Coleção pessoal de mathesilva

Encontrados 5 pensamentos na coleção de mathesilva

Vivemos talvez um dos piores períodos da história. Incrível ver como um “volte antes de escurecer” se transformou em “não amanheça nesse computador”. O que antes preocupava, hoje se incentiva. Não se tem mais as ruas, pois os carros simplesmente tomaram conta. Muito menos ao natural, já que o virtual parece muito mais interessante. Hoje em dia, joga-se futebol sentado; dialoga-se sem pronunciar se quer uma palavra. Bons agrados? Não são mais buque de flores, ou um jantar a luz de velas; e sim, essas bugigangas de meio milhão. É até hipocrisia de minha parte dizer isso, pois contribuo com essa degradação até quando escrevo textos como estes, já que deram lugar aos livros. Shows de rock? Que nada… Hoje em dia se aprecia música por fones de ouvido. E ai de você se contrariar: “desliga isso, você está ficando louco?”. E se antes acordar tarde fosse sinônimo de preguiça, hoje é resultado de ressaca. É com certeza uma guerra-de-corações-partidos, onde, se você quiser mais amor, terá que pedir. Não que eu seja contra a todo esse tipo de alienação, mas creio que o mau do século seja a falta. Falta liberdade para se fazer amor, como falta amor onde há liberdade.

Sempre me dei bem com despedidas, contando as vezes que mudei de colégio. Meus amigos nunca duraram mais que três anos, digo em presença material mesmo, porque alguns levo para sempre. Hoje eu entendo a minha frustração em lidar com amizades quando elas começam a crescer, porque nunca sei direito em que ponto elas podem terminar. Ouço constantemente frases como “você é tão frio” ou “porque nunca demonstra o que sente”, e confesso que também não sei responder. Talvez esse seja o meu jeito, ou talvez foi isso o que sobrou de mim. Quando falo em sobras, me refiro aos desencontros e as angústias em levar prazo de validade em tudo o que aparece na minha vida. Quando, na verdade, o prazo de validade está em mim.

Não peço a permanência de ninguém. Dei-me por alto e descobri que não se é feliz sozinho, mas é sozinho que você encontra a felicidade. E a felicidade, meu amigo, não tem validade como as pessoas tem, por exemplo. E é por isso que precisam ser passadas adiante. Não digo que somos objetos de uso coletivo, ou que o meu, não pode ser nosso; mas entenda que quem quer um, quer mais, e lidar com muitos é mais difícil do que lidar com si mesmo. Não vou obrigar que ouça a todos os meus reclames diários, nem que ature meu mau humor de terça-feira. Você tem o direito de ir. O de vir, eu não garanto. Ah, e eu não quero nada pela metade, nem restos de bom agrados. Quando falo de resto, me refiro ao que sobrou dos planos que deram errado, das portas fechadas na cara, das malícias intraduzidas. Quero o inteiro, completo. Por fim, fiquei me perguntando o que vem a ser um jovem livre, e me convenci de que ser livre é conhecer a própria alma, e se enriquecer com ela. E você não precisa de ninguém para fazer isso.
Claro… Se quiser, fique. Mas fique se souber ficar; fique, se puder amar.

Estou esperando que você venha… Mas não mais com aquelas desculpas esfarrapadas de que esqueceu seu casaco em cima da mesa ou que chove muito para que você volte a pé. Espero que venha e tire o profundo silêncio da noite, o hálito fresco das chuvas de inverno, a doçura dos dias de primavera. Você nunca foi de criar falsas esperanças, exceto quando dizia que juntos poderíamos enfrentar a fúria de um mar revolto, o poder de voo de um gavião. Juntos. Parece estranho para quem alcançou a liberdade primeiramente libertando-se de mim. Eu sei que cansei de dizer “você tem o mundo em suas mãos” e que você conseguiria tudo, se você quisesse; mas esqueci de completar dizendo que sou o mundo também. Também sei que seus avanços, dia após dia, estão sendo grandes demais para que volte a olhar para mim. Mas eu estou aqui… Não sei por quanto tempo, nem há quanto tempo. Eu estou aqui. Portanto volte, mas não somente para deixar seu casaco e fugir da chuva… Deixe lembranças, deixe história, deixe. Fuja da chuva, da lua, do mundo, fuja.

Sou como uma arte na calçada: Muitos não percebem, mas estou ali. Outros param, admiram por um tempo, mas logo voltam aos seus afazeres. Posso ser interpretado conforme seu humor, conforme sua idade, conforme uma música qualquer. Sou belo, entendiante, chamativo, indecifrável. Muitos pisam sem perceber, outros desviam para não ter que pisar. O que é? Ninguém sabe, mas sempre tiram o que lhes convém. Sirvo de caminho, ou o caminho serve a mim. Aguento a chuva, sozinho. E quando o sol aparece, aí sim fazem questão de passar. Perco a cor, a intensidade, ao mesmo tempo que faço história. Ninguém sabe o porque disso, nem o que faço ali, mas sabem que estou. “A arte é a ideia da obra, a ideia que existe sem matéria” por isso, não queira me entender apenas por olhar. É bom saber por onde pisas…