Coleção pessoal de Mlago

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Amor e sentimento

O amor, esse etéreo sentimento
Nasce quando estamos distraídos
Toma força quando menos esperamos
E nos apronta deliberadamente.

Esse amor arrebatador
Bate na gente feito chibata
Quase nos mata

Esse amor que nos impregna
Faz-nos fortes para além da vida.
Esse amor que nasceu bandido
Hoje viceja, brilha e enfeita
A nossa vida.

A água do lago

A água do lago
A flor na água do lago
O peixe no meio da flor no lago
Nada despercebido passa no lago

Esperando há horas

É tanta saudade
Que até o relógio na parede
Tem estado com dó de mim...

De luz e escuridão

A luz define as formas e as cores
Deixa pouco para nossa imaginação
Já a escuridão é uma tela virgem
Que aceita tudo que imaginamos.

Mundo afora

Os mercados do mundo
São no fundo todos iguais
Iguarias, produtos frescos, carnes e vegetais
Uma banca de artesanato
Aquarelas, madeiras, metais
Umas barracas de comidas
E toda gente a circular
A gorda, a novinha o playboy
Olhando com ânsia o que há para comprar

Mas lá no fundo de cada um há uma busca
Consciente ou inconsciente
Pequenina ou infinita
De um grande amor encontrar

St. George Market
03/07/2016
Belfast

De que somos feitos


Não há na verdade um destino
Há um caminho que se define passo a passo

Cada um de nós fazemos nosso caminho
Só o que não sabemos
É que o fazemos desde que nascemos

Cada passo conduz a outro de mesma intenção
Somos todos feitos de intenções
As boas e as más
E assim somos regidos

O resto é tudo ilustração
Amores
Aventuras
Sonhos
Desejos

Nada tem a ver
Com a essência das nossas intenções.

Um poema

Os sapos numa libidinagem teimosa
Enchiam a lagoa de sussurros e gemidos

Não foi diferente quando ela me arrebatou
Chegando sem ser esperada
Desatinada se atirando e me consumindo
Jogando seu amor aos montes sobre mim
Ela que chegou assim tão afoita
Fez de mim seu servo e eu amei
Mas de repente acordo e sinto
O quarto com o cheiro dela
A cama ainda com a marca do seu corpo nu
E em cima do criado mudo do meu lado da cama
Um bilhete escrito num papel branco
Com o batom que me beijou ontem a noite
Dizendo: Adeus, não ti esqueças de mim.

E como é que eu poderia
Deixar repentinamente de amar você
Depois de todo o arrebatamento
Que intrusa você usou para me fazer ti amar?

Desvario

Faço de conta que não entendo
Estou fora, fui alí
Perco me nas minhas alucinações
Vou fingindo que entendo
Eu vou fazendo de conta que invento

Eu vou passo a passo buscando
O improvável e indivisível
O que poderia ter sido
Aquilo que traria de novo o amor
Eu acho que me perdi nas minhas buscas

Traz-me ó luz que conduz meu destino
Tua mais sincera recomendação
Faz me sentir o amor que tanto busco
Traduza para mim o teu sentimento
E deixe-me saber se sou teu como querias

081018

Assim é

O tempo,
Esse acaba com a gente
Não deixa de ser como é
Quando mudamos de lugar
As horas, essa invenção do tempo
Mudam e brincam com a gente
Vão para frente e para traz
Feito uma onda mas não do mar
O tempo,
Esse ente invisível que nos aniquila
Brinca de brincar conosco
O bom é que temos as opções
De achá-lo mau
Ou de brincar com ele
O que é de mais valia.

Belfast
3/7/16

Para ser melhor

O caminho da purificação não deve ser tomado como um castigo, embora traga consigo privações.
Estas sim é que importam, pois somente face as privações é que se consegue transcender e descobrir a força interior que se tem e fazer aflorar os sentimentos mais genuínos.

Amabilis

Branca e indecente
Parece pura e ingênua
Entregue sem pudor ao vento.

Finge-se despencando
Absorta e despojada
Cai assim a orquídea
Em pétalas e vulvas
Amarelas e roxas,
Feito um fruto proibido,
Instigante suspensa no ar.

Uma cena, um enredo.

