Coleção pessoal de nandoxto

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III {a noite...} [íntegra]
A lua nova fez-me a noite ficar mais longa. Eu encabulado por querer e não ser, por buscar e não achar, desenhei um castelo onde imperava aquela rainha que me faria por toda a vida conhecer a sua paz. Num delicado copo depositei o que eram esperanças, para encontrar no prato não só o deleite do meu apetite, mas a alegria de ficar à mesa, de comungar do que não é simplesmente carnal, humano e limitado, mas totalmente transcendente e vivente, imortal e incontável. Ela como que aos poucos foi se mostrando, enquanto eu ainda acordava meus sonhos por coisas imensas. Sim quão belo foi encontrá-la, assim sorrateiramente, à porta de minha tenda, vê-la estender sobre mim seus braços abertos, e eu querendo a imitar para sermos só um outra vez.

Nas sombras do passado apareciam grandes feras que intentavam contra nossa união, ela ria de mim como que caçoando, porque eu tolo como sempre me arrazoava com aquilo que já não existia a não ser na memória e no tempo sem regresso. Assim ficamos, e ela brincava comigo e me dizia insistentemente que olhasse para ela com paixão de agora, enquanto eu preso com insatisfação do ontem me acusava toda hora de não ser digno dela, de nunca poder conhecê-la.

E nós nos conhecemos, quem diria que não? Quem negaria que ela veio quando tudo se passou contrário ao que lhe traria? Ela veio e me ajudou a amar meu passado sem que me desfizesse dele, ela me encantou tão gravemente que fiquei doente crônico por suas graças. Ela me fez caminhar, não só pelas sombras, mas por tudo o que dava medo até no sol do meio dia. Quão agradável se mostrou me fazendo irromper para além das minhas mazelas, me levando para os campos de trigo maduros que se apoiam na força do vento para bailar sem receios. Me conduziu por estradas de chão, por caminhos tão sinuosos que me fazem ver outras belezas no caminho, que se vão para trás um passo a cada passo que dou para frente. Me fez aperceber que ater-se ao passado é parar durante o percurso para olhar o que se tem deixado sem continuar andando, ao passo que o horizonte me convida a novas razões para ir.

Eu não quero deixa-la jamais, mesmo que me cortem todos os membros, não quero perdê-la, pois sei o que me custou, e não só por isso, porque mesmo que nada custasse somente a queria sem porquês.

I - {primeiro encontro} [trechos]
Mas veio e veio de maneira tal que já não sou eu mesmo que me dirijo, ela me eleva a transcender para além do belo, para além do visto, para além das idéias, para além do próprio além.

Fui escolhido por ela e hoje eu também nela a escolho e quero-a mais dos que as coisas que me impeçam de tê-la sem ter, visto que nem posse posso assumir dela, para que não corra o risco de roubar-lhe a identidade para assumir o meu modelo dela mesma. Assim, ela seja e reine segundo os seus ditames, segundo as suas normas, importa que seja eu dela não de mim mesmo.

Aos poucos me fez compreender que respostas não são atos irrevogáveis, pelo contrário, a sua irrevogabilidade lhe impediria de ser o que ela é, assim assumo, todos os dias, frente a mim mesmo novas possibilidades mesmo quando a imposição do meu passado me tenta refrear a perspectiva do novo. De pouco em pouco atino dentro de mim que ela só é, e que ninguém a perturbará, e se assim pensar perturbou seus ídolos porque ela é intacta. Ela me conquistou, como território todo dela, não posso evitá-la e se assim eu tentar todos os dias ela me espreitará sem guerra. Eu que guerreei contra ela provo agora a sua paz e agora sem combater somos tão íntimos que se nos confundimos, mesmo quando eu me tento impor meus passos de outrora ela é a mesma...

Uns dizem que o amor é passageiro,
Que ainda é limitado quanto o homem,
É sentimento que se esvai pelas palmas das mãos
Sem sentido, sem tempo, com fim...
Que dura, pode durar, que acaba, não sei
Sei que o amor que se acabou eu nunca chamei de amor
O que tenho até hoje, o que permaneceu e que não findará
Nada me tirará, indelével ficou, se firmou
Eu sei esse amor ficará,
Não parado, estático a espera de um fim
Ele é o fim de um fim que não terminou.