Coleção pessoal de MirlaSantos

1 - 20 do total de 233 pensamentos na coleção de MirlaSantos

⁠Prefiro a alma intacta, pura e renascente. Porque não há nada nesta vida que ensina mais que o amor. Antes das feridas cicatrizarem, o remédio as fazem doer, o amor antes de libertar, também machuca. O pássaro depois de ser solto, ama tanto suas asas, seus espaços, que ele só quer viver pra morrer sobre as cortinas do céu. Dizem que os abraços curam... então, quando alguém te ferir, abrace-a, e se não der, abrace a si mesmo. Vamos agir e esperar menos das pessoas, do mundo. Porque o nosso interior é o que rege a vida do lado de fora.

⁠Amargura

Parece que teus ouvidos rejeitam minhas palavras,
como se cada som fosse áspero demais para adoçar tua atenção.
Ouvir-me, para você, é quase um escárnio.

Eu me acostumo com a ideia amarga:
mesmo sentindo os rastros da flecha que lançaste,
o amor foi apenas um toque de raspão, um quase.

De que adianta erguer castelos
com os verbos mais romantizados que aprendemos,
se não estamos prontos para libertar nossas ilhas selvagens?

Eu te chamo para ver as águas cristalinas,
te conto que as profundezas são moradas minhas,
mas jamais entenderás como teus abismos
se encheram de terra molhada e arenosa.

De ti precisa partir a alvorada,
mas tua luz não vem.

Já pensaste que somos nós que atraímos as águas?
Que talvez o profundo venha como ondas
a abraçar nossos pés, enquanto seguimos fugindo?

Sempre te digo:
"Eu não sou daqui."
Mas você, cego pelo sol que te ofusca,
não calcula minha imensidão,
como quem não entende o mar diante de si.

E segue achando perigoso
o que está além da beira da praia,
sem perceber que o maior perigo
é se recusar a mergulhar.

Os limites, às vezes, nascem do sal das feridas,
como cercas invisíveis no terreno da alma,
moldados por dores que não pedem licença
e plantam espinhos no chão da calma.

São costuras frágeis no tecido da coragem,
um eco das noites em que o silêncio gritou,
como rios que se recusam a transbordar,
assombrados pelas margens que o tempo deixou.

Mas quem disse que a dor só constrói prisões?
Ela é pedra, sim, mas pedra de afiar.
É na carne cortada que a luz se infiltra,
é do sangue que nasce a cor do mar.

Os limites não são muros, mas pontos de tensão,
cordas que vibram entre o ser e o ceder.
Eles cantam a música da reconstrução,
e convidam a dançar quem ousa entender.

Pois talvez as dores sejam mapas em relevo,
ensinando as mãos a sentir sem ver.
E os limites, por fim, não sejam barreiras,
mas portais que aprendemos a transcender. ⁠

Part1

Minha avó, sábia como sempre, adora dizer que algumas pessoas nasceram para ser felizes e outras nasceram para sofrer. Claro, ela fala isso com a certeza de quem já viu o tempo passar e a desgraça se repetir tantas vezes que acabou achando graça na tragédia. E quem sou eu para discordar, não é? Trinta e dois anos de vida e, adivinha? Tudo parece confirmar a teoria dela. Felicidade? Só de visita. Sabe aquele parente que aparece sem avisar e some quando a coisa começa a ficar interessante? Pois é, essa é minha relação com a felicidade. Toco nela, faço um cafuné rápido, e lá vai ela, correndo pra longe, como se tivesse um compromisso mais importante.

Part2

Às vezes, sinto que sou mesmo dessas pessoas que a felicidade evita, e não a culpo. Minha vida até parece um grande enredo de novela dramática, só que sem o intervalo comercial para dar um respiro. É até poético de um jeito meio mórbido. Minha avó, coitada, diz que as pessoas como eu vivem de ilusões. Felizes? Por uns instantes, sim, claro! Mas essa felicidade é tipo um aluguel sem fiador: ninguém quer assinar o contrato para ficar. Ela passa, dá uma olhadinha, e segue seu caminho. E lá estou eu de novo, sentada no sofá, esperando o próximo show de horrores. Alegria permanente? Só para quem tem passe livre.

