Coleção pessoal de Naftaline
Aprendi que não posso exigir o amor de ninguém...
Posso apenas dar boas razões para que gostem de mim...
E ter paciência para que a vida faça o resto...
Amo como ama o amor. Não conheço nenhuma outra razão para amar senão amar. Que queres que te diga, além de que te amo, se o que quero dizer-te é que te amo?
Hoje to assim e depois ninguém sabe.
Nem eu
Um dia podia me imaginar assim.
To bem eu já disse,
Sou assim mesmo.
Danço até extasiar,
Até desmaiar.
Falo até me enrolar,
Mas agora me deixa,
Ou melhor, não deixa,
Só entende
O que me faz feliz.
Bipolar? Não.
Multipolar!
Entenda,
Eu simplesmente sou assim.
Mil faces, eu já disse,
Todas as faces.
Não me agrada a inércia,
Gosto de novidades, anseio o movimento.
Acha-me parada?
Então com certeza não me conheces.
Mal sabes a correnteza existente em minhas idéias,
Não conheces a metamorfose que invade os meus sinais vitais
E retira o meu fôlego
É muito maior, muito mais forte, que tudo isso
Repito comigo:
Quem errou? Fui eu?
naftalinne@gmail.com
Meu mundo em preto e branco
Eu, minhas lembranças e alguns cigarros,
Somente alguns poucos cigarros.
Queria poder aniquilar tudo isso,
Queria que o tempo reconhecesse
O seu lugar.
É arriscado viver de passado,
É noite, e tudo é presente novamente.
Minhas lembranças me desnorteiam,
Norteiam, “teiam”...
Levam-me para o lado errado,
Ou pior...
Para lado nenhum.
Debato-me entre
Meus pensamentos. Tento me impor...
Meus impulsos parecem ser mais fortes.
Pago caro por algo que de alguma forma escolhi.
“Foi a vida que me fez assim”, disse ele,
“Não aprendi a ser de outra forma”, continuou.
Como não ser tão intensa?
Tensa, densa...
Como enxergar o mundo exclusivamente em preto e branco?
Vejo uma infinidade de cores, como
Contentar-me exclusivamente com o preto e branco?
A solidão me confunde,
Atormenta-me.
Ilusão, solidão, confusão,
Fusão... solução!
A solução se confunde,
A solidão me consome.
Eu só...
Eu e meus pensamentos,
Tormentos...
Meu mundo em preto e branco.
naftalinne@gmail.com
A mistura da dúvida com a certeza
De que, se eu não voar um pouquinho mais alto,
Eu caio.
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A gente sente.
A gente sempre sente.
Finge que não sente, mas sente.
Disfarça, se distrai, mas sabe.
A gente sempre sabe.
Fecha os olhos, se embriaga, mas continua vendo.
A gente sempre vê.
A gente lê, relê, mas continua sem entender.
Ainda há muito que aprender.
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Eu vi um leão. Eu vi uma selva inteira. Vi um leão, uma girafa, um gato, uma cobra, uma ovelha e um caminhão. Eu vi gente, eu vi muita gente. Eu vi um cachorro um gato e um rato. Vi tudo isso em um dia. Eu vi a áurea das pessoas, a áurea dos animais, a áurea dos objetos e até do ar. Eu ouvi me chamarem, a música estava por toda parte. Gritos e chamados por todos os lados. Gente, muita gente, animais de todos os tipos, o som invadindo os meus tímpanos. Luzes, muitas luzes. As luzes tinham áureas e havia várias luas. Luzes piscavam no céu. Era noite e as luzes passeavam desinibidas pelo céu. As luzes brilhavam, encantavam. As luas dançavam ao lado das estrelas e tudo tinha vida. Estava tudo vivo. Está tudo vivo. Tudo em perfeita sintonia. Pela primeira vez eu sentia, ou melhor, eu via. Eu testemunhava o que todo mundo já sabia. Há muita vida contida. É hora de acordar.
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Vontade, já com saudade.
Você e eu,
Com muita vitalidade.
Que seja só meu,
Eu quero sua sexualidade.
Eu penso, eu sinto,
Eu tenho muita vontade.
Entrego-me, não minto.
Eu mostro minha verdade.
Desse jeito, sucinto,
Eu prezo a liberdade.
Eu vejo, pressinto,
Desejo a sincronicidade.
Bebendo um vinho tinto,
Digo-te com sinceridade:
Como é bom o teu pinto!
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O cachorro lembra
De tudo, só restou o cachorro. Ele mergulhado em todas as lembranças.
Pobre criaturinha de Deus, mal consegue caminhar, enxerga muito pouco e o som é apenas um fragmento distante do que um dia existiu.
O que um dia foi mais rápido que o pulsar de um coração em maratona, hoje, nem se movimenta. Está quebrado, está marcado, está tatuado com os sinais de uma vida, impressões de toda uma família, que apresenta seus estigmas no animal.
