Coleção pessoal de mauriciojr
O peso da travessia e a sabedoria do caminho…
Há momentos na vida em que a existência nos coloca diante de um labirinto, um emaranhado de situações que parecem desafiar a lógica do acaso. Não é uma escolha deliberada, tampouco um plano traçado com convicção. É como se a maré nos tomasse de assalto, e, sem aviso, nos víssemos obrigados a deixar as margens seguras e remar contra correntes que jamais desejaríamos enfrentar. Nessas horas, o peso da responsabilidade recai sobre os ombros, não como um fardo que escolhemos carregar, mas como uma imposição do próprio curso das coisas.
Assumir o comando de algo que não pedimos é uma experiência que desnuda nossas fragilidades. O caminho, no entanto, não é reto; ele serpenteia entre desafios inesperados, arrastando consigo nossa estabilidade emocional e nos colocando frente a frente com as sombras que habitam em nós. Há dias em que o corpo se move, mas o espírito hesita. A insegurança se instala como uma névoa, e a confusão torna-se um companheiro silencioso. E, no entanto, seguimos, porque parar parece ainda mais inconcebível.
Há também os espaços onde nos sentimos desencorajados, quase anulados. Lugares onde a nossa essência, aquilo que nos torna únicos, é vista como fraqueza. O sorriso, que deveria ser um gesto que ilumina, é mal interpretado; a idade, que deveria ser sinônimo de maturidade, é colocada em dúvida; e a alma, já pesada de responsabilidades, é forçada a provar seu valor onde não deveria ser necessário. O esforço de existir nesse ambiente exige uma força que, muitas vezes, parece estar no limite de nossas reservas.
E como se o peso já não fosse o bastante, a vida, tão imprevisível e implacável, tece circunstâncias que testam nossa capacidade de amar, de cuidar e de permanecer firmes. O tempo, que deveria ser suficiente para tudo, torna-se um bem escasso, um conflito entre aquilo que queremos fazer e aquilo que somos obrigados a fazer. A sensação de desequilíbrio cresce, e o mundo, por um instante, parece girar fora de controle.
Mas, mesmo na maior das tormentas, há algo que nos sustenta. Existe uma força, invisível e inominável, que nos guia quando tudo parece perdido. Não é algo que se explica com palavras, mas que se sente no fundo do peito, na quietude de um momento de introspecção. É como se as soluções brotassem do caos, como se o próprio deserto cedesse à aparição de um oásis. E, entre tropeços e recomeços, a sabedoria vai se revelando, não como uma resposta definitiva, mas como um vislumbre de algo maior que a nossa compreensão.
Por vezes, nos perguntamos se tudo isso é fruto de uma única decisão, se o ponto de partida de nossa travessia foi, de alguma forma, o gatilho para os desafios que se seguiram. Talvez sim, talvez não. A verdade é que a vida não nos oferece mapas precisos, apenas pistas dispersas que nos cabe interpretar. E talvez o propósito de tudo isso não seja compreender, mas aprender. Aprender a confiar, a persistir, a enxergar a beleza mesmo quando tudo parece cinza.
No fim, a travessia, por mais árdua que seja, transforma. Ela não nos deixa os mesmos. Há algo de sagrado na luta, algo que, por mais doloroso, nos eleva. E, quando olhamos para trás, percebemos que cada curva, cada pedra no caminho, cada sombra que enfrentamos, nos moldou de uma forma que jamais poderíamos imaginar. E então, talvez não reste outra conclusão senão esta: o fardo que carregamos, por mais pesado que pareça, pode ser a forja de um espírito mais forte, mais sereno, mais sábio.
Pessoas verdadeiramente poderosas…
Aqueles que verdadeiramente conhecem a si mesmos caminham pela Terra como presenças quase invisíveis, mas profundamente transformadoras. Seu poder não reside em títulos, riquezas ou estruturas externas; ele brota de um lugar íntimo, imutável, onde a essência transcende a soma das histórias acumuladas ao longo da vida. Eles não se definem pelos papéis que desempenham, nem pelas cicatrizes que carregam, mas pela vastidão silenciosa que testemunha tudo, o espaço interior que é ao mesmo tempo vazio e pleno.
Essas pessoas não precisam falar alto para serem ouvidas, nem se impor para serem respeitadas. Quando falam, suas palavras não vêm carregadas de ego, mas de uma clareza que dissolve barreiras e reconecta os fragmentos separados do mundo. Elas não têm nada a provar, porque já compreenderam que, no núcleo de todas as coisas, não há competição, apenas interconexão. As suas ações não buscam validação, mas emanam naturalmente de um estado de amor incondicional, como o rio que flui sem esperar aplausos pela sua generosidade.