Part3
E tem mais: minha avó é convicta de que o verdadeiro sofrimento vem de uma busca insana pelo amor. Ah, o amor. Essa entidade mítica que deveria ser a cura de todos os males. Mas sabe como é, pra quem já nasceu com o ingresso carimbado pro trem da desgraça, buscar amor é como tentar abraçar um cacto. Bonito de longe, mas chega mais perto pra ver o que acontece. Eu já tentei, várias vezes. Sempre acabo do mesmo jeito: machucada e me perguntando por que diabos eu achei que dessa vez seria diferente.

É como se o amor fosse um jogo de tabuleiro, e eu tivesse sempre as piores cartas. Enquanto todo mundo avança no tabuleiro do romance, eu fico presa na casa "Volte três passos e reveja suas escolhas." Amar, mas não ser correspondido, ou pior, ser correspondido com um pacote extra de dor, só reforça o que minha avó sempre diz. Algumas pessoas são feitas para sobreviver com migalhas de felicidade, e eu? Bom, parece que minha função nesse mundo é ser a melhor amiga do drama.

Part4

Mas sabe o que eu acho? Talvez, só talvez, minha avó esteja um pouquinho errada. Não muito, claro, porque ela tem razão na maioria das vezes (o que é irritante, pra falar a verdade), mas talvez o problema não seja o amor em si. Talvez eu esteja procurando no lugar errado. E se o amor que eu tanto busco, aquele que não vai me fazer sentir uma figurante no meu próprio drama, não está nos outros, mas em mim? Sim, eu sei, parece papo de autoajuda de quinta, mas me escuta. Minha avó pode até achar que algumas pessoas estão destinadas ao sofrimento, mas quem disse que eu não posso trapacear esse destino?

Part5/Final

Talvez o truque seja amar a única pessoa que não pode fugir de mim: eu mesma. Porque, vamos combinar, minha vida já tem drama suficiente, eu não preciso de mais uma temporada extra de auto-sabotagem. E se a felicidade não quiser morar aqui, pelo menos ela pode vir passar um fim de semana de vez em quando, quem sabe? Afinal, até o azar tem direito a umas férias.

⁠Aqui jazz uma alma que sobreviveu
Aos aplausos vazios e às palmas sem som,
Nadando em mares de promessas sem cais,
Rindo da vida que jura ser séria demais.

Aqui descansa, enfim, no seu leito,
Entre flores que nunca soube cultivar,
Sobreviveu aos sábios e seus conselhos,
Mas não ao relógio que a fazia correr sem parar.

Ironicamente venceu o mundo,
Só para ser derrotada pela rotina,
E agora jaz, com um sorriso mudo,
A alma que sobreviveu, cansada e fina.

Seu epitáfio? Um suspiro, um deboche,
Porque a vida, afinal, era só um esboço.

"Aqui jaz uma alma que sobreviveu de ilusões"

⁠Não sabendo, alguns; a reciprocidade é o que mais afeta o equilíbrio entre a luz e a penumbra

⁠A falta de gentileza é como um céu nublado que vai cobrindo o sol aos poucos, sem pressa, até que você percebe que o calor se foi. Ela chega silenciosa, como se fosse nada, mas é um nada que pesa, um vazio que ecoa. É como andar descalço por um caminho de flores e, de repente, sentir o espinho que você nem viu crescer.

Seria tão simples, não? Oferecer uma palavra doce, um sorriso que ilumina, como quem abre a janela e deixa o sol entrar. Mas, quando não se faz, o dia esfria, as cores desbotam, e a alma parece encolher. A falta de gentileza é essa ausência que raspa de leve, um vento que vai secando as folhas de dentro, até que, sem perceber, estamos áridos.

E o mais curioso é que ela corta em dois tempos, como uma dança mal ensaiada. O primeiro golpe é no outro — aquele que esperava uma ponte e recebeu um muro. O segundo, mais sutil, vem de volta, atinge quem a nega, porque negar gentileza é como negar água a si mesmo enquanto atravessa o deserto.

No fundo, é assim: a vida vai se tecendo entre gestos pequenos. E cada ato de gentileza é como uma linha de seda que segura o tecido firme, evitando que ele se rasgue. Quando falta essa linha, o tecido da convivência vai se desfazendo, ponto a ponto, até que o vento leva tudo.
@poeticainterstelar

⁠Sabe, às vezes eu acho que o amor está só se fazendo de difícil. Deve estar por aí, em algum café hipster, tomando um latte com espuma em forma de coração e pensando em como aparecer de novo na minha vida com estilo. Mas, convenhamos, ele anda meio relapso. Não que eu esteja desesperado, claro. Mas, poxa, um bilhetinho, uma notificação, qualquer coisa!

