimenta.
Perna exausta de um coração quase desistente
flagrante ensejo de ser
quando não se é
nem se está presente
o oculto encerra tempestades
as ideias desabrocham em imagens
e as bolhas do tempo
ao relento
apenas descobrem-se nelas
nas estranhas e doces passagens
ainda escuto o vento
cantando seu silencioso lamurio
para a multidão correndo em desvario:
ninguém sabe aonde vai
mas todos persistem
insistem
na brutal essência do existir
como a amálgama de uma conta
entorpecida em si mesma
não enxerga a beleza
dos arredores
dos corredores cheios de flores
das estradas cálidas
das nuvens pálidas
da areia a escorrer minutos…
não-poesia¡
formas geométricas harmonizam-se
na face do belo escultor
são letras Vivas de vivências
são traços de amor e de dor
a voz é o que se escuta
da alma-corpo-coração
a arte é a escultura
do que vive esta nação
o olho que enxerga e vê
o ouvido que ouve e sente
a pele que mora e lê
o peito que grita não mente:
- queremos comida no prato
- queremos tal paz e harmonia
- queremos expressar a vida
- queremos pulsar Poesia!
poema in-vertido
de todas as mais belas maneiras
ver frutificar a vida
deixar os sonhos espalhados pela estrada inteira
sentir o gosto do perfume da bela roseira
enquanto corro com os lobos no caminho de pedras
meus passos vagam soltos:
… na busca pela quimera
o grande desafio não é viver
é ser genuína em cada olhar
é estar presente em cada amanhecer
é pulsar de amor outros corações
é distribuir sorrisos a quem encontrar
eis alguns das minhas mais doces a l u c i n a ç õ e s…
A poesia resiste
Persiste
Insiste
Dentro e fora de mim
A poesia é alma
Acalma
Espalma
Sua veste sem fim
A poesia flutua
Nua
Crua
Entre o não e o sim
Há poesia!
Ah, Poesia!
A poesia vive, enfim!
noi soul
Pulsão Poética
a arte me rasga
e me costura
então, apresenta a cura
para além da casca
amargura
vivente dentro de mim
a arte me goza
e me expele
então, sustenta a pele
para além da coça
repele
a queda sem nunca ter fim.
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noi soul
Pulsão Poética
tem quem se afaste de você
por não suportar suas sombras
tem quem se afaste de você
por não suportar sua luz
os que permanecem ao seu lado
apesar das suas contradições
e complexidades
podem ser chamados de
verdadeiras amizades...
vaguei pelas sombras alheias
até descobrir o meu verso
viver imersa em arte
é meu lugar no Uni-verso
[redes]coberta
estou seca
ressecada sem a seiva
a nutrição já não enseja
fazer parte de mim
amarelada desde o caule
fino trapo me desnuda
sou flor distante e muda
no chão deste jardim
estou seca
ressecada
ressequida
sem alma, corpo ou vida
pelas veias do meu ser:
a água sumiu do xilema
a fibra vedou meu floema
nunca pude acontecer!
resta-me agora a palavra
filha sou desta lavra
adubo transformado em brasa
desvendo em mim o poema
que nunca pude fazer…
quando digo que não tenho religião, algumas pessoas se espantam e desejam me converter à sua, algumas pessoas se aborrecem e afastam-se, outras pessoas dizem que ainda encontrarei meu caminho e há ainda aquelas que aplaudem.
não me importo com nenhuma reação, se elas respeitam o limite do bom senso.
o que eu desejo mesmo é que as pessoas compreendam que aquilo que faz bem a elas (e faz sentido para elas) não necessariamente satisfará ao outro.
se cada um pudesse cultivar o melhor que sua crença prega, talvez o mundo fosse mais bonito.
não é inteligente, nem honesto, nem respeitoso ficar com proselitismo.
gosto de pessoas que conseguem dialogar sobre diversos assuntos sem precisar ser a dona da verdade sobre nada. gosto de pessoas que estão abertas às possibilidades da vida, da existência, gosto de pessoas que celebram a vida de forma a comportar que o outro também a celebre a seu próprio modo.
é bom ver diversidade em todos os aspectos da vida!
o colorido é a cor mais bela...