O perdão é a sua linguagem nativa, não porque ignoram o sofrimento, mas porque compreendem que o peso do rancor corrói mais a quem o carrega do que a quem o causou. Superam os desafios não por serem invulneráveis, mas porque aprenderam a dançar com o caos, aceitando a impermanência como aliada. São como árvores que dobram ao vento, mas não quebram, pois suas raízes estão fincadas em algo que o tempo não pode corroer.
Agem com bondade e cuidado, não por obrigação moral, mas porque enxergam no outro a mesma centelha que habita dentro de si. Para elas, o bem-estar de um único ser é inseparável do bem-estar do todo. Não fazem distinções baseadas em raça, gênero, crença ou orientação, porque sabem que todas essas divisões são ilusórias, véus que escondem a unidade subjacente. Celebram o sucesso e a alegria do próximo como se fossem seus, porque, em seu olhar, não há "outro", apenas diferentes expressões do mesmo infinito.
Essas pessoas não têm medo de amar, porque entendem que o amor não é posse, mas um estado de ser. Não temem a vulnerabilidade, pois sabem que é nela que reside a verdadeira força. A positividade que carregam não é ingênua, mas uma escolha consciente de ver a luz mesmo nas sombras. São otimistas não porque neguem as dificuldades do mundo, mas porque acreditam no potencial inerente à vida de se renovar e florescer.
Defendem aquilo em que acreditam, mas sem violência ou imposição, apenas com a firmeza tranquila de quem está alinhado com algo maior do que o próprio eu. E, ao fazê-lo, não buscam mudar o mundo inteiro, mas honram a diferença que podem fazer, por menor que ela pareça. Pois sabem que o impacto de uma ação feita com intenção pura reverbera muito além do que os olhos podem ver.
Essas pessoas não vivem para si mesmas, mas como parte de um todo cósmico. Elas não são ilhas isoladas, mas ondas em um oceano compartilhado. O que as torna poderosas não é o que possuem ou conquistam, mas o que são. E o que são é algo tão vasto, tão livre, que nenhuma palavra pode conter. São, em última análise, expressão viva do próprio amor que dá forma ao universo — um amor que não exige, não separa, apenas é.
Almas luminosas…
Existem pessoas que parecem conter dentro de si um universo inteiro de luz. Elas transbordam como rios que nunca secam, carregando em suas águas uma energia que toca, transforma e cura. Esses seres singulares são como bálsamos para o coração cansado de quem cruza seus caminhos. Elas não apenas existem; elas irradiam. Seus gestos, muitas vezes simples, possuem um impacto profundo. Um sorriso, um olhar, uma palavra de conforto — tudo nelas carrega uma força quase mágica, capaz de reerguer aqueles que estavam à beira de desistir. São como âncoras em meio às tempestades da vida, trazendo calma e esperança onde antes havia desespero.
Essas pessoas possuem uma bondade que não se exibe, mas que se sente. É algo que está presente na maneira como olham o mundo, sempre com ternura, mesmo para as situações mais desafiadoras. Seus olhos falam mais do que suas palavras, revelando uma alma generosa, pronta para oferecer o que tem de melhor, mesmo quando pouco lhes sobra. São humildes, não por se submeterem, mas por entenderem que a grandeza está na empatia, no compartilhar, no acolher. Seu sorriso fácil, muitas vezes acompanhado de um jeito quase ingênuo, confunde os mais céticos; parece bobo, mas é apenas a pureza de quem não carrega malícia no coração.
Há algo de profundamente regenerador em conviver com essas pessoas. Elas nos inspiram a sermos melhores, a enxergarmos o mundo com outros olhos, a acreditarmos novamente quando tudo parece perdido. São como faróis que iluminam os caminhos mais escuros, como pontes que nos levam para uma nova fase, para um lugar onde a vida volta a fazer sentido. Quando estamos perto delas, é como se um vento fresco soprasse em nossa alma, afastando as nuvens densas do cansaço e do pessimismo.
No entanto, há quem, incapaz de compreender tamanha luz, tente apagá-la. Talvez por inveja, talvez por medo, ou simplesmente por não suportar aquilo que não pode replicar. Essas pessoas, que carregam sombras dentro de si, enxergam a bondade genuína como uma ameaça. Elas tentam moldar, apagar, silenciar. Mas mudar alguém que irradia essa essência é um ato de crueldade. É como apagar uma estrela no céu, como tentar calar o canto dos pássaros. É roubar do mundo algo que ele desesperadamente precisa: autenticidade, altruísmo e amor verdadeiro.
Pessoas assim não devem ser mudadas. Elas são preciosas exatamente por serem como são. Sua originalidade, seu carisma espontâneo, sua sinceridade desarmada são um presente raro, uma dádiva que não se compra, não se força, não se imita. É natural que aqueles que não possuem essa mesma luz se sintam desconfortáveis ou desafiados diante de tamanha plenitude. Mas a solução para isso nunca será apagar o brilho alheio; será, talvez, aprender com ele.