É uma família que um dia foi e não é mais.
O cachorro percebe o que ninguém quer ver. O cão sente, lembra e se entristece.
A família disfarça, finge que não vê, encobre a realidade, pois assim é mais fácil, não é?
A realidade do bicho é aquela. Triste verdade, que não tem como mudar.
O cão remete à dor e lembra toda a pobreza. E tudo aquilo que se quer esquecer.
O cão faz lembrar à morte, abre espaço para a saudade. Pesar de todos os que já se foram e não voltam mais.
Nem a prece mais bonita e sincera os trará de volta. É triste saber. Mas se deve continuar a viver.
O cão lembra ainda o portão puído, a casa destruída, as crianças mal-vestidas, a falta de comida e os gemidos da vovó.
Os olhos do cachorro são olhos tristes. O animal lamenta por estar vivo, preferia não estar.
O bicho pede carinho, não gosta de estar sozinho e odeia quando o colocam no cantinho, fingindo bem-estar.
Sua presença assombra com os fantasmas do passado. De um passado que arrepia só de pensar em voltar, lamentos que outrora pareciam não acabar.
Todos fingem que não lembram, fazem tipo, ignoram. Mas o cachorro permanece ali. E ele lembra.
Um dia também se despedirá.
Difícil falar
Difícil entender
Difícil continuar
Se você me ama...
Tente confiar
Tente enxergar
Evite perder
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Quero ser princesa
Bela adormecida ou Cinderela
Ter fada madrinha e sapatinho de cristal
E acordar somente após ganhar um beijo do príncipe encantado.
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O limbo da educação
Mesmo batizada logo nos primeiros meses de vida, encontro-me no limbo. Há quase três anos, o vaticano decretou o fim do limbo para os não-batizados, mas eu - mulher de 22 anos, batizada, que já não sou mais bebê faz tempo, mesmo após o decreto feito pela Igreja Católica, ainda me encontro no limbo.
Já vivo nesse limite faz tempo, sempre tive consciência da minha situação. Mesmo quando tudo me fazia acreditar no contrário, eu sabia que essa margem, quase invisível, ainda estava ali. Não quero dizer que preferia estar de um lado ou estar do outro. Apenas quero gritar aos sete ventos que ainda estou viva e que tenho o dever de viver. Quero apenas o que me é de direito, no caso, a educação. Cansei de ser uma morta-viva sem voz.
Sou uma quase rica e uma quase pobre ao mesmo tempo. Tenho renda, mas não o suficiente. Falta-me renda, mas não o bastante. Sou branca com antepassados mulatos e índios. Tenho sangue azul, amarelo e preto.
Se puxasse a pele do meu avô materno, talvez pudesse me declarar parda, mas não, minha pele nega o meu sangue e eu sou negada por não ter a cor da pele. Negada também por, a duras penas, ter feito, exatamente, metade do segundo grau em um colégio particular. Negada por ter feito um esforço descomunal para ter acesso a um bom ensino, que deveria também ser direito de todos os seres humanos, e que agora me é negado novamente.
Estou realmente no limbo. Entrei para Universidade, mas não tenho mais como pagar, talvez nunca tenha tido realmente condições, mas eu, com o ensino defasado, resultado de idas e vindas entre escolas públicas (que nunca realmente supriram todas as necessidades que me são exigidas hoje) e particulares, não tive outra opção a não ser penar, endividar-me e tentar pagar.
Não existem cotas para brancos de sangue negro. Também não existem cotas para quase pobres. Não tenho direito a PROUNI porque sou uma quase rica, afinal estudei metade do segundo grau em um colégio particular, não é. Sou uma quase rica que não tem mais como pagar a faculdade. Sou uma quase pobre que não tem prioridade na Universidade e, se depender disso, vai ficar no quase para sempre. Quase rica, quase pobre, quase formada, quase cotista, quase lembrada, porém esquecida.
A igreja diz que Deus quer que todos os seres humanos sejam salvos, mas ele não me poupou. Ótimo que os negros e os pardos, que realmente merecem auxílio por todas as barbaridades que viveram e infelizmente ainda vivem - e que, mesmo tendo preferência, ainda não são um número representativo dentro das Universidades, tenham sido lembrados; concordo também que aqueles com renda familiar baixa e que estudaram em (deficientes) escolas públicas recebam ajuda.
Mas e eu? Enquanto isso eu continuo vivendo no limbo, entre a porta de entrada da Universidade Federal e a porta de saída da Universidade Católica, à margem do direito ao ensino. E vivendo nesse limite, a única coisa que me resta é chorar e berrar feito um bebê, talvez, somente assim, eu seja realmente lembrada. O MAIS IMPORTANTE PARA A CONSTRUÇÃO DE UMA SOCIEDADE SADIA É A EDUCAÇÃO.
naftalinne@gmail.com