Coleção pessoal de MARTAPACHECO
Quando fazemos angu (polenta), normalmente, fica uma rapa grudada na panela. Um pode ficar um bom tempo raspando a panela com uma colher; outro pode colocar a panela de molho e esperar a rapa sair por si. Há coisas na vida que precisam ser colocadas de molho: é preciso ter paciência para resolver determinados problemas. Considerando, ainda, que há problemas que não esperam; são aqueles que precisamos do uso da força para resolvermos no momento em que surgem. Façamos o bom exercício da nossa sabedoria para distinguirmos um do outro. (Marta Pacheco)
A leveza poderia ser eterna
Momentos de felicidade poderiam ser mais duradouros
O silêncio poderia ser escutado todas as noites
A vida poderia ser um incessante brilho
A infância poderia se enraizar intimamente
O amor poderia trazer um novo sabor e que fosse sem dor
Os paralelos poderiam se quebrar e se encontrar
O mundo poderia mudar de cor
Seria mais sereno poder escolher o sabor
E a caminhada partiria de um SE
Sem as encruzilhadas do impossível
* Por uma vida que peça bis
As coisas nos marcam de uma forma que muitas vezes não esperamos. Existem marcas que nunca se apagam sem chance de escolhas. Mas, há marcas que são plantadas e cuidadas todos os dias porque nos fazem tão bem que precisamos muito mais que suas sombras.
Eu escolho a simplicidade das formas. O simples se mistura ao belo de maneira tão harmônica que nos brilha os olhos. Pudera eu reinventar formas multiplicando traços e chegando a novos compassos! As formas são passos de dança ensaiados minuciosamente para uma peça única que não se repete no mesmo tempo e espaço.
Somos sobreviventes.
Somos guerreiros.
Sofremos tropeços.
Sentimos as quedas.
Superamos derrotas.
Vivemos o medo.
Distinguimos o que não podemos.
E sobressaímos nunca mais os mesmos.
São lutas diárias.
São apertos.
De tudo fica a certeza: o hoje é um dia.
O passado são pedras.
E somos nós que vamos escolher o que vamos fazer com elas.
Eu sonho
Posso flutuar sobre um caminho iluminado
Folhas em terra úmida: samambaia
Terra escura que exala o seu cheiro
Água pura da nascente
Posso sentir o nada, o espaço, o vazio
Qualquer coisa que me leve ao céu
Se for a morte, deve ser um sentimento bom
Se for mesmo um sonho, que dure até o amanhecer
Raios puros de um sol que se mantém escondido
A calmaria
A paz
A mistura de calor com frio na temperatura aconchegante
Não há medo
Não há dor
Não há inércia
Só o ar
Que bom é navegar em um sonho
Morfina
Escolha o melhor caminho
Por onde você passar deixe a marca do seu ser
Externize o seu Eu
Carimbe com a sua alma o que tocar
A vida se resume nas suas atitudes
Que seja sempre você
Quando se abre a janela
Sopra o vento
Entra a luz
Suaviza a alma
Permite o mundo entrar
A janela
O vento
A luz
O mundo
Você
A cada dia um olhar
Hoje, estou triste e a visão é triste
Hoje, estou alegre e a visão é alegre
O inverso do inverso
Abra a janela
Deixe a energia entrar
Hoje, a visão é esta e você se torna alegre
Hoje, a visão é real e você está alegre
É debruçar
Contemplar
Respirar
Inspirar
Fixar o melhor instante
Roubar no seu ficar
Há dias de sol
Um brilho no olhar
Sentimos novos
Pessoas tão iguais
Multiplicam-se os sorrisos
Esperanças novas querem brotar
Uma calmaria não mais distante
O infinito no olhar
Abrem-se janelas
Dobram-se cortinas
Envergam-se corpos
É um novo despertar
Lembranças tristes são costuradas
Dobradas
Não esquecidas
Mas o novo é sonhar
Eu gosto de guardar lembranças
Guardo lembranças na memória
Guardo lembranças no coração
Guardo
Lembranças eu guardo
Coração sente e não chora
Lembranças eu coleciono
Miudagens
Papéis de bombom
Rosas desidratadas
Emails (cartas modernas)
Discos
CDs
Tudo eu guardo
O meu tudo é selecionado
O meu tudo é o melhor a ser lembrado
Mas, eu guardo
Não interessa quem passa na rua
Dance!
Se alegria ou tristeza
Só dance!
Para quem perdeu o compasso
Relance!
Para todos os desafinados, meu Deus
Nuance!
Solidão?
Romance
Eu nunca estou sozinha. Até quando eu só vejo a minha própria sombra, eu sei que você está comigo. Ainda que seja em pensamento, em oração, alguém sempre está. O bom mesmo é fazer parte também da vida de alguém e assim ninguém estará só. A solidão só é positiva quando é a melhor opção para um momento.
Você acorda
O ar não é o mesmo de antes
A luz do dia não satisfaz
O silêncio faz barulho
O barulho não quer calar
Não há cheiro nem cor
Só há o dissabor
Colocar o pé no chão para levantar exige uma força imensa
Não há planejamento audacioso
Não há trégua
A cara feia no espelho ao escovar os dentes
Os cabelos despenteados vão ficar
Um banho adiado
Para que mesmo acordar?
Serviços domésticos tão fúteis
Trabalho monótono?
Só resta mesmo enfeitar
É despertar
Ruas despovoadas
Não se ouve mais um "bom dia"
Não se vê flores nos jardins
Não há o entregador de leite
Não há crianças na rua
O vazio que persiste em ficar
Por horas a fio, o tédio sombrio de quem não pôde brilhar
Há pessoas que nascem para descobrir fórmulas de vida
Há pessoas que querem ensinar
O coração cheio de experiências
Mas, não há chuvas para o conhecimento brotar
Se "o coração é seu e cara é dos outros",
Engula o tédio qual saliva amarga
E reaprenda o seu novo despertar
Cada dia pode ser o recomeço
Cada noite pode o subconsciente se armar
E você vence seu tédio
Exatamente com o que você mais apreciar.
Tema indicado por Neide Aparecida Dumont - folhas verdes na calçada se espalhando como a nova esperança que surge. Não desista nunca! Portas se fecham. O Nosso Senhor derruba as muralhas.
*Espero que goste! Tenho uma dificuldade imensa em compartilhar o que escrevo. Sempre acho que ainda é só um rascunho.
Há risco mesmo quando decidimos ficar parados. A sensação de que existe uma neblina a nossa frente não vai passar se não a invadirmos. É respirar fundo e saber que não estamos presos ao ponto de partida para o qual podemos retornar. Há o momento de seguir. Taquicardia. O estômago que embrulha. Suor. Boca seca. Incerteza