Preservar essas almas luminosas é uma responsabilidade coletiva. É garantir que o mundo não perca sua capacidade de se encantar, de se regenerar, de acreditar. Que possamos reconhecer, proteger e valorizar essas pessoas, porque sem elas, a vida seria um lugar muito mais árido, muito mais sombrio. Elas são a prova de que a bondade é possível, de que o amor existe, de que a esperança pode ser renovada. E isso, por si só, já é revolucionário.
Guarda cada palavra como quem coleciona recibos de um teatro mal ensaiado — um dia, a bilheteria vai fechar.
Energia do bem…
Há pessoas que carregam consigo uma força invisível, mas inegavelmente poderosa. Sua presença não precisa de palavras ou gestos grandiosos; basta estarem ali, próximas, para que o ambiente se transforme. São essas almas luminosas, dotadas de uma energia vibrante e positiva, que parecem irradiar harmonia como o sol aquece sem esforço. Não é apenas o que dizem ou fazem — é o que são. Elas têm o dom de tornar o mundo ao seu redor mais leve, mais sereno, mais pleno. Permanecer ao lado de alguém assim é sentir-se revitalizado, como se a vida ganhasse novos significados.
Esse tipo de energia não se limita ao contato direto, tampouco se dilui com a distância. É impressionante como a força que emanam transcende barreiras físicas e emocionais, alcançando aqueles que as cercam de maneira quase mágica. São pessoas que não apenas convivem, mas deixam marcas profundas. Elas inspiram, instigam e elevam. Sua paz é contagiante, sua tranquilidade é transformadora, e sua presença é um lembrete contínuo de que a vida pode ser vivida com propósito, alegria e conexão genuína.
No contexto da liderança, essa capacidade de contagiar é uma virtude rara e essencial. Um líder que compreende o poder do entusiasmo e da inspiração não apenas conduz uma equipe; ele a transforma. Ele conhece as nuances de seus liderados, compreende suas necessidades, potencializa seus talentos e, acima de tudo, cria um ambiente onde as pessoas se sentem valorizadas e motivadas. Essa figura não é autoritária nem infalível, mas humilde o suficiente para reconhecer que o aprendizado é constante e que o sucesso é compartilhado. Sua energia positiva não se impõe, mas se propaga, motivando e mobilizando todos ao redor.
É interessante notar as sutilezas da linguagem quando falamos de "contagiante" e "contagioso". Enquanto o último termo é frequentemente associado a doenças ou situações adversas, o primeiro carrega uma conotação de expansão benéfica, de algo que se espalha e multiplica para o bem. Um sorriso contagiante, por exemplo, é capaz de iluminar rostos e mudar humores. Uma ideia contagiante pode mover montanhas. Da mesma forma, uma energia contagiante transforma não apenas o indivíduo que a recebe, mas todos ao seu redor.
Ser contagiante é, portanto, um ato de generosidade. Não é sobre impor-se ou dominar, mas sobre compartilhar. É um convite discreto, quase silencioso, para que aqueles que estão por perto se sintam bem, motivados, plenos. É uma qualidade que vai além das habilidades técnicas ou intelectuais; é sobre humanidade, conexão e empatia. E é exatamente por isso que essas pessoas, com sua energia luminosa, são tão desejadas, tão queridas, tão indispensáveis. Elas não apenas vivem — elas fazem viver.
Carrega na pasta um dossiê tão robusto que até as paredes do ambiente começariam a corar de vergonha se soubessem ler.
Salmos 91:10-11
A existência humana, em sua frágil tessitura, sempre se viu cercada por incertezas, assaltada por inquietações que brotam das sombras do desconhecido. No entanto, o eco transcendental do Salmo 91:10-11 ressoa como uma promessa de proteção sublime, um pacto entre o eterno e o efêmero, entre a infinitude de Deus e a vulnerabilidade do homem. Não é um discurso de imunidade física ou ausência absoluta de adversidades, mas um chamado à confiança inabalável em uma providência que transcende o visível e o tangível.
"Não te sucederá mal algum, nem praga alguma se acercará de tua tenda." Aqui, não se trata de um escudo que bloqueia os ventos da tribulação, mas de uma segurança que repousa na fidelidade divina, capaz de transformar a tempestade em aprendizado e a angústia em esperança. O mal, em sua natureza fluida, pode atingir o corpo, mas jamais penetrará a fortaleza da alma que crê. A tenda, símbolo da morada transitória, torna-se um espaço sacralizado pela presença divina, um santuário que, mesmo em meio ao deserto da vida, está protegido por mãos invisíveis.
