Coleção pessoal de memoriadekleberlago

Encontrados 16 pensamentos na coleção de memoriadekleberlago

⁠SAPATEIRO

Na lide cotidiana
do interior da oficina,
quase sempre indiferente
ao movimento das ruas,
esse operário trabalha
a sola crua e a pelica,
preparando proteções
para os pés que dinamizam
o vaivém da vida

⁠BORDADEIRA

No universo mágico
De linhas e bastidores
Seu trabalho revela
A artista genial
Que existe dentro dela.
A agulha em sua mão
Vira condão de fada
E faz surgir no tecido
Pedaços de fantasia
Sob a forma de bordado.

O RIO DE MINHA TERRA

Passa um rio pela terra
De quase todo poeta...

Minha terra também tem um rio
Que passa e deixa lembranças,
Que passa e deixa saudades,
Que me inunda de amor
Pela minha terra
Toda vez que em seu manso passar
Molha-me o corpo e a alma.

Se o simples passar de um rio
Pela terra de um poeta
É poesia,
Que nome devo dar
A um rio passando
Pela minha terra
E pela minha vida?

⁠REGRESSO

Não me pergunte
por que fugi de novo.
Não me pergunte
aonde fui,
por que voltei
nem o que fiz pelos caminhos
de ida e volta.

Não me diga
que minha ausência
provocou saudades,
também não fale
que lhe fiz falta
enquanto estive fora;
pense apenas que voltei
para ficar.

Aperte-me contra o peito
com ternura,
sem cobrança,
e deixe entrar
mais uma vez em sua vida
o homem que a ama
e cujo tempo de fuga
terminou.

⁠COMPROMISSO

Eu sei, Senhor,
Que minha vida
Será curta ou longa
De acordo com a tua vontade.
Mas como deixei de realizar
Uma porção de coisas,
Eu te peço que me segures
Um pouco mais por aqui.
Quando eu subir,
Pagarei com juros e correção
O tempo excedente
Que me concederes.

DEPENDÊNCIA

Bem que tentei resistir
Mas a força hipnótica
Desse teu feitiço
Neutralizou minha resistência.
Conseguiste deixar-me
A mercê do que querias
E, através de teus beijos,
Foste inoculando em mim
O ópio de teu amor
Até me tornares
Dependente irrecuperável
De ti.⁠

⁠MUDANÇAS

Fechei as portas da vida
Para as chatices do cotidiano
E joguei as chaves fora.
Tenho agora na cabeça
Apenas sentimentos leves
E um chapéu de palha.
No ermo da praia,
A sonoridade das ondas
Purifica meus ouvidos,
E a brisa litorânea
Enche meu peito
De cheiro de mar.
Sem os sapatos oprimentes
Caminho descalço na areia,
Sentindo os pés beijados
Pela escuma salgada
Que apaga meus rastros...

⁠PALAVRAS

Nos corações em que busquei amor
ódio encontrei,
as mãos de que esperei carinhos
maus-tratos me deram,
os sábios a quem pedi verdades
mentiras me ensinaram.

Tenho o coração cheio de amor
para quem me odiou,
as mãos cheias de carinhos
para quem me maltratou
e a alma cheia de verdades
para quem me ensinou mentiras.

⁠PRIMAVERA

Quando a natureza
nos fascina na rotina
de parir beleza!

⁠LEMBRETE

Agosto já era...
Lembro a todos que, em setembro,
chega a primavera.

⁠⁠SAUDADES DO MEARIM

Ali, sentado na areia
da praia,estive a esperar
a formosa lua cheia
vir espelhar-se no mar.

A verdade nua e crua
foi que, na água agitada,
a imagem da bela lua
ficou feia e deformada.

Bateram dentro de mim
saudades do Mearim
que, ao luar, poesia inspira

e, em sua lenta passagem,
nunca deforma a imagem
do céu que nele se mira!

⁠HALLOWEEN

Se estão soltas,
Que venham as bruxas!
Altas, baixas, gordas magras,
Bonitas, feias, jovens, idosas,
Isso pouco importa...
Estacionem as vassouras à porta
E façam a festa!
Mas nenhuma caia na asneira
De tentar levar-me
Para cozinhar-me em seu caldeirão,
Se não tiver em casa
Tempero de carinho
E fogo de amor.

⁠A POESIA

Em quase tudo, a sinto e posso vê-la,
mas não consigo definir poesia;
e afirmo que mais fácil me seria
contar, no céu, estrela por estrela.

Bastar-me-ia apenas percebê-la
para satisfazer minha estesia
e me tornar agradecido pela
grande emoção com que ela me premia.

Vejo a poesia como uma expressão
do belo, em seus matizes mais diversos
e do que Deus me fez “palavrador”.

Não sei de fato é defini-la. Então,
tento exprimi-la como a vejo, em versos
que, em prol de amor e paz, vivo a compor.

⁠Depois de tudo ter feito,
Deus não achou um sequer
Dos seus atos mais perfeito
Que a criação da mulher.

⁠MULHER, EM TODOS OS SENTIDOS

Quero-te linda, meiga, delicada, feminina, cumprindo por prazer missões de esposa e mãe, mas sem que nada somente nisso venha te envolver.

Pois te quero, também, valente, ousada em teus destinos, sem retroceder, buscando espaços e ocupando cada um que te caiba, como humano ser.

Quero-te superando preconceitos, conquistando na vida os teus direitos sem que deixes teus sonhos reprimidos.

Quero-te forte, livre, verdadeira, pelo orgulho de ter como parceira uma MULHER, em todos os sentidos!

⁠RECONHECIMENTO
(A minha mãe, in memoriam)

Se, às vezes, ela usava meios rudes para punir-me pelos meus malfeitos, também com modos maternais perfeitos me apontava os caminhos das virtudes.

Sei que alguns de seus atos e atitudes eram certos, à luz de seus conceitos, e não seriam hoje em dia aceitos por força das morais vicissitudes.

Sem traumas, amo a mãe que me foi brava, dela me orgulho e não faço elegia sobre o rigor com que ela me educava.

Dou-lhe, em memória, a alma agradecida, pois as "surras" que dela eu recebia não tive de apanhar das mãos da vida!