Coleção pessoal de NogueiraLife

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⁠Consciência da depravação.

Governos, instituições, empresas e qualquer outra estrutura que acumule algum tipo de poder são geridas por homens. O que surge dessas diversas relações dos indivíduos em uma sociedade é a política. Por ser essencialmente um reflexo do relacionamento humano, tal ciência moral normativa não fica imune à maior chaga da natureza humana: a depravação. Logo, independentemente de suas inclinações morais, filosóficas ou ideológicas, o homem, em algum momento, será seduzido pelo mal que está presente em seu ser. Mesmo diante da escolha de trilhar um caminho virtuoso, justo, reto e ético, a sombra que habita o espírito humano exercerá sua influência e, potencializada pelo poder político, econômico ou social, irá desvirtuar, desnaturar ou deteriorar suas ações. Perceba, mesmo o mais justo ou santo possui essa chaga. Divinizar o homem, esquecendo de sua natureza depravada é um erro crasso. É considerar que uma árvore envenenada sempre dará bons frutos. Esquerda ou direita, liberal ou conservador, cético ou ideológico, o homem permanece homem. Não esqueçamos que a real confiança está na Verdade, no uno transcendente, no bom por essência e excelência, no Rei dos reis e Senhor dos senhores, a real confiança está no Pai.

⁠Livre arbítrio é a capacidade de escolha racional, dotada de responsabilidade, dentre as diversas possibilidades existentes nas relações entre os existentes.

É racional, pois se assim não fosse, seria produto de outra coisa e não do intelecto agente adequado a realidade. Como uma pessoa acometida de distúrbios psicológicos completos, que retiram sua consciência.

Deve ser responsável, pois se assim não fosse, estaria, invariavelmente, sendo impelida por uma vontade exterior, ou seja, um meio ou ferramenta para determinado fim. Como, por exemplo, uma pessoa forçada, mediante grave ameaça, a entregar algum bem.

Por fim, esta escolha, necessariamente, deve existir anteriormente a sua conjectura/consideração pelo agente. Estando sob a forma de uma possibilidade inerente a um existente específico ou a uma relação entre existentes.

⁠Nós, seres humanos, somos compostos por uma tríade: corpo, mente e espírito. Privar-nos de qualquer parte desta composição leva a diversas vicissitudes, que por sua vez conduzem a morte, física, mental e espiritual.

A privação ou abnegação do corpo pode ser comparada a total falta de cuidado para com o aspecto biológico humano, o que, se levado a condições extremas, provoca a morte física.

A morte mental, por sua vez, talvez seja comparável a ignorância patológica, que priva o homem de sua cognição e racionalidade.

Já a morte espiritual, por fim, é caracterizada pela ausência de significado na existência do ser, mutatio mutandis, ausência de conhecimento da causa final do ser. O que guarda relação com perguntas elementais como as indagações a respeito do sentido da vida. Afinal, para que existimos? Vivemos e sofremos? A ausência de um norte, um fim, um objetivo, uma causa maior, conduz o homem ao desespero quando diante do sofrimento.

Esse estado, digamos que, espiritual negativo tem sido a chaga do século XX e XXI. Vivemos em uma sociedade materialista, modernista, onde o plano espiritual tem sido negado e tolhido em prol da disseminação de toda sorte de ideologias onde o homem é o centro de todo o cosmos e a causa final. A realidade e a verdade têm sido trocadas pela ideologia e pelo relativismo. A ordem pelo caos.

O homem moderno, amputado de um de seus pilares existenciais, tem substituído o bem, o belo, o amor, o honrado, pela ganância, estética, fama, paixão, poder e toda sorte de vícios, em uma busca por sentido, desesperado por uma janela de escape da realidade de culpa, sofrimento e morte. O que no fim, conduz ao desespero.

⁠Por que você levanta pela manhã?
Para trabalhar. Para estudar. Para comer, etc.

Por que você trabalha?
Para prover sustento, cumprir meu papel social, ser útil, cumprir minha missão no mundo.

Por que devo ser útil?
Para fazer algo da melhor forma possível. Para servir. Para alcançar aquilo em função de que (To kαθ o) um indivíduo é bom, segundo Aristóteles, o Bem.