O verso seguinte expande essa promessa em uma visão quase celestial: "Porque aos seus anjos dará ordens a teu respeito, para te guardarem em todos os teus caminhos." Aqui, a figura dos anjos não é meramente decorativa, mas um testemunho da intimidade entre o Criador e sua criação. São agentes do cuidado divino, enviados não para evitar os passos incertos, mas para assegurar que, mesmo nos caminhos mais escarpados, a queda não será definitiva. Cada trajetória humana, com seus erros, desvios e lutas, é acompanhada por essa vigilância amorosa, que não impõe, mas guia, que não anula a liberdade, mas a protege do abismo.
Este texto sagrado não promete uma existência isenta de desafios, mas sugere que há uma força maior que reordena o caos e que acompanha cada ser humano em sua jornada única. O mal pode rondar, mas não prevalecerá. A praga pode ameaçar, mas jamais encontrará morada naqueles que habitam sob as asas do Altíssimo. É uma declaração de fé que transcende o literal e se enraíza no espírito, uma lembrança de que, mesmo em meio às adversidades, há um propósito divino que transforma a vulnerabilidade em força.
Ao contemplar essas palavras, o coração é convidado a repousar na certeza de que não caminha sozinho. Pois o cuidado divino, manifestado de forma tão poética e poderosa, é um lembrete de que a existência, ainda que marcada por incertezas, encontra segurança na fidelidade daquele que guarda os caminhos de seus filhos com zelo eterno.
Entre erros e acertos…
Há momentos na vida em que somos convocados a sermos vilões em histórias que não escrevemos. É curioso perceber como, às vezes, sem intenção ou consciência, nos transformamos no espelho onde outros projetam suas dores, frustrações e carências. Não importa o quão genuínos sejam os nossos gestos, o quão sinceros sejam os nossos atos: algumas pessoas precisarão nos moldar em algo que justifique suas próprias narrativas. E isso não diz sobre quem somos, mas sobre o que elas precisam enxergar.
Aceitar esse papel é, antes de tudo, um exercício de liberdade. Não a liberdade que agrada, que se curva, que busca validação a qualquer custo, mas aquela que nos mantém íntegros, mesmo quando o mundo à nossa volta insiste em nos julgar. É melhor ser autêntico e incompreendido do que perder-se no labirinto de expectativas alheias. Porque, no fim das contas, agradar a todos é um jogo injusto — e o preço é sempre a nossa essência.
As opiniões que os outros formam sobre nós são, quase sempre, reflexos deles mesmos. Quem nos detesta sem conhecer, quem nos julga sem buscar entender, está, na verdade, lidando com suas próprias feridas, não com a nossa verdade. Não cabe a nós corrigir percepções equivocadas, muito menos abrir mão da nossa paz para justificar quem somos. Afinal, se alguém tem algo a resolver conosco, que nos procure. E se não nos conhece o bastante para isso, será mesmo que vale a pena carregar esse peso?
Entre erros e acertos, sigo aprendendo. Já tropecei, já decepcionei, mas também já amei, edifiquei e cresci. E, nesse constante aprendizado, a lição mais valiosa tem sido ser justo comigo mesmo: permanecer fiel ao que acredito, respeitar meus limites, e, acima de tudo, cultivar a paz que nasce do autoconhecimento. Que a minha autenticidade incomode, se for preciso. Porque a tranquilidade de viver sem máscaras vale infinitamente mais do que a aprovação de quem nunca enxergará além das suas próprias sombras.
Ter um culpado…
Colocaram fogo no restaurante comigo ainda lá dentro. As chamas lambiam as paredes como línguas de uma ira que nunca foi minha, mas, de alguma forma, sempre me escolheu como alvo. O calor não me assustou. Pelo contrário, senti uma espécie de familiaridade com ele. Eu, que vivi tantos incêndios na alma, agora era apenas mais uma peça no cardápio do caos.
Enquanto o teto ruía e o ar se tornava pesado, percebi: não valia a pena gritar. Quem acendeu o fósforo já havia saído pela porta da frente, talvez assobiando uma melodia de inocência fingida. E quem passava pela calçada, ao ver as labaredas, não pensava em salvar quem estava dentro. Pensava apenas no espetáculo da destruição. Porque é isso que as pessoas fazem, não é? Elas assistem.
Então eu olhei ao redor. Louças estilhaçadas. Mesas tombadas. Cortinas em chamas. E, pela primeira vez, senti uma espécie de alívio. Uma certeza incômoda, mas libertadora: se é pra me chamarem de culpado, talvez eu devesse ser. Não me restava mais nada pra salvar — nem o restaurante, nem a mim. Peguei o que sobrou de força, virei o gás no máximo e, com um fósforo que achei no bolso, devolvi o favor. Explodi aquele lugar como quem assina um bilhete de adeus: com firmeza, sem remorso, mas com estilo.
