Coleção pessoal de maylu
As flores na janela
Estão viçosas
Deveras
São regadas por lágrimas
Pelo choro da saudade
Debruçada sobre elas
É onde permaneço
Açoitada pelo vento
Perdida dentro do tempo
Absorta
À espera
Quiçá que tu voltes
Como uma brisa mansa
Despertando-me a aurora
No entanto
O tempo é implacável
Passa os dias
De mãos dadas
Com as noites
Embalando os meus sonhos
Fugidios e furtivos
Que levam-me a esperança
Enquanto o jardim
Segue florindo.
Gosto de coisas simples
Que me tocam a alma...
Lavam-me as amarguras.
Gosto de olhar para o céu
E ver o sorriso escancarado do sol
De ver o arco-íris cruzando as nuvens
Numa mistura de cores que me rasga aos olhos
São-nos presentes de Deus.
Gosto de beijo na testa
Aliviada respiro o ar
Do profundo carinho revelador
Imprescindível...
Gosto de um abraço apertado
demoroso
Sincero... Caloroso
É-me aconchego.
Gosto de andar de mãos dadas
Com os dedos entrelaçados
De sentir o coração na palma
Sinto-me segura
É-me necessário
É abrigo.
Gosto de palavras soltas
Um papo legal
Alto astral
Sem preconceito
Que desce doce ao paladar
E permanece na boca
Faz-me sentir renovada
Ante as durezas da vida
Gosto de ouvir música com a alma...
Esquecendo os tons
Apreciando os sons
Apenas deixando-me embalar
No meu próprio ritmo
Minha harmonia
Gosto de despreocupada andar
Sem me importar com a hora de voltar
Sem pressa de chegar
Somente ir caminhando
Apreciando a liberdade
Olhando à volta
À frente
Apenas sentindo...
Gosto de estar com a família
Superando as diferenças
Rindo juntos
E se choro for
Chorando mais juntos ainda
Pois isso é amor
é ninho
Gosto de coisas simples
A essência
Que me deixam com saudade...
E quase sempre desejosa
Para que novamente aconteça
Quero alguém que caminhe ao meu lado
E que me traga a paz
No auge do meu desassossego.
Quero alguém que me entenda
Não quero que me complete
Posto, que não sou metade!
Porém,
Que sejamos unificados pelo amor.
Quero alguém que me acompanhe na tristeza
Compreende e respeite
Minha angústia e solidão
Para que só então,
Na alegria possa me fazer companhia.
Quero alguém que me faça sonhar
Sonhos estes,
Em que eu não esteja sozinha
Entrementes,
Que seja parte dos meus sonhos.
Quero alguém que seja meu farol
Para quando,
As trevas ameaçarem meu sossego
Seja a luz a iluminar-me a escuridão.
Quero alguém que me dê amor
Que precise do meu amor
E dessa união construir a nossa história.
Quero alguém que seja...
Assim.
Para mim!
Prefiro o fulgor
O incêndio que se alastra
Indomável, intransigente
Veemente...
Tal o ardor fervoroso
Caloroso, doloroso
Da madeira
Na fogueira
Que desaba e acaba
Ao desatino de nunca ter sido chama.
Amo como criança
De jeito simples
rasgado
Sem medo
Sem segredo
Amo de olhos vidrados
Sem restrições
Sou criança crescida
Que ainda chupa pirulito
Masca chiclete
Fazendo caras e bocas
Estourando bolhas no rosto
Mas não deixo de crescer
Sai a criança
Chega a mulher
A esposa
mãe
Companheira...
Cheia de cuidados
De amor
Amando como
Mulher-menina que sou
ou
Menina-mulher
Não preciso entender
Só preciso amar como criança.
Quão bom é pegarmos as cinzas do passado
E usarmos sobre elas a alquimia do amor
Transformando-as em poesia
Posto o que já é cinza não nos queima mais
Então porque fazer disso uma mágoa?
Espalhemos as cinzas com leveza
Desatemos os laços do passado
Deixando que seja levado aos ventos
Para colhermos paz e amor
Plantemos pitadas de doçura
Sobre as energias negativas
É cansativo demais
Ocupar nossos corações
Com coisas que não mudam
Com pessoas de espírito pequeno
Olhemos os gomos do tempo
A beleza de um entardecer
A majestade de um amanhecer
São linhas tão rápidas
Tão diferentes
Nunca as mesmas!
Espaços de luz e sombras
Que condicionam todo o esplendor
A suntuosidade dos intervalos
Saibamos aproveitar o néctar!
O sabor está na transição
A vida continua... ensina-nos
Tudo muda!
Acreditemos que podemos
E devemos fazer diferente
Melhor...
Sem medos
Com a alma leve
Renovada!
Com o coração aberto
Espalhemos as folhas do outono
Aproveitemos os espaços do tempo
O importante é caminhar
Continuar a travessia
Abrirmos os braços ao que está por vir
Semeemos hoje as sementes
Para colhermos as flores do amanhã
Da primavera que há de chegar.
Há mistura entre nossos passados
O seu se foi...
