Coleção pessoal de Maythevus
MEU SONHO
EU
Cavaleiro das armas escuras,
Onde vais pelas trevas impuras
Com a espada sanguenta na mão?
Por que brilham teus olhos ardentes
E gemidos nos lábios frementes
Vertem fogo do teu coração?
Cavaleiro, quem és? — O remorso?
Do corcel te debruças no dorso...
E galopas do vale através...
Oh! da estrada acordando as poeiras
Não escutas gritar as caveiras
E morder-te o fantasma nos pés?
Onde vais pelas trevas impuras,
Cavaleiro das armas escuras,
Macilento qual morto na tumba?...
Tu escutas... Na longa montanha
Um tropel teu galope acompanha?
E um clamor de vingança retumba?
Cavaleiro, quem és? que mistério...
Quem te força da morte no império
Pela noite assombrada a vagar?
O FANTASMA
Sou o sonho de tua esperança,
Tua febre que nunca descansa,
O delírio que te há de matar!...
PORQUE MENTIAS?
Por que mentias leviana e bela?
Se minha face pálida sentias
Queimada pela febre, e se minha vida
Tu vias desmaiar, por que mentias?
Acordei da ilusão, a sós morrendo
Sinto na mocidade as agonias.
Por tua causa desespero e morro...
Leviana sem dó, por que mentias?
Sabe Deus se te amei! sabem as noites
Essa dor que alentei, que tu nutrias!
Sabe esse pobre coração que treme
Que a esperança perdeu por que mentias!
Vê minha palidez - a febre lenta
Esse fogo das pálpebras sombrias...
Pousa a mão no meu peito! Eu morro! Eu morro!
Leviana sem dó, por que mentias?
ACORDAR VIVER
Como acordar sem sofrimento?
Recomeçar sem horror?
O sono transportou-me
àquele reino onde não existe vida
e eu quedo inerte sem paixão.
Como repetir, dia seguinte após dia seguinte,
a fábula inconclusa,
suportar a semelhança das coisas ásperas
de amanhã com as coisas ásperas de hoje?
Como proteger-me das feridas
que rasga em mim o acontecimento,
qualquer acontecimento
que lembra a Terra e sua púrpura
demente?
E mais aquela ferida que me inflijo
a cada hora, algoz
do inocente que não sou?
Ninguém responde, a vida é pétrea.
Noites estreladas
No céu o mar de estrelas
Sempre sorriam a quem sorria também
Ventos leves eram os olhares, brisas além
Eles eram comigo, o que eu também era com eles
As cores tão vibrantes, coloriam meu céu azul claro
Feridas e palavras não eram suficientes, forte e brava ali eu ficava
Meus ídolos ali, imperfeição justificava
A plenitude
Castelo de sonhos, pequenos moradores de papelão
Dias seguem, dos fios amarrados minha alma sorria
Escudos de sangue, proteção eu via
Bonecas de pano, reinos em prantos, brincadeiras alegres em vis
Coroas douradas, cartas assinadas, meus cabelos amarrados
Pequenos nós, por entre laços coloridos
Inocência
Laços arrancados, no céu azul um traço cinza
Coroas douradas, ouro que fere minhas imaginações
Vida cinza, o castelo dos sonhos em ruínas
Papelão envelhecido, não há mais diversão
Ainda havia admiração, noites estreladas
Sorrindo
Tentativas falhas, solitária entre as bonecas
Ferimentos dos escudos, meu herói já não mais surgia
Erro nos longos cabelos, vestidos e bonecas sempre destruíam
Não entendia, sorrisos brilhantes, cegavam os quais
Apagado em sangue, cicatrizes sempre iguais
Anos passam, as cores enfraquecem
Brilhos dos sorrisos já não mais significantes
O choque dos escudos
O monstro surge, a espreita dos meus poucos sonhos
Sangue nos céus, nos sonhos e em mim
Admiração em transformação, medo agora seguia
Cercada por nada, queria companhia
As árvores antes complacentes, rangiam as janelas e fúria brandiam
Figuras negras assustadoras, fugir eu queria
No céu de noites estreladas me sentia sozinha
Abandonada por minha companhia
Vazia, retirado o que havia de bom em mim
aos poucos as estrelas sumiam
No céu daquela noite estrelada, já não havia mais estrelas
Nem a garota que pra elas ainda sorria.