Era uma porta larga e mais alta que o normal entalhada com um brasão de armas, antecedia dois degraus que levavam a um piso abaixo da soleira.
O salão era grande e tinha aquele ar de taberna, as paredes com marcas negras que escorriam das lamparinas. Lá no fundo escondido entre as colunas toscas que sustentavam um teto cheio de pequenas abobadas estava uma figura gorda, de bochechas rosadas e nariz adunco que tocava no cravo uma melodia renascentista enchendo o ar de reminiscências, junto com a fumaça, o cheiro de tabaco e aquele olor de álcool, tudo misturado.
Do outro lado um grande balcão de uma madeira grossa mantinha um ar de imponência, cheio de grandes canecas e taças, limpas e sujas, que se revezavam, dando espirito ao bar.
Na extrema esquerda, num canto, sentado a uma mesa um homem magro e alto, com pouco cabelo e uma barba longa fitava uma taça de pedra com vinho como se estivesse muito longe.
De mesa em mesa podia-se ouvir as previsões, as soluções, os enredos, tão veementemente discutidos e revisitados por toda aquela gente.
Ali havia solução para todos os problemas, cura para todos os males, amores para toda a vida.
De repente aquela figura esguia e de barbas longas, sai do seu canto e caminha lentamente até o centro, quando o tremeluzir das luzes das lamparinas na tentativa de acompanhar aquele corpo em movimento se esparramavam em figuras fantasmagóricas pelo chão.
Todos pararam e como se estivessem hipnotizados nem piscavam, só o cravo mantinha insistente sua melodia, até que o mestre ergue os braços e gira sobre aquelas botas sujas e surradas, de braços abertos e olhos arregalados, agora o silencio era mortal. Ele lentamente levanta a cabeça e proclama - "Bastardos já não há mais esperança, o vinho acabou!"
Subito salta de detrás do balcão, com seus desígnios e fé uma voz grave e rouca gritando " mais uma taça para o mestre", e todos despertam sorridentes daquela paralisia momentânea.
Preenchendo a cena o cravo eleva o tom e agora joga no ar uma polca ritmada e alegre, par a par levantam-se e começam a dançar uma dança como a última de suas vidas e o taberneiro com voz única e tom sério ferindo o ar com seu hálito de alcatrão e mosto anuncia: "enquanto há vinho, há esperança".
Então todos rodopiam e se abraçam, e dançam feito quem se esqueceu do amanhã.

Enfermidade

Adoeci
Sem febre
Sem dor a abater meu corpo
Sem sinal aparente de lesão
Adoeci de alma
Indolor imolação

Meus Medos

Tenho muitos medos
E os carrego em mim,
De perder meu amor
De parar de sonhar
De esquecer me no fim.

São muitos e vários
Os medos que me assolam enfim.
Mas medo não há maior
Que cuidar de jardins,
Meu Pai morreu assim!

Doce Lembrança

Ninguém nunca saberá
O quanto perdi
Do teu sorriso contido
Tua alma irrestrita
Teu desejo de amar

Ninguém de nós saberá ao certo
O quanto sofreste
O que de muito viveste
O que de sentimento esqueceste

Ninguém de nós saberá ao certo
O que de destino teria
Nem do que de esperança
Tua memória traria

Minha amada Luzia
Partiste cedo
Embora muito deixaste
Mais do que quando meninos
Eu e tu queridos
Podíamos brincar

Um breve aviso

Quando eu morrer de repente
E você não ficar sabendo
Haverá de ter um pensamento
E uma aragem fina ti varrerá
E o teu rosto lindo sentirá
Um beijo frio do meu fim
Quando eu morrer de repente

Madrugada



Desfaz-se lentamente a bruma,
Meio que vermelha e assustada
Irrompe ainda sonolenta a manhã.


Não traz consigo os restos da noite vivida.
Chega mansinha sem querer ser notada,
Mas desastrada esquece-se que a acompanha o sol.


Quebra assim a última barreira da noite,
E derruba conquistadora as estrelas
Despendurando-as solenemente do céu.


E assim sorrateira sente-se traída,
Ela que trouxe o prenúncio da luz,
Vê-se vencida precocemente pelo dia.


Não tem saída, a não ser esperar.
Esconder-se muda na claridade diurna
E ressuscitar após o esplendor da lua.

Ninguém é feliz completamente.
O segredo de ser o mais feliz possível esta nas escolhas daquilo que devemos abrir mão à favor da felicidade real que nos será o bastante.

Chega uma hora em que deixamos de contar os anos, os dias já nos são o bastante.

Pena que a vida não é como os vinhos!