O meu ficou perdido no tempo
Aprendemos com nossos erros
E das mentiras que vivemos
Fizemos chão firme
Das palavras que nos feriram
Escrevemos poemas do ventre
Da alma
Viscerais...
Descrevendo a paz de um amor
De um amor em paz...
Cruzamos caminhos ditos impossíveis
Fizemos um mundo que nos faltava
Uma conquista dia a dia
E sobre ele
Difundimos-nos em mil pedaços
Ocupamos os espaços
Preenchemos as lacunas
Colamos os cacos
Espanamos as poeiras
Varremos as cinzas
Que ainda pairavam no ar...
E dos tempos vencidos
Tornamo-nos vencedores
Das cicatrizes marcadas em pele
E coração
Fizemos lembrete de paz
Nós
Que castigados pela dor causada
Respiramos aliviados
Nós
Que bravamente resistimos
Sob as tempestades mais cruéis
Entre sorrisos e lágrimas
Conquistamos o abrigo perfeito
Nós
Que um dia sonhamos
Seríamos...
...eternamente felizes
De novo
Mais uma vez
Novamente
Ficaram as marcas na pele
Os arranhões na alma
As dores no coração
E um lindo amor esquecido.
Quais as cores desse fogo que me acende
Espreita-me
E revela meus desejos
Fogo paixão
Chama vermelha carmesim
Abrasado, encarnado
Entalhado na pele
No coração
Labareda inflamada
Que me deixa em vulcão
Feito de sangue vermelho vivo
Que me escorre incandescente
Pelas veias,
Em combustão
Salamandras mágicas.
Serão chamas eternas?
Ou
Poderão um dia virar fogo de palha?
Fogo lento
Sem vida
Luz consumida
Lume sem cor
Que perde o calor
Feito fogo de vela
Que pouco a pouco se acaba
Até restarem somente as cinzas
Parafina derretida no fundo
A escuridão.
Estarei brincando com fogo?
Que importa?
Prefiro o fulgor
O incêndio que se alastra
Indomável, intransigente
Em veemência
O ardor da madeira
Na fogueira
Que desaba e acaba
Ao desatino de nunca ter sido chama.
Sou filha da madrugada
Na negritude da noite
Em noite enluarada
Tenho a alma errante
Em mares sou navegante
Por terra sou viandante
Sou folha solta ao vento
Um sentimento ao relento
Sou o choro da saudade
De algo que nunca tive
Da pátria perdida no tempo
De lugares que nunca estive
São sonhos que em mim retive
Esta é minha forma de pensar
Não sei mais o que é a verdade
Estou perdida em mim
Porque vou planejar?
Tenho o direito de ser
É assim que quero estar
Quero apenas velejar
Por caminhos diferentes
Não tenho rota determinada
Apenas sigo pela estrada
E quando nada mais restar
Este será o meu lugar
Minha conquista!
O meu repouso, o meu lar.
Nos sonhos de terra molhada
Nas noites enluaradas
Um mundo de palavras embrulhadas
De todas as magias sonhadas
Com todas as cores usadas
Em meio às pétalas jogadas
É onde tudo acontece
São como flocos de neve
Quando o vapor do encanto congela
E a beleza da vida revela
Com ricas pinceladas no céu
A hora que o arco-íris tira o véu
E clareia a visão da beleza
Mostrando da alma a pureza
Da poesia o abandono
Na incerteza das folhas de outono
O oculto das palavras que rasga a boca
Na navalha afiada do silêncio
Assediando o sentimento na toca
Das mãos que sangram em suplício
Invadindo o coração do poeta
Talvez seja só um profeta
A dizer que a poesia não morreu
São tudo partes de mim, sou eu.
Gostaria tanto...
De poder colocar em palavras todos os meus sentimentos
Descrever aquilo que me está atrás dos pensamentos
De absorver minhas emoções
E transportar para o papel todas as sensações
De poder soletrar o mundo
Aquele habita no meu profundo
De encontrar uma maneira de expressar
As minhas formas de sonhar
Que cada letra, cada sílaba que goteja no papel
Seja um transbordo de palavras em corcel
De cantar uma canção que fale da vida
Sentindo a felicidade tão merecida
De aprender com a grandeza do mar
E em suas águas poder navegar
De bailar como uma criança
Vestida de esperança
De ser mágico e transformar o choro em alegria
E ouvir as gargalhadas em harmonia
De nunca haver de contemplar
Alguém que deixa de no amor acreditar
De ouvir o grito surdo do silêncio
Em que a verdade me revela
Que os meus anseios são o prenúncio
Das minhas palavras ganhando vida
Na seiva aquecida dos meus sonhos
Formando uma poesia inteira
Em um mundo criado de outra maneira
Não mais um mundo que em torno de si gira
Mas um mundo que segue em frente...
Gostaria tanto...
Sou os nós da amarra
Desato um nó
Não há sossego
Desato outro
Não há sossego também
Sou o desassossego...
Tenho
Retenho
Eu e as outras
Sou única em muitas
Ou
Muitas em uma?