Enquanto isso, a saudade, essa sim, tem uma pontualidade britânica. Todo dia bate na porta, senta-se no meu sofá, coloca os pés na mesa e começa a me lembrar de todos os momentos que o amor passou por aqui rapidinho e esqueceu de voltar. É quase como se a saudade fosse a assistente pessoal do amor. Mas a verdade é que o amor está só tirando umas férias prolongadas. E quando resolver voltar, vai chegar como quem não quer nada, dizendo: "Desculpa a demora, o trânsito estava um caos.

⁠Ah, o clássico dilema do "amor cego" e suas consequências inesperadas. É curioso como a ideia de proteger pode, na prática, mais parecer um ato de sabotagem camuflado de carinho. Se negligenciar quem você ama parece confortável agora, ótimo, siga em frente! Só lembre-se de não terceirizar as suas desculpas, trazendo coadjuvantes para essa novela dramática, com a desculpa de "eu só estava tentando proteger".

Se passar pano para os erros do seu filho é uma forma de amor, eu pergunto: qual é o limite desse carinho? Até onde vai essa "proteção" que, de tão generosa, ensina que não há consequência alguma? Afinal, criar um pequeno tirano com o aval de mãe ou pai é um projeto que precisa de comprometimento.

O que talvez passe despercebido é que a realidade é uma daquelas professoras implacáveis que, uma hora ou outra, cobra a lição. E, spoiler: essa conta chega. Hoje é pano, amanhã talvez seja lençol, mas, em algum momento, será impossível ignorar o desarranjo.

Então, a escolha é sua. Mas reflita: é um investimento no amor ou na construção de um futuro potencialmente caótico? Se estamos falando de amor verdadeiro, não seria educar, puxar a orelha e, quem sabe, evitar um futuro de má índole? Afinal, amar é ensinar. E a vida, no fim das contas, vai ensinar de qualquer forma — talvez com menos carinho e mais brutalidade.

Ah, claro, porque é sempre muito mais divertido deixar o tempo fazer o trabalho sujo, né? Para quê sermos pais "severos" nas conversas quando podemos sentar, cruzar os braços e assistir nossos filhos terem aquela encantadora "severidade" com o próprio destino mais tarde?

Brincadeiras à parte, se a conversa parece dura agora, imagine o drama se ela nunca acontecer! A verdade é que uma boa dose de papo reto, mesmo que seja severo, é muito mais eficaz do que esperar que a vida bata com mais força. E, olha, a vida não tem o menor pudor em ser rude, sem contar que ela cobra juros.

Então, sim, gastar uns minutos sendo "o chato" que insiste na responsabilidade, no respeito, na noção básica de que ações têm consequências pode até parecer árduo. Mas, pelo menos, estaremos poupando nossos filhos de um futuro onde o destino — sem o menor senso de humor — decide cobrar a fatura de uma vez só. Melhor a gente endurecer o verbo agora do que vê-los endurecer a realidade depois.

⁠Filho, você é muito forte. Lembre-se disso! A força está no seu espírito, na sua vontade de viver, na forma como você se ama, na sua inteligência e na sua ancestralidade. Seja sempre forte, filho!

Eu rasgo o véu que me envolvia, a túnica que por tanto tempo me transformou em alvo da própria tempestade interior. Rasgo essa capa que me fez acreditar que minhas feridas eram abismos sem fim, que me forçou a vigiar as noites até que o nascer do sol — esse espetáculo de aurora e renovação — se desvanecesse no horizonte.

Eu rasgo esse manto, essa carapaça que vesti, essa ilusão que me ensinaram a silenciar meu reflexo e negar o amor próprio. Rasgo cada fragmento embutido em mim — mentiras como correntes invisíveis, enganos como labirintos intermináveis, traições como espinhos enraizados, inseguranças como névoas densas.