...
reflexões de um dia frio de sol no céu.
o que percebo é muito pouco. minha visão de mundo é limitada. a sua também, não se preocupe. e não tem como ser diferente, porque não temos o superpoder de estarmos em vários locais ao mesmo tempo (a internet até nos dá a ilusão de que podemos, mas a qual profundidade?).
tem gente que acha que sabe mais da minha vida do que eu. ledo engano! não há como... é realmente uma conta impossível.
só eu posso ver do meu ponto de vista a partir das minhas inúmeras experiências até aqui.
e só você pode ver do seu ponto de vista a partir das suas próprias experiências até aqui.
nisso enxergo a preciosidade dos encontros e dos diálogos, a oportunidade de conhecer universos tão diferentes e complexos (e de se deixar conhecer).
provavelmente eu morrerei sem me conhecer por inteira (e olha que sou a pessoa que mais me conhece), então, qual sentido há em alguém inferir algo a meu respeito por pouco mais de meia dúzia de palavras ditas (ou escritas)?
... o que eu queria dizer hoje é apenas uma reflexão que me cutucou mais cedo: não permita que o outro rotule você ou diga o que e quem você é.
muito fácil querer dominar o espaço e a vida alheia e fugir de si mesmo, enquanto pensa que o outro deve ser subordinado aos caprichos do seu próprio ego...
mais uma vez, repito: bom seria se houvesse respeito à beleza da diversidade!
quem sabe um dia esta utopia já não precise ser sonhada.
eu não dou conta de mim
por isso deságuo em letras
nas minhas estranhas certezas
deixo o rio brotar
a água, fluida de grandezas,
devolve a alma à presa
até a dor passar…
límpida
serena
viva
renasço
[escrever é meu desaguar… ]
a vida é claudicante
não devo exigir dela estabilidade
a vida é movimento
não devo cobrar dela inatividade
a vida é corda bamba
não devo exigir dela tranquilidade
a vida é emoção
não devo cobrar dela frialdade
a vida é estranheza
não devo exigir dela banalidade
claudicante
movimento
corda bamba
emoção
estranheza
a vida é esta completa cinesia:
entrego-me a ela
faça noite
ou faça dia…
como se estivesse na ponta de uma fraga
os pensamentos e sentimentos misturam-se
e vivem perto
e coadunam-se sem cessar:
o luto de um amigo querido
por seu filho assassinado
rapaz mais moço do que eu
ainda não tinha 30 anos
[dor, horror, tragédia]
e, ao mesmo tempo,
vejo a vida florescer
nos olhos de um novo bebê
levo poesia transpondo o oceano
conheço jovens inspiradores que
buscam refúgio na arte
[respiro, suspiro, aceito]
estradas à frente
notícias, alarme!
bombeiros, ajuda, aviões de resgate:
irmãos se afogam no leito da chuvas
não cessam as gotas nem as dores
[desespero, tristeza, impotência]
viver e ser humano
tão consciente de tudo
de todos, daqui e dali
e saber que
… uma angústia
não respeita outra
e a alegria também não perdoa
a mente e o coração tão confusos
por viverem lutas, gozos e lutos
no viçar do dia que ecoa…
...
trabalhar com palavras
mergulhar em sentimentos
costurar mágoas e alegrias
em versos e pensamentos
transportar a outros mundos
na ponta da imaginação
envolver em tantas tramas
pulsando o coração
antes de amanhã
ainda tem hoje
a vida não perdoa
o transcorrer contrário das horas
simbora!
viver o agora
é chama que acende
a fogueira da alegria
no coração.
seja perene
insistente em teimosia
de amar este dia
como se derradeiro fosse
escute o tinido
da velha esperança
entre na dança
desta danação!
sofra enquanto há sofrimento
brinde quando chegar o alento
viva o instante
antes
da morte
e, com sorte,
ainda poderá lembrar!
há um poema em meu armário
vou catá-lo
e vestir seu tecido sobre minha pele
[há instantes de inexistência]
apesar das aparências
ainda estou transvestida
pelo seu olhar.
como pesa deixar ir:
estou tão agarrada aos meus pedaços
no compasso de uma dança destemida
tudo se torna fragmento de mim
mãe
pai
irmã
irmão
filha
filho
todos são peças do meu quebra-cabeça particular
e o adeus dilacera um pouco mais
o que ainda resta dentro da garganta:
estilhaços de uma voz emudecida
pela despedida
das partes do meu espírito que
ainda sonham
vejo os olhos deles pela última vez
mas nunca sei!
até que um alarme soe e me avise:
outra parte de você
se foi…
[nunca existi inteira
agora
sou a peça derradeira]