Coleção pessoal de MatheusHachem

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⁠Após a explosão, o caos emergiu como uma onda imparável. O som das vozes, o lamento, o desespero, tudo se entrelaçava em uma sinfonia descontrolada. Cada grito carregava o peso de mil perguntas, a busca incessante por um motivo, por uma explicação que nunca viria. O ar estava saturado de dor, de desespero, de uma humanidade à beira da fragmentação. E, então, como se o universo decidisse segurar o fôlego, tudo parou.
O silêncio não trouxe paz. Ele não foi um alívio esperado, mas uma presença avassaladora, como se engolisse tudo o que restava daquilo que chamamos de ser. O vazio se instaurou, mais profundo que qualquer grito. E dentro dele, a alma tremia. Um silêncio que era mais forte do que o som das vozes – que, paradoxalmente, gritou mais alto que o próprio barulho.
Eu tentei buscar algo dentro de mim. Um eco de emoção, uma fagulha de esperança, mas não encontrei nada. Minha própria voz, aquela que sempre me acompanhou, desapareceu. Por mais que eu tentasse gritar, era como se a conexão entre o corpo e a alma houvesse sido cortada. Não havia som, não havia choro, não havia riso.
O que é o ser sem emoção? O que somos quando não podemos mais sentir, sonhar, realizar? A resposta para essas perguntas não está na filosofia, mas no coração de quem já atravessou esse abismo. Um corpo sem alma, um receptáculo vazio, não é mais um ser. É um objeto que vaga, privado daquilo que o torna humano.
E nessa imobilidade, algo se revelou: o medo. Não o medo comum, mas o terror de perceber que a alegria, a tristeza, a esperança – tudo aquilo que um dia encheu a vida de sentido – não voltaria mais. Não importa o que aconteça, o vazio dentro de mim é irrevogável. Aquilo que um dia me preencheu, que me fez existir em plenitude, agora é apenas uma memória distante.
E assim, o corpo segue. Um fragmento do que já foi, uma sombra pálida de vida. Porque, quando tudo o que restou é um vazio que nunca será preenchido novamente, talvez o que realmente resta é aceitar esse abismo e, dentro dele, reencontrar o eco de uma alma perdida.

⁠Existe um conceito japonês que se chama akai ito, que significa fio vermelho. Segundo a lenda, os deuses amarram um fio vermelho invisível no dedo mindinho de cada pessoa, conectando-a à sua alma gêmea. Esse fio, mesmo que invisível aos olhos, é inquebrável, e através do tempo e da distância, mantém-se firme, ligando duas almas predestinadas.
O akai ito é mais do que um simples conto; é uma promessa silenciosa do destino. Entrelaçados por esse fio, os corações percorrem caminhos sinuosos, muitas vezes desconhecidos e cheios de desafios. No entanto, a força do fio reside na sua capacidade de resistir e superar qualquer obstáculo, guiando duas pessoas rumo a um encontro inevitável.
Em um mundo onde o acaso parece governar nossos passos, o akai ito oferece uma esperança reconfortante. Ele nos lembra que, mesmo nas noites mais escuras, há uma luz que brilha com a promessa de um amor verdadeiro. Não importa quantos desvios ou tropeços enfrentemos, o fio vermelho permanece, sutilmente nos orientando, até que finalmente encontramos aquela pessoa cuja alma ressoa com a nossa.
O conceito de akai ito nos ensina a confiar no destino, a acreditar que há uma ordem secreta nas aparentes desordens da vida. E assim, seguimos em frente, com os corações entrelaçados por esse fio invisível, esperando o momento em que nossos caminhos se cruzarão, completando a teia do destino com a mais bela história de amor.

⁠No cântico eterno de Orfeu e sua dor,
Há mais que uma história de amor e clamor.
É o eco da alma em busca do além,
Um reflexo do humano, do que a vida contém.
Euridice, perdida, é a sombra do sonho,
Que escapa dos dedos, num anseio tristonho.
Orfeu é o artista, que canta e persiste,
Na luta incessante, o desejo resiste.
A jornada ao inferno é o mergulho em si,
A travessia do medo que insiste em persistir.
É olhar para dentro, sem ceder à tentação,
De voltar ao passado, na ânsia do coração.
Mas a condição imposta, a prova final,
É o dilema do tempo, é o humano e mortal.
Pois ao virar o rosto, o que se revela,
É a fragilidade da esperança mais bela.
A lira que toca, o poema que insiste,
São tentativas de entender o que existe.
Orfeu e Eurídice, no mito se encontram,
No dilema do ser, seus versos nos contam.
Que o amor e a perda, a luta e a dor,
São parte do todo, do nosso labor.
E ao cantar suas histórias, o que nos é dado,
É o espelho da alma, um caminho traçado.
No mito se esconde a verdade sutil,
De que viver é buscar, no belo e no vil.
E ao compreender Orfeu e seu cantar,
Encontramos em nós, o eterno lutar.