Por que o bem deve ser atingido?
Para completar o ser, dar sentido a vida, aproximar do bom, do ideal, do belo, do reto, da Verdade.

Por que se aproximar da verdade?
Para ser feliz em espírito e em verdade. Para, novamente, nos aproximar do bem absoluto. Nos aproximar de Deus.

Deus é a razão que motiva nosso levantar a cada manhã

NO CAMINHO, COM MAIAKÓVSKI

Assim como a criança
humildemente afaga
a imagem do herói,
assim me aproximo de ti, Maiakósvki.
Não importa o que me possa acontecer
por andar ombro a ombro
com um poeta soviético.
Lendo teus versos,
aprendi a ter coragem.

Tu sabes,
conheces melhor do que eu
a velha história.
Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem:
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho e nossa casa,
rouba-nos a luz e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.

Nos dias que correm
a ninguém é dado
repousar a cabeça
alheia ao terror.
Os humildes baixam a cerviz:
e nós, que não temos pacto algum
com os senhores do mundo,
por temor nos calamos.
No silêncio de meu quarto
a ousadia me afogueia as faces
e eu fantasio um levante;
mas amanhã,
diante do juiz,
talvez meus lábios
calem a verdade
como um foco de germes
capaz de me destruir.

Olho ao redor
e o que vejo
e acabo por repetir
são mentiras.
Mal sabe a criança dizer mãe
e a propaganda lhe destrói a consciência.
A mim, quase me arrastam
pela gola do paletó
à porta do templo
e me pedem que aguarde
até que a Democracia
se digne aparecer no balcão.
Mas eu sei,
porque não estou amedrontado
a ponto de cegar, que ela tem uma espada
a lhe espetar as costelas
e o riso que nos mostra
é uma tênue cortina
lançada sobre os arsenais.

Vamos ao campo
e não os vemos ao nosso lado,
no plantio.
Mas no tempo da colheita
lá estão
e acabam por nos roubar
até o último grão de trigo.
Dizem-nos que de nós emana o poder
mas sempre o temos contra nós.
Dizem-nos que é preciso
defender nossos lares,
mas se nos rebelamos contra a opressão
é sobre nós que marcham os soldados.

E por temor eu me calo.
Por temor, aceito a condição
de falso democrata
e rotulo meus gestos
com a palavra liberdade,
procurando, num sorriso,
esconder minha dor
diante de meus superiores.
Mas dentro de mim,
com a potência de um milhão de vozes,
o coração grita - MENTIRA!

⁠Se aceitarmos que Deus é infinito em sua bondade, amor e sabedoria, e que tais virtudes fazem parte de seu Ser, consequentemente aceitaremos que O referido deseja o bem para seus filhos, pois é algo natural e imanente. Logo, para absolutamente todos os seres humanos, em algum momento, o Senhor oferta o caminho correto, a luz, a oportunidade, o bem.

Agora, caso aceitemos que Deus de alguma forma se mantém inerte, impassível diante de sua natureza, podemos concluir, impreterivelmente, que sim, é possível existir algum ser que não tenha tido contato com o bem, o bom, que não saiba o que é exercer um julgamento bom, pois lhe falta o referente, a oportunidade, o bem. Mas isso não seria contra intuitivo, caso consideremos que o homem, como um Ser dotado de razão, espírito e alma, tenha ciência do bem e do mal de forma natural? Afinal qualquer criança consegue fazer essa diferenciação. Ora, uma vez tendo ciência da luz e trevas, bem e mal, o referido, logicamente, irá preferir que o bem seja feito para sua pessoa. O cerne aqui discutido é basicamente este: há alguma forma de comprovar que a Sociedade, o Estado, mutatio mutandis, o meio no qual o homem é criado o condiciona para o mal, retirando completamente essa ciência natural de certo e errado e o vitimizando perante suas ações?

Perceba. No fim. Todos nós somos responsáveis por nossos atos. Nossas falhas. Nossos vícios. Nossas idiossincrasias e mediocridades. O vitimismo narrativo moderno tenta retirar essa responsabilidade. Limita nosso ser. Cria indivíduos fracos e sedentos por uma figura salvadora e provedora, que impreterivelmente é preenchida pelo Estado, o novo messias mundano. Não seria esse o carimbo do passaporte para a tirania?