Cada qual pensa por si
Ou
Pensa por todas?
Talvez todas pensem
Por uma!
Sou templo entalhado
Transmutado
Por todas
Num corpo que dá forma
Que se perde
Que se encontra
Um retiro de mim
Sou o eco do espelho
Entretanto,
Há várias no reflexo
Espelhada
Coletânea de mim.
Sou nuances dividida
Sou a alva da madrugada,
O negro da despedida.
Sou o doce da paixão,
O salgado da desilusão.
Sou o despertar da vida,
A perda da ilusão.
Sou a alegria prometida,
A lágrima sentida.
Sou a alma desnuda,
A face em oculto.
Sou a emoção nascida,
O sentimento sepulto.
Sou dia iluminado de sol,
A noite escura sem lua.
Sou do porto seguro o farol,
O sem saída da rua.
Sou eu!
Sem eira e nem beira.
O plumo, o rumo.
Estranha sensação de ser.
Sou tudo, sou nada!
Há em mim um poema sendo escrito
Escorre-me nas pontas dos dedos
As tintas das minhas rimas
São traços... São sonhos
São paginas... Minha memória
São momentos de dor e de amor
Os versos da minha história.
Na poesia dispo a pele... Entrego-me
Sou a mulher no ventre... A essência
Sou eu, despida de toda ausência.
Sou o antes e toda a esperança do depois
Onde as letras se fizeram em ternura
Cobrindo todo o meu corpo nu.
Para muitos
Foi bem mais fácil me considerarem louca
Do que me compreenderem.
Entretanto,
Você de mim se aproximou
E em silêncio me abraçou
Protegendo-me de mim mesma
Seu olhar atravessou os meus silêncios
Desnudando-me por inteira
Rompendo-me o lacre
Minha porta, tua chave!
E um desejo enorme de escancarar-me...
Desmancharam-se todas as senhas
E flutuei em nuvens
Sob um céu de estrelas.
Soubeste antes de mim
Que as cicatrizes são apenas flores
A fazer-me um jardim na pele
Numa primavera meio-louca
A esconder-me do rigoroso inverno
E finalmente entendi que depois de ti
Eu sou o meu lado original
A fronteira que me separa dos hipócritas!
O reencontro
De uma louca com seu mundo
Onde todos são loucos.
A rosa esteve a sonhar
Em lindas pétalas a desabrochar
O jardim ficaria mais perfumado
Pelo seu aroma deixado
Ela só não podia imaginar
Que mãos viriam sua alma podar
Foi podada ainda botão
E seus sonhos jogados no chão.
De tudo sou agradecida
Obrigado por tudo! Vida
Pelo tempo de minha jornada
Por todos os caminhos que fiz
Por tudo que me ensinaste...
Quando me ofereceste o equilíbrio
Pelos erros que um dia cometi
Abrindo-me os olhos as mudanças
Deu-me a serenidade de aceitar
Sem perder-me de minhas raízes
A sabedoria de mudar.
Obrigado vida!
Pelo presente que vivo
Pela esperança do futuro...
Por escrever-me um passado
Pelos dias no tempo marcados
Quando pedradas de ti recebi
Mas confesso que com elas assinalei
Os passos por mim percorridos
E de todas as marcas obtidas
Construí o melhor que eu sou
E de todas as lembranças que tenho
Recebo de ti as respostas
Que se hoje eu sei mais que ontem
É por conta das lições que me passou.
Obrigado vida!
Pela escolha de aprender
Que sonhos podem ser-me roubados!
Mas o direito de sonhá-los
Não há como ser-me tirados.
Sonho de olhos fechados
Sonhos de olhos abertos
Eles me são o peso na balança
Do valor que tens... Oh, vida!
Porque todo o dia aprendo
Que é deles minha vontade de viver
E que ninguém escapa de sofrer
Mas enquanto bater meu coração
Agradeço a ti com emoção
Obrigado... Pelo direito de nascer.
Ser poeta...
É ter nas pontas dos dedos
Todas as promessas do mundo
E bordá-las em cores de seda
Ser poeta...
É sentir a solidão e o silêncio
Que há no interior das pedras
E abrigá-los dentro dos versos
Ser poeta...
É desvendar os mistérios que se abrigam
No interior das pálpebras do tempo
E dar asas à imaginação
Ser poeta...
É procurar novos caminhos
Para a cegueira da humanidade
E libertá-los da escuridão
Ser poeta...
É rasgar o fundo da terra
Onde se aninham todos os segredos
E despi-los em cada verso de um poema
Ser poeta...
É abranger todos os horizontes
E não ter medo de voar
Ser poeta...
É virar a alma do mundo do avesso
E contemplar a poesia
Ser poeta...
É ver o mundo sem janelas.
Há frutos que não colhi
Na polpa doce do tempo
Há pingos de néctar
Nos fios de minha memória
Há um eclodir de cores e sabores
Nas ramagens dos meus outonos
E fico a sorver...
A aragem açucarada dos ventos
Presente nos bagos maduros
Dos frutos que não colhi.