Coleção pessoal de MateusRettamozo

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Quando a primavera acontece
até o botão do casaco floresce.

Manda brasa.
Amanhã
vai ter incêndio
lá em casa.

para o silêncio do poeta

quando você se cala o silêncio fala
canta o galo zumbe a abelha
mia o gato pia o pinto ruge o leão

quando você se cala o silêncio fala
a baleia bufa o burro zurra
o bezerro berra o bode bala ladra o cão

quando você se cala o silêncio fala
grasna o ganso o rato guincha
o cavalo rincha bate meu coração

quando você se cala o silêncio fala
a cigarra estrila a hiena gargalha
estalo os dedos e canto esta canção.

Bem-me-quer mal-me-quer.
Bem-te-vi quero-quero!
Duas vezes uma pra cada um.
Um para cada uma.
Plim-plim!

Uau!
Não mereço, não mereço!
Mas quero-quero.
Duas vezes, uma pra mim e
outra pra você.
é por isso que o passarinho repete:
quero-quero!

Vida poesia - coisa louca
Eu não posso tirar
meus olhos da tua boca

mergulhar bem fundo na lagoa rasa
é conhecer o mundo sem sair de casa
é voar mais alto sem abrir as asas

Preste atenção ao seu corpo e à linguagem das sensações e das emoções. Preste atenção para tocar de leve, levar além. Preste atenção ao abrir uma janela. Quando pular de body-junp na poesia. Preste atenção porque você está a um passo da primeira vez. Preste atenção ao brincar com fogo, porque na lagoa há sapinhos e na padaria assa pão. Preste atenção ao pegar alguém no colo. Preste atenção ao cheirar o corpo e aprisionar o instante. Preste atenção ao soltar as asas, preste atenção ao treinar o improviso. Preste atenção porque a amizade não é um amor sem compromisso e começa com o mesmo A de Amor. Preste atenção aos números. Era um, depois dois e era uma vez três. Preste atenção quando engravidar um poeta, e ser mãe de uma poesia. Preste atenção na resposta que já vem com a pergunta.

O que há de pecado
No amor
Não sei não

Porque nasce o espinho
Sem dor
Não sei não

Para que tanto sangue
Não se zangue
Meu coração

Porque o verde não nasce
Na flor
Não sei não

Eu sei o que bate no peito
Eu sei o que gosto de ver
Eu sei o que é tão perfeito
Eu sei o que gosto em você

o dia que eu bem-te-vi
trago sempre comigo

foi mano a mano
esse trocar insano
de olhares e acenos
ideias e planos
foi coisa do destino
isso não se conquista

amiga é amiga
à primeira vista

Fale-me de amor!
Faça um gesto!
Que essa gostosa "matéria prima"
não fique só no verbo,
no sujeito ou predicado...
esqueça até da "rima"
e venha mais pro meu lado!

Era uma Abelhinha tão belinha
que pediu a Deus o que não tinha:
- Quero uma flor e uma amiguinha!
- Quero uma rosa e uma borboletinha!

Deus - que não era nenhum Papai Noel,
que realiza sonhos e desejos a granel -
Deus, que sabe de onde vem o mel,
deu para a Abelinha... espaço no céu.

Acostumada a voar com o pensamento
a Abelhinha se deixou levar pelo vento
aproveitando aquele doce momento:
- Se a felicidade não existe eu invento!

Deus gostou do que ouviu e fez um teste.
- No cacto e na lagarta a cor se manifeste,
entre espinhos a delicadeza mais rupeste
e a flor voe até a mais alta folha do cipreste!

Chamou a Abelhinha e deu o seu presente.
Que vendo a lagarta e o cacto tão contentes
sentiu pela primeira vez uma felicidade latente:
- O amor que a gente sente é amor diferente!

"Quem ama o feio leva cada susto" disse Millôr.
A abelhinha gostar da lagarta e do cacto não é pior
do que fazer do gato sapato ou espinho na flor?
- Na lagarta ou no cacto o que nasceu foi o amor.

Quem tem QI, vai.

Loucura esse teu jeito estranho:
finge que chora enquanto toma banho.

Aqui o inverno é leve
é a paina que cai
no lugar da neve.

Os ratos
estão roendo
teus sonhos
no meu armário
quem mandou
você
guardar tanto sonho otário
joga teus sonhos
no lixo
tira
o recheio de lá
sonhos não enchem
barriga
intriga
de quem não sabe
sonhar.

coisa singular
dois olhos
em um só
olhar.

não entendo nada
que não seja esse
momento
leve assim
leve o vento
leve-me sorriso
leve teu
tormento

joão de barro
de joão
de casa
barro foi feito caminho.
caseiro e
pedra
sentados
fazem sentido sozinhos.
quem teve
caso
com pedra
pisa com muito carinho.
que pedra
no meio
mais que pedra
é casa de passarinho.

Eu, no retrato
não sou um.
Sou três por quatro.