Coleção pessoal de mtacarvalho
Crônica O VÍRUS QUE CONTAGIOU
O silencioso casal conversou.
O desligado amigo ligou pro outro.
Os vizinhos do prédio se conheceram.
Deu saudade da família.
A gentileza contagiou.
A fé se fortaleceu.
E de repente um isolamento social aproxima os que estavam distantes. Pessoas. Sentimentos.
Reconecta.
Nos faz refletir vulnerabilidades.
Nos faz pensar a empatia.
Nos faz valorizar a vida.
Mas, sobretudo, nos faz enxergar:
dentro de casa,
o outro lado da moeda (capitalista),
adentro.
Hoje você cuida de si.
Hoje você cuida dos seus.
Hoje você fica em casa.
Num amanhã a gente se abraça.
Cuidem-se!
ISOLAMENTO CRUCIAL
Ninguém nos ensinou a administrar uma quarentena, é verdade.
Mas a gente aprendeu que ninguém nasceu pra viver sozinho.
Que podemos ser próximos mesmo distantes.
Que o valor é afetivo e não monetário.
Que pensar coletivamente é mais bonito.
Que a humanidade andou usando bastante o prefixo DES.
Que família será sempre o bem maior.
Que bons laços não dão nó.
Que a fé ressignifica a dura realidade.
Que liberdade não tem preço, mas consequências.
Que a saudade (re)conecta.
Que o abraço contagia tanto quanto um vírus.
E que o amor é lição de casa, e o professor mais querido.
( seguimos isolados e aprendizes )
- Como pode?
- Esbarrei em você?
- Fortemente.
- Sou deveras distraído.
- Percebo.
- Perdão!
- Não se desculpe. Apenas fique. É batida interna.
* batidas do coração
- Que frio!
- Lá fora?
- Aí dentro.
- De casa???
- Na morada do seu peito.
- Me aquece?
- Me esquece!!! Já te cobri, enquanto você... sempre me descobre.
* (des)cobertas
'CONTA COMIGO!'
Pra essa conta ficar certa,
a gente soma um mais um.
Quanto mais afeto agrega
subtrai-se mal comum.
'EM BRANCO'
Não quero passar a vida
como uma página em branco.
Não!
Quero escrever e pintar a minha história
usando das cores que eu tenho direito.
E ter o direito de criar outros personagens,
e até resgatar os que ficaram no passado.
Passados a limpo também serão os meus rascunhos,
que tanto me ajudaram a planejar cada parágrafo.
Traçando o risco,
virando a página
e arriscando um novo rabisco.
Sem apagar nada
pois a borracha eu não usarei.
Deixarei que as letras borradas sinalizem:
posso reescrever qualquer linha, qualquer traço.
As vírgulas? Eu vou usar e abusar delas.
Para que todo o instante seja um sopro de vida
e em cada curva eu tenha a certeza
de que o ponto final do meu livro
está longe de chegar.
Essa solidão que tanto buscamos quando queremos nos encontrar e tanto fugimos quando queremos que alguém nos encontre.