Coleção pessoal de Nappy
Embora por fora eu aparento calmaria, por dentro, sou o caos. Uma mente que nunca descansa, nem mesmo quando estou dormindo.
É, todos os meus amigos pensam que sou abençoado, mas eles não sabem que a minha cabeça é uma bagunça. Não, realmente eles não sabem quem sou de verdade, não sabem pelo que passei.
Minha mente está uma bagunça, tento organizar as ideias, mas não consigo.
Ela não sai da minha cabeça, ensaio o que falarei para ela, o que eu sinto, o que eu acho das suas escolhas, que embora não concorde com algumas, sempre respeitarei.
Principalmente aquelas que a faça feliz.
Quando você fala consigo mesmo e não há ninguém em casa para te escutar
Quando ninguém que conheço parece poder me ajudar agora.
Foi algo que eu disse ou algo que te fiz?
Embora eu tivesse tentado não te ferir, eu sei que te feri profundamente.
Mesmo que faça um tempo agora, ainda consigo sentir tanta dor, como uma faca que corta a alma. Eu sei que a ferida sara, mas a cicatriz, a cicatriz permanece.
Continuo falando sozinho.
Pego a caneta, tento escrever algo, mas escrever sobre o que, quando se está angustiado, coração apertado e com lágrimas escorrendo dos olhos, molhando o papel.
Conto histórias para mim mesmo, fantasio que ela vai retornar, mas não são histórias e sim mentiras, pergunto a ela em pensamentos. Por que minha mente gira em torno de ti? Mas não obtenho resposta.
“Rabiscos dentro de mim”
Hoje decidi rabiscar, rabiscos dentro de mim!
Rabisco a imagem dela, dentro de mim, com linhas finas e delicadas, que só eu sei decifrar
Rabisco ela dançando, radiante, linda, sorrindo como só ela sabe sorrir, dentro de mim
Rabisco ela menina, mulher, valente, destemida, determinada, corajosa e, ao mesmo tempo assustada, meiga, delicada, amorosa, dentro de mim
Rabisco ela acordando cedo para estudar, trabalhar e, chegando tarde em casa, para conquistar tudo que ela almeja, dentro de mim
Rabisco ela pesquisando, estudando para obter conhecimento, dentro de mim
Rabisco ela com lágrimas de alegria e sorrisos de gratidão, orgulhosa de si mesma, formada pronta para seguir em frente, com empenho e amor, dentro de mim
Rabisco ela em uma poltrona, ao lado de uma cama hospitalar, cuidando de um ser, dentro de mim
Rabisco ela na chuva no frio, assistindo a um show musical, dentro de mim
Rabisco ela em um palco, atuando em uma peça teatral, com tamanha competência, dentro de mim
Rabisco ela com tamanha fascinação, dentro de mim
Rabisco ainda, a imagem de um ser iluminado, peludo, quatro patas, com as mesmas linhas finas e delicadas, dentro de mim
Rabisco ele, chorando, assustado com medo, sentindo a falta de sua mãe, dentro de mim
Rabisco ele acabando com as correias dos chinelos, correndo e se escondendo atrás do sofá, dentro de mim
Rabisco ele pulando de sofá em sofá, latindo na varanda, abanando a calda, sentado em frente a porta, esperando por ela entrar, dentro de mim
Rabisco ele deitado na cama entre ela e mim, apenas atrás de carinho, dentro de mim
Rabisco ele dormindo no meu tórax, dentro de mim
Rabisco ele com um olhar de pidão, que amolece nossos corações, dentro de mim
Rabisco ela e ele, brincando, sorrindo, felizes, dentro de mim
São muitos rabiscos dela e dele, rabiscos que em cada detalhe pinta ela e ele dentro de mim
Rabisco eu mesmo, dentro de mim, linhas tortas que só eu consigo entender
Rabisco as minhas angústias, sonhos, medos, dentro de mim
Rabisco eu mesmo, cabeça pesada, perdido nos olhos e sorrisos dela, dentro de mim
São rabiscos e mais rabiscos, que trago dentro de mim, rabiscados em minha alma.
Hoje pedi perdão para uma pessoa por amá-la demais, pois não quero que ela sinta-se culpada por não me amar, porque amor, não tem que ser implorado, mas sim dado espontaneamente.
Por que que à pessoa que mais amamos é a que mais nos machuca?
E mesmo assim, continuamos a amá-la com uma avassaladora e temível força.
Esses dias não tem sido fácil para mim, deito para descansar, mas minha mente não para, apago a luz do quarto, mas não consigo me desligar, na escuridão do quarto vazio, procuro vestígios dela, para acalmar minha alma, que chora a sua ausência.
Como cortar vínculos com uma pessoa que você ama, mesmo sabendo que será impossível deixar de amá-la, como parar a dor?
Como vê-la com outra pessoa e não sentir dor?
Como acalmar minha alma?
Como abandonar tudo e não sofrer?
Mesmo sabendo que indo embora, aonde quer que eu vá a dor, a angústia, esse sentimento de solidão e todos os outros sentimentos, não me abandonarão, estarão comigo.
Mas, nunca desejei tanto, não estar aqui.
Queria estar em um lugar que ninguém me conheça.
Todos nós temos nossos demônios, os meus, a vida inteira tentei controlá-los, e por muito tempo consegui. Mas nos últimos anos, venho perdendo essa batalha.
Minha mente não para, nem mesmo quando estou dormindo, meu maior inimigo é o que tenho entre as orelhas.
O sentimento de abandono é de solidão me acompanham desde criança.
Escrever, sempre, sempre foi um escape, sempre foi uma maneira de expressar o que sinto, mas são escritas que tenho que guardar para mim, porque nem todo mundo entende.