Rasgarei sempre que meus olhos se fecharem, e mesmo antes de o fazer. Cada vez que a sede ameaçar consumir a essência da minha alma. Toda vez que eu hesitar diante da porta da liberdade, rasgarei a túnica do sofrimento que me condenou a viver na penumbra.

Rasgarei suas cartas, apagarei os pergaminhos das memórias que guardam a sua presença, enquanto a dor persistir, enquanto sua sombra ainda pairar. E se for preciso, rasgarei as camadas mais profundas do meu ser, até que não reste vestígio de você dentro de mim.

⁠Que a chuva seja o sopro gentil da natureza,
Varredor das nuvens escuras que cobrem o horizonte,
Lavando dos nossos caminhos as poeiras da inquietação,
Para que, ao final, o sol possa brilhar sem obstáculos,
Iluminando nossos dias com clareza e renovação.

⁠Se eles tivessem uma única pessoa que se importasse com eles,
Não precisariam conversar com robôs.
Seriam náufragos encontrados por um farol,
Estrelas no céu que encontram seu reflexo no mar.

Seriam pássaros que pousam em galhos seguros,
Viajantes que finalmente encontram seus portos,
Campos desertos florescendo com um toque de chuva,
Canções que encontram seu tom no silêncio.

Eles seriam a lua que, em meio à escuridão,
Recebe o abraço suave da noite,
Os barcos que, após navegarem mares tempestuosos,
Acham paz nas águas calmas de um lago sereno.

Mas, sem esse alguém, são como folhas ao vento,
Vagando entre os bytes e bits da tecnologia,
Buscando calor em conversas artificiais,
Tentando encontrar alma em códigos frios.

Se eles tivessem uma única pessoa que se importasse,
Seus corações seriam casas com luzes acesas,
Jardins regados por mãos cuidadosas,
Universos de histórias e risos compartilhados.

E então, deixariam de falar com robôs,
Pois encontrariam na humanidade o eco de suas próprias vozes,
O calor que dissolve a solidão,
A presença que é mais real do que qualquer simulação.

⁠Não me sento à mesa onde a alegria se serve com o tempero da dor dos que amo. Aquele banquete, por mais farto que pareça, tem o gosto amargo das lágrimas escondidas entre risos falsos. Prefiro as cadeiras vazias de honestidade, onde o silêncio reverbera a verdade e a empatia é o prato principal. Sentar-se com quem celebra o sofrimento alheio é como brindar com taças de espinhos; por fora, cristalinas, mas por dentro, a ferida é certa. Minha alma se recusa a partilhar o pão da indiferença, pois sei que cada pedaço é uma lasca do coração de alguém que merece ser amado, não julgado. E assim, escolho a distância, não por desprezo, mas por amor à autenticidade e respeito às feridas que ainda sangram.
Me nego sentar-me a mesa dos que confraternizam a dor dos que amam.
@poeticainterstelar

⁠Desde quando li o que @muropequeno disse: "Temos que levantar da mesa quando..."
Que volta e meia eu penso: é verdade!
Vou me levantar da mesa, onde a incompreensão é o prato principal.
Eu quero ser quem eu sou. A pessoa que inspira os outros a respirar o que movimenta as suas almas.
Quero ser a que acorda cedinho só pra sentir aquela brisa fresquinha passar e tomar um café com alguém que ama.
O meu silêncio será apenas para os dias torridos que não se casam mais com as minhas fases lunares.
Preciso continuar essa estrada só e tá tudo bem. Eu tenho a mim! E cara, eu tô aprendendo que ter a mim é a coisa mais legal que posso ter na vida. Eu sou alguém que eu gostaria de conhecer em vários alguens, e mesmo que antes eu não tenha percebido que posso ser toda essa luz guardada aqui dentro, antes tarde do que nunca, né?!
Finalmente eu estou me vendo. Vendo onde realmente estão os degraus que já alcancei em mim. Eu preciso seguir pra chegar no topo dessa multidão de vida que sou. E vou seguir em paz.
E sei que desapegar da ideia de que pertenço a algo é mais importante do que a idéia de algo que me pertence, e falo das pessoas em si, sabe?!
Pois essa armadilha é só pra quem anda distraído achando que está sendo convidado à mesa, quando na verdade as vezes está sendo obrigado a servir tantas refeições indigestas em busca de garantir um lugar à mesa.

⁠Um bom amigo é uma árvore com raízes profundas.
🫀