Saí pela porta de trás, enquanto os destroços ainda voavam pelo ar. A fumaça subia, preta como os julgamentos que viriam. E eu sabia que viriam, claro. Sempre vêm. “Por que você fez isso?”, perguntariam. “Por que não tentou apagar o fogo? Por que não pediu ajuda?” Ah, os paladinos da moralidade, tão rápidos em condenar e tão lentos em entender. Mas eu não queria me explicar. Explicações são como água despejada sobre um incêndio: às vezes apagam, mas quase sempre só espalham mais fumaça.
Ser o vilão era mais fácil. Mais honesto. Assumir o papel de quem destrói é menos exaustivo do que tentar convencer o mundo de que você foi destruído. Porque, no final das contas, ninguém realmente escuta. Eles só querem um culpado. E, se é pra ser apontado de qualquer jeito, que seja com a dignidade de quem escolhe o próprio destino.
Não estamos falando de restaurante. Nunca estivemos.
Guarda cada farpa que lhe lançaram, para que enquanto durar o percurso, tenha material suficiente para tricotar um belo suéter de verdades.
Pois o que somos não pode ser apagado por quem não sabe sequer iluminar-se...
Há na humanidade uma espécie peculiar de fragilidade disfarçada de força, indivíduos que, em sua incapacidade de criar, buscam parasitar o que outros constroem. Como aves de rapina desprovidas de garras ou presas, não enfrentam, não lutam, não se lançam ao risco de conquistar por mérito próprio. Em vez disso, rondam incansavelmente aqueles que brilham, aguardando o momento oportuno para se alimentar das migalhas de sua queda. São almas que não possuem voo próprio, mas que se movem em círculos, orbitando o talento alheio, como satélites de uma luz que não lhes pertence.
Essas pessoas habitam uma existência marcada por um vazio silencioso, um abismo interno que as impede de enxergar sua própria essência. A inveja as consome, mas não a inveja do ódio estridente; é uma inveja sutil, quase patética, que se expressa na bajulação, na falsidade, no sorriso forçado que tenta disfarçar a vergonha de sua própria insuficiência. Vivem da energia dos outros, como parasitas emocionais, e suas vidas se tornam uma farsa contínua, uma peça teatral onde o ego é o protagonista e a autenticidade, o grande ausente.
No fundo, são dignas de compaixão, mas não de piedade. A compaixão verdadeira exige distância, exige a força de compreender que o vazio que carregam é um reflexo de suas escolhas e de sua recusa em enfrentar a si mesmas. Como bem dizem as escrituras, devemos amar até mesmo aqueles que nos desejam o mal, pois o amor é o único antídoto contra as trevas que habitam o coração humano. Contudo, amar não significa compactuar. É necessário manter-se firme, ser luz sem permitir que essa luz seja sugada por quem não sabe, ou não quer, resplandecer por conta própria.
Essas pessoas são movidas por um ego frágil e inflado, uma máscara que esconde a profunda insatisfação consigo mesmas. Elas gritam para serem ouvidas, não porque têm algo a dizer, mas porque têm medo do silêncio que revelaria sua insignificância. São frágeis, não no sentido de merecerem cuidado, mas no sentido de que sua fragilidade as torna perigosas. Não sabem construir, mas sabem destruir; não sabem criar, mas sabem roubar; não sabem brilhar, mas sabem apagar.
E, ainda assim, o que fazer além de seguir no caminho do bem? Não é nossa tarefa julgá-las, tampouco é nossa obrigação salvá-las. Devemos manter o foco em nossa própria jornada, protegendo nossa luz, fortalecendo nossas raízes, e permitindo que a verdade, como um rio, flua de forma natural. Pois a verdade é implacável: aqueles que vivem da farsa cedo ou tarde serão engolidos por ela. E quando isso acontecer, não haverá nada, nem ninguém, para sustentar o castelo de cartas que construíram. Restará apenas o vazio que sempre esteve lá, esperando para consumi-los.
No fim, a queda dessas pessoas é inevitável, não porque alguém a deseje, mas porque é a consequência natural de uma vida construída sobre ilusão e sombra. Que elas encontrem, nesse momento, a coragem que lhes faltou para olhar para dentro. Que o vazio, ao invés de as destruir, as ensine. E que, enquanto isso, nós sigamos sendo luz, não para elas, mas para o mundo. Pois o que somos não pode ser apagado por quem não sabe sequer iluminar-se.
Mente fragmentada…
A mente que se recusa a reconhecer o outro como sujeito pleno de existência, que tudo reduz à extensão de si mesma, opera em um vazio relacional que desregula e fragmenta o ambiente ao seu redor. Essa estrutura psíquica, profundamente imatura, é marcada por uma fixação infantil no centro do próprio universo, como se o mundo fosse um espelho a refletir incessantemente suas demandas, desejos e fragilidades. Não há, nesse espaço interno, uma verdadeira alteridade; há apenas ecos de um vazio profundo, preenchido pela constante necessidade de validação externa.
