Coleção pessoal de mayracristina
O fim de um amor.
Mayra Cristina Barbosa
Um misto de sentimento tomara conta de mim desde que abri aquele email. “Preciso falar com você, me procure ainda hoje!” Tentava em cada letra, desvendar a intenção com que me escrevera aquilo. Depois que rompemos o namoro nunca mais havia me procurado. E agora, o que o levara a deixar aquele email. Tão direto e misterioso.
Cinco meses, cinco longo meses que a ausência do meu amor torturava minha alma. Cada dia sentia meu coração mais apertado e minha vida mais acinzentada, sem sentido. Enquanto me dirigia para sua casa, lembrava dos momentos felizes que passamos juntos. Nossas viagens, nossas danças, nossos apelidos. Coisas tão peculiares, tão especiais, e pensar que jogamos tudo fora.
Cheguei à frente do prédio e hesitei em entrar. Confesso que o medo de me frustrar tomou conta de mim naquele momento. O que ele queria comigo? Porque só abri meu email um dia depois que ele me enviou a mensagem? Será que ele ainda quer falar comigo? Duvidas, incertezas...
O porteiro me reconheceu de imediato e perguntou o motivo de minha ausência. Disse que estava viajando, mas a verdade é que eu tinha esperança, um fio de esperança de me reconciliar e começar de novo o que nunca deveria ter terminado. Tomei coragem e subi. De escada mesmo. Queria tempo para pensar nas palavras que eu poderia dizer ali naquele momento. Eram cinco andares, e cada lance de escada que eu subia, sentia meu coração mais acelerado. No penúltimo lance, parei e respirei fundo. Não queria chegar com uma aparência de desesperada. Subi o ultimo lance lentamente até chegar a sua porta. Porta essa que já tinha sido cenário de tantas despedidas, sempre com a promessa de que eu voltaria no outro dia, para te amar um pouco mais, para ser feliz um pouco mais, para viver um pouco mais. Até que um dia eu me despedi e jurei que era para sempre.
O que eu estava fazendo ali? Quebrando um juramento! Pensei em voltar, deixar um bilhete sei lá... Mas se fizesse isso, eu nunca saberia o motivo daquele email. Respirei fundo e bati na porta. Ninguém respondeu, novamente bati e nada. Virei as costas certa de que não havia ninguém, então me lembrei que eu tinha uma chave. Titubeei em abrir, mas com muita coragem tirei a chave do bolso e abri a porta.
A televisão estava ligada. Canal de esportes como sempre. Lembrei-me de como aquele vicio pelo futebol me irritava, mas até disso eu sentia falta agora... Fui andando lentamente por cada cômodo da casa lamentando a desordem que se tornara aquele local desde que não estive mais lá.
Aproximei-me do quarto e vi o computador ligado, me aproximei para desligar, já pensando que não tinha ninguém em casa. Ao passar pela cama, vi a pior cena que os olhos de uma mulher poderiam enxergar. O ser que eu amava, aquele a quem eu dediquei meus melhores dias, meus mais nobres sentimentos, estava ao lado da cama sem vida, morto...
Senti metade de mim morrendo naquele instante, o chão fugiu dos meus pés, me faltou o ar, quando olhei para a tela do computador pude ler um email. Ainda não tinha sido enviado. Dizia assim: Perdoe-me por minha atitude covarde, mais é insuportável a dor da sua ausência! Adeus.
Passei anos da minha vida culpando-me por seu suicídio. Talvez se eu abrisse minha caixa de email, um dia antes eu ainda o encontraria com vida. Foram necessário meses de terapia para que eu pudesse esquecer aqueles momentos horrorosos. Hoje estou conformada. Restaram somente lembranças desse amor que começou de uma forma tão linda, porém com um fim tão trágico.
Soneto da Vida
Simplesmente a vida passa
Quase imperceptível como a brisa leve
Não importa o que dele se faça
Mesmo bem vivida ela é breve.
Simplismente a vida é triste
Como um domingo chuvoso e nublado
Mas essa simplicidade só existe
Para quem nunca amou ou foi amado.
Simplesmente, tão simplesmente a vida é ingrata
Pois choramos, amamos, vivemos
Mesmo assim a cada dia a própia vida nos mata
Todo o dia um pouco morremos.
Só nos resta viver intensamente
Simplesmente, não mais que simplesmente.