Coleção pessoal de nandenunes
A BATIDA
seguiu pela estrada
em alta velocidade
até o coração
ultrapassar a tempestade
e abruptamente freou
ao ouvir
a sua batida
MÃOS DADAS
os dias de solidão
eram os mais livres
os dias de liberdade
eram os mais solitários
concluiu que a solidão e a liberdade
eram um casal daquele tipo
que anda pelas ruas de mãos dadas
AS RANHURAS DA BELEZA
as ranhuras do tempo
a deixaram ainda mais bela
o cristal era marcado e imperfeito
e naquela imperfeição
havia beleza
SORRISO NO OLHAR
Ela tem um sorriso no olhar
ao me ver chegar
tudo nela sorri pra mim
tudo em mim sorri pra ela
O COMÉRCIO DO AMOR
vendeu o amor
pra pagar o desejo
aquele desejo
que é tensão em direção
carnal ou de vingança?
moedas de amor
compram tudo
mas moedas de desejo
não pagam um amor
e de troco
sempre sobra
a falta
e nesse escuro
vazio
nesse nada
é onde tudo recomeça
e o amor renasce
como flor perfumada
e de graça
NÓS
sentei na calçada
pronta pra desamarrar
os cadarços da vida
desfeitos os laços
sobraram apenas
nós
A COSTURA DA TRAMA
a trama foi costurada com dor
e o tempo analgésico
tomado a cada segundo
até nada mais sentir
exceto amor
DESCOMPASSO
toco a vida
como quem toca um violão
afino os sentimentos
e deixo-me levar
pela música composta
pelo imprevisível
descompasso
do coração
LUZ DA SAUDADE
apago a luz
ao me deitar
e a acendo
na hora da saudade
te chamo pelo nome
meu mantra
até adormecer
e de luz acesa
ando pela escuridão
iluminando o caminho
para que você saiba
onde me encontrar
enquanto dorme em mim
MAIS DE VOCÊ EM MIM
a cada vez
que eu descobria
algo de você em mim
mais eu me percebia
e a cada vez
que eu decidia
te amar mais por isso
mais eu me amava
A SEDE DA SAUDADE
os nossos corpos
se abraçaram
imantados de desejo
a saudade sedenta
bebeu cada gota de suor
mas não matou a sua sede
e o beijo de despedida
só fez aumentar
a sede da saudade
O PEDREIRO SEM MESTRE
9 de setembro
22:33
não vou dormir em casa
a tortura é diária
de um hipotético amor
restou o veneno
injetado homeopaticamente
em doses diárias
matando o respeito
lentamente
corrosivamente
com a sensibilidade artística
de um pedreiro sem mestre
num entulho de obra
de vidas em reforma
A ATRIZ QUE NÃO GOSTAVA DE TEATRO
jurou amor
prosseguiu com a mentira
olhou sem culpa
abusou de um vocabulário
rebuscado de sentimentos
chorou um rio de lágrimas secas
dizia não gostar de teatro
mas tinha o dom de ser uma atriz
EU A DEIXO
eu a deixo
em companhia do silêncio
e levo comigo
o canto
desafinado
do desgosto
e o gosto vazio
do nada