A terapia, ao se deparar com esse funcionamento, frequentemente vê-se diante de um enigma: como dialogar com alguém cuja capacidade de estabelecer uma relação genuína é severamente comprometida? O erro comum é tratá-los como adultos, como sujeitos capazes de introspecção madura ou de firmar pactos terapêuticos baseados em metas compartilhadas. Isso é ilusório. O que se enfrenta, na verdade, é uma dinâmica emocional estagnada em uma idade mental muito precoce, onde a raiva, a frustração e a incapacidade de lidar com limites predominam.
As reações das pessoas ao redor tornam-se, então, o principal instrumento de observação. Esse funcionamento psíquico desregula os outros porque demanda, incessantemente, que tudo orbite ao seu redor. O caos criado não é acidental; é parte intrínseca da dinâmica. A terapeuta, ao tentar impor racionalidade ou estabelecer estratégias adultas de diálogo, não apenas falha, mas se torna vítima dessa desregulação, entrando no jogo confuso de manipulação e frustração.
O caminho, então, não está em alianças ou acordos, mas em uma abordagem que reconheça a infantilidade emocional presente. É necessário recorrer às ferramentas da psicologia infantil e das terapias de trauma. Tratar essa mente como se fosse uma criança de três anos não é uma metáfora depreciativa, mas uma estratégia realista. A explosão de raiva, o rompimento abrupto, o desprezo pelas regras de interação madura — tudo isso são expressões de uma psique que opera em um registro de sobrevivência primitivo, onde não há espaço para a verdadeira reciprocidade.
Portanto, insistir em abordagens convencionais, baseadas em diálogos racionais e estruturados, é não apenas infrutífero, mas também ridículo. É preciso reconhecer que o terreno onde se pisa é o de uma mente fragmentada, incapaz de sustentar os pilares da comunicação adulta. A terapia, nesse contexto, não deve buscar acordos, mas sim trabalhar com paciência, limites claros e, acima de tudo, a compreensão de que está lidando com feridas profundas que ainda não cicatrizaram. É um campo de batalha onde a maturidade do profissional é testada a cada momento, diante de uma estrutura psíquica que, para se proteger, não hesita em destruir tudo ao seu redor.
O poder da oração…
A oração é uma ponte que transcende o visível e nos une ao infinito. Não é um gesto mecânico nem um ritual vazio, mas a tessitura de uma comunhão profunda entre o finito e o eterno, um diálogo silencioso onde a alma se desnuda e o coração encontra repouso. Orar não é apenas falar; é abrir-se ao mistério, é reconhecer a própria insuficiência e, ao mesmo tempo, vislumbrar a plenitude que se revela além de nós. É um ato de coragem e humildade, no qual nos colocamos diante daquilo que não controlamos, mas que nos sustenta.
Ao elevarmos nossas palavras em busca de sabedoria, como nos exorta Tiago 1:5, reconhecemos que o entendimento humano é limitado e frequentemente obscurecido por paixões e ilusões. Pedir sabedoria é mais do que buscar conhecimento; é clamar por discernimento, pela luz que ilumina os passos em meio às incertezas da existência. É suplicar para ver além das aparências, para agir com justiça e caminhar em retidão.
Quando oramos por perdão, como nos ensina João 1:9, não estamos apenas confessando falhas ou admitindo erros. Estamos nos rendendo à misericórdia divina, reconhecendo que o fardo da culpa não pode ser carregado por um coração que deseja ser livre. O perdão, nesse sentido, é uma experiência transformadora: ao sermos perdoados, aprendemos também a perdoar, e nesse ciclo de graça, somos renovados.
A súplica por força e coragem, refletida em Isaías 41:10, é um apelo para que não sejamos vencidos pelas tempestades que nos cercam. Não é a ausência de medo ou dor que buscamos, mas a fortaleza para enfrentá-los. Orar por força é confiar que existe uma mão que nos sustenta quando as nossas fraquejam, e pedir coragem é acreditar que, mesmo diante do abismo, há um propósito que nos impulsiona a avançar.
Em Salmos 147:3, encontramos a promessa de cura, não apenas para o corpo, mas para as feridas mais profundas da alma. Clamar por cura é aceitar nossa fragilidade e entregar ao Criador aquilo que em nós está quebrado. É um ato de esperança, de quem acredita que nenhuma dor é definitiva, que o amor divino pode restaurar até os fragmentos mais despedaçados.
