Coleção pessoal de nhmartins
Mesmo num amor de linhas tortas como o nosso, o fim parece um erro, como um ponto final no meio da frase.
36 prestações de saudade
Dizem que tudo na vida tem dois lados. Um bom e outro ruim. Depende nos olhos de quem está a pimenta. Mas se tem algo realmente ambíguo para uma única alma é um troço chamado saudade. Com ou sem pimenta nos olhos. O dito popular é quem melhor traduz a dualidade de uma saudade quando diz que esta é a maior prova de que o amor valeu a pena. Então sentir a falta é bom. E ruim. Em todos os pontos de vista. Vai entender.
Saudade é amar um passado que nos machuca no presente. É uma felicidade retardada. É deitar na rede e ficar lembrando das ardentes reconciliações depois de brigas homéricas por motivos desimportantes. Sente-se falta de detalhes, como uma toalha no chão, dias chuvosos, da cor dos olhos. A saudade só não mata porque tem o prazer da tortura.
Saudade é o amor que não foi embora ainda, embora o amado já o tenha feito. Ter saudade é imaginar onde deve estar agora, se ainda gosta de vinho bordeaux, se chorou com a derrota do Grêmio no campeonato nacional, se tem tratado aquela amiga da elite. E quando a saudade não cabe mais no peito, se materializa e transborda pelos olhos.
Sentir saudade é ter a ausência sempre do seu lado. É mudar radicalmente a rotina, comer mais salada e menos sorvete, frequentar lugares esquisitos, ter dias mais compridos, ter tempo para os amigos, para o vizinho e para a iguana do vizinho. A saudade é a inconfortável expectativa de um reencontro.
Às vezes a saudade é tão grande que nem é mais um sentimento. A gente é saudade. É viver para encontrar o olhar da pessoa em cada improvável esquina, confundir cabelos, bocas e perfumes, sorrir com os lábios tendo o coração sufocado. Porque mesmo a saudade sendo feita para doer, às vezes percebemos que ela é o meio mais eficaz de enxergar o quanto amamos alguém, no passado ou no presente.
Por que a saudade é o muro de Berlim desmoronado no chão, capaz de agregar opostos, como a tristeza e a felicidade em uma coisa híbrida. Se você tem saudade é sinal que teve na vida momentos de alegria com ela ou ele! No fim das contas, a saudade que agora lhe maltrata nada mais é que uma dívida sendo paga em longas 36 prestações pelo amor usufruído. Agora aguenta.
Meu maior medo é viver sozinho e não ter fé para receber um mundo diferente e não ter paz para se despedir. Meu maior medo é almoçar sozinho, jantar sozinho e me esforçar em me manter ocupado para não provocar compaixão dos garçons. Meu maior medo é ajudar as pessoas porque não sei me ajudar. Meu maior medo é desperdiçar espaço em uma cama de casal, sem acordar durante a chuva mais revolta, sem adormecer diante da chuva mais branda. Meu maior medo é a necessidade de ligar a tevê enquanto tomo banho. Meu maior medo é conversar com o rádio em engarrafamento. Meu maior medo é enfrentar um final de semana sozinho depois de ouvir os programas de meus colegas de trabalho. Meu maior medo é a segunda-feira e me calar para não parecer estranho e anti-social. Meu maior medo é escavar a noite para encontrar um par e voltar mais solteiro do que antes. Meu maior medo é não conseguir acabar uma cerveja sozinho. Meu maior medo é a indecisão ao escolher um presente para mim. Meu maior medo é a expectativa de dar certo na família, que não me deixa ao menos dar errado. Meu maior medo é escutar uma música, entender a letra e faltar uma companhia para concordar comigo. Meu maior medo é que a metade do rosto que apanho com a mão seja convencida a partir com a metade do rosto que não alcanço. Meu maior medo é escrever para não pensar.
(trecho de Pais e filhos maridos e esposas II)
Uma ode à vida, por Nícola Martins
Diariamente nos levantamos e quase nunca agradecemos por viver. Quase nunca mesmo. Agradecer por poder respirar, colocar o pé no chão e ir à luta. Viver não é fácil, sem dúvidas, por isso é tão importante que sejamos verdadeiros e façamos tudo com o máximo de empenho, dedicação e amor.
Somos pequenos, somos detalhes em um mundo tão imenso. Nossos sentimentos, emoções, sentidos e ações têm de fazer feliz a nós mesmos, primeiramente. Nunca poderemos compartilhar felicidade se não estivermos verdadeiramente felizes, por exemplo. Estar bem consigo e com a própria consciência traz alívio à alma.
É preciso que os sentimentos bons não tenham medidas. É preciso amar sem medida, doar-se sem medida, dedicar-se sem medida... É preciso que os sentimentos ruins sejam cada vez menores. É preciso invejar menos, odiar menos, tratar mal menos.
Aprendi que antes de criticar uma pessoa, preciso colocar-me na situação. Aprendi a conceder o benefício da dúvida. Aprendi que ainda tenho muito a aprender. E, principalmente, quero aprender.
Nesse desafio diário teremos muitos obstáculos, muitas tristezas, angústias e vontade de desistir. Só que toda desistência traz consigo uma carga de responsabilidade. Você terá de arcar com todas as consequências que essa desistência trará. Quem nunca sentiu vontade de desistir? Seja desistir de uma faculdade, de um emprego, de um amor, de um sonho... Desistir parece ser mais fácil, mas não é.
Hoje, vamos fazer o dia valer. Vamos fazer os sonhos acontecerem.
Diga a quem você ama, que você a ama. Resolva seus problemas com quem você tem problemas. Ninguém merece viver uma vida de mal com alguém.
E, por fim, agradeça por viver. Seja a Quem for...