Em Salmos 25:4, ao orarmos por direção e propósito, buscamos mais do que um caminho a seguir: ansiamos por sentido. É o desejo de que nossos dias não sejam um somatório de eventos desconexos, mas uma jornada marcada por significado. Pedir direção é confiar que há uma vontade maior que guia nossos passos, e buscar propósito é alinhar nossas escolhas ao chamado divino que habita em nós.
Assim, a oração é mais do que palavras proferidas; é um encontro transformador. Não é fuga, mas entrega. Não é imposição, mas abertura. É a arte de ouvir o sussurro do eterno no silêncio do coração, de permitir que a graça nos molde e nos prepare para viver com sabedoria, perdão, força, cura e propósito.
Não é a quantidade, é a qualidade…
A solidão, muitas vezes temida, é na verdade um refúgio para aqueles que se recusam a habitar o teatro das aparências. Não faço questão de moldar-me ao agrado alheio nem de ceder espaço a máscaras que fingem afeição, enquanto ocultam intenções vazias. Vivemos em um mundo onde o brilho das palavras é frequentemente maior que sua substância, e onde o preço de tudo é calculado com precisão, mas o valor das coisas — e das pessoas — se perdeu em meio ao ruído. É um cenário em que a falsidade veste trajes elegantes, mas não consegue disfarçar o vazio de um coração desprovido de sinceridade.
Prefiro a companhia do silêncio ao convívio com vozes que não ecoam verdade. Quem valoriza a própria essência sabe que nem todas as presenças são bênçãos; algumas são pesos que nos arrastam para um chão de ilusões e desgostos. Há momentos em que a distância não é apenas uma escolha, mas uma necessidade vital. Cada passo solitário, quando guiado pela autenticidade, é mais digno do que mil passos acompanhados por sombras que disfarçam intenções. E se o preço da minha verdade é a solidão, pago-o sem hesitação, pois a minha verdade é o único chão firme no qual posso caminhar.
Já dividi momentos, confidências e risos com pessoas que hoje são apenas lembranças distantes. Não guardo ressentimento; guardo aprendizado. Há lugares que já ocupei, mas que hoje não mais me pertencem, pois o tempo, esse escultor implacável, molda nossas prioridades e nos ensina a deixar para trás o que não nos alimenta. Carregar o peso do passado é recusar o espaço que o novo necessita para florescer. E há uma liberdade sublime em soltar aquilo que nos faz mal, em abrir mão do que nos desgasta, em dizer adeus ao que não nos respeita.
Cada despedida é uma porta que se fecha e, ao mesmo tempo, um portal para dentro de nós mesmos. A ausência do outro nos ensina a presença de quem realmente somos. É nessa solitude que encontramos a clareza necessária para discernir o que importa e o que é supérfluo, o que edifica e o que consome. A estrada da autenticidade pode ser solitária, mas é nela que o espírito encontra paz. Que o mundo siga amontoando falsidades; eu escolho caminhar leve, fiel ao que pulsa dentro de mim. Porque, no fim das contas, não é a quantidade de pessoas ao nosso redor que importa, mas a qualidade daquilo que carregamos na alma.
Yas...
Yas, teu nome ecoa como um sopro de vida, um lembrete sutil de que o tempo é um presente raro, um fluxo incessante que nos chama a vivê-lo em plenitude. Hoje, celebramos não apenas mais um ano que se soma à tua existência, mas a promessa de infinitas possibilidades que aguardam o teu toque, o teu olhar, a tua coragem. É o momento de estender as mãos ao que o futuro reserva, sem medo, mas com o coração firme, pois em ti habita uma força que talvez ainda desconheças em sua totalidade.
A vida, querida sobrinha, é um campo vasto e fértil, onde cada instante carrega sementes de aprendizado e descoberta. Que nunca te falte sensibilidade para reconhecer a beleza nos detalhes mais ínfimos, nem audácia para transformar desafios em degraus. Cada amanhecer é um convite para reinventar-se, para mergulhar mais fundo em tua própria essência e desvelar a imensidão do teu potencial. Tu és um universo em expansão, e a cada passo que deres em direção ao autoconhecimento, encontrarás em ti a resposta para os enigmas que o mundo apresenta.
Confia em tua intuição, pois ela é bússola que aponta para a verdade que pulsa dentro de ti. Confia em tua capacidade de superar adversidades, pois até nas tempestades mais árduas, tua luz brilha intensamente. E confia na vida, porque ela, com suas curvas imprevisíveis, te guia sempre para onde deves estar. Sob a proteção divina, teus caminhos serão iluminados, e nenhuma sombra será capaz de apagar o brilho que carregas.
Hoje, Yas, desejo que este seja apenas mais um capítulo de uma longa e magnífica história. Que teu existir seja sempre repleto de bênçãos, de energia positiva e de proteção que transcende o visível. Que teus sonhos sejam grandes, mas que tua determinação seja ainda maior. E que, ao longo dos anos, possas olhar para trás com orgulho e para frente com esperança.
Saibas, minha querida, que meu amor por ti é imenso, maior do que as palavras podem conter. Como teu tio, vejo em ti não apenas a beleza de quem tu és, mas a grandiosidade de quem ainda te tornarás. Estou aqui, sempre, para te lembrar que és capaz, que és forte, que és única. Hoje e sempre, celebro tua vida com gratidão e alegria.
Feliz aniversário, Yas. Que tua jornada seja tão luminosa quanto a tua alma.
O que é decretado por יהוה transcende o tempo e a vontade humana, pois Sua palavra é alicerce imutável; nenhum poder terrestre ou celeste ousa frustrar os desígnios daquele que é eterno e soberano.
Mentes…
A pequenez de uma mente revela-se no seu fascínio pelo efêmero, pelo irrisório, pelo rumor que se arrasta pelas sombras do cotidiano. Focar-se nas vidas alheias, desfiando os fios da privacidade do outro, é sinal de um espírito que se detém na superfície, incapaz de sondar as camadas mais densas da existência. A fofoca, em sua essência, é o refúgio de quem se recusa a confrontar a vastidão do pensamento, preferindo habitar o estreito corredor da banalidade.
Por outro lado, há aqueles que se inclinam para o dinamismo dos eventos, para os movimentos que moldam o mundo e nossas experiências compartilhadas. Essas mentes, embora mais arejadas, ainda se limitam ao transitório. Discutem fatos, narram histórias, mas se deixam enredar pelo agora, pelo cenário externo que se desenrola como um teatro. Não ousam perscrutar as raízes que sustentam o que é visível, pois talvez temam o abismo que aguarda sob a superfície dos acontecimentos.
Já as mentes verdadeiramente grandiosas transcendem a distração do trivial e a armadilha do imediato. Essas almas encontram o infinito no pensamento, o eterno nas ideias. Não se satisfazem com a espuma das ondas; buscam o oceano profundo onde residem as perguntas fundamentais. Elas sabem que discutir conceitos é escapar da prisão do contingente, é tocar o que é universal, absoluto e transformador. O diálogo de ideias não apenas conecta consciências, mas também as eleva, permitindo que o espírito humano se expanda para além de si mesmo.
Assim, a diferença entre essas três categorias de mentes não é meramente uma questão de escala, mas de profundidade. É a escolha entre o passageiro e o perene, entre a distração e o propósito, entre o ruído e a música. A grandeza de uma mente não é medida pelo que ela consome, mas pelo que ela cria e pelo impacto que suas reflexões exercem sobre o mundo. Enquanto as mentes pequenas se contentam em observar o palco, e as boas em relatar suas cenas, as grandes reescrevem o roteiro que dá sentido à existência.
A "arte" da inversão…
Manipulação é a dança velada da sombra, onde a culpa, disfarçada, se impõe e assombra.
É o espelho quebrado da razão alheia, que reflete o erro como se fosse cadeia.
Teu grito, nascido do corte profundo, é moldado em silêncio por quem rege o mundo.
Teu lamento, legítimo, é transfigurado, num teatro cínico, ao algoz dedicado.
Quem desrespeita finge ser ferido, torcendo a verdade num laço distorcido.
E, assim, o carrasco se veste de vítima, invertendo a lógica, tornando-a enigma.
Leia de novo, até o véu cair, até que o ciclo não possa mais se repetir.
Pois quem usa teu pranto como argumento, te prende num labirinto de tormento.
A manipulação é a arte da inversão, um veneno sutil que invade o coração.
Mas quem enxerga além da neblina espessa, rompe o jogo e resgata a própria promessa.
Os que estão contra você, são os que mais acreditam no seu poder...
Oh, quão curioso é o destino, que faz do antagonista o peregrino, guiado por temores, velado em ardor, a medir-te a força, a temer teu vigor.
Não é o amigo que te sonda a alma,
nem o amante que te rouba a calma,
mas o opositor, na sombra escondido,
que vê em ti o brilho não contido.
Se ergue o muro e te lança ao chão,
é porque teme tua ascensão.
Se trama no escuro e espalha a dor,
é porque anseia calar teu clamor.
O rival não odeia o vazio em teu ser,
mas o eco que faz o mundo tremer.
Pois só quem enxerga no outro o infinito
ergue-se contra, num gesto aflito.
Que ironia amarga, que jogo sutil,
Quem te combate te vê como um farol febril.
Não desafia o fraco, nem teme o banal,
mas curva-se ao poder que soa imortal.
Então, segue em frente, sem hesitar,
Pois na resistência há de se revelar
Que o maior tributo à tua grandeza
É o temor que desperta tua fortaleza.
E assim, na luta, descobre-se a lição:
O verdadeiro inimigo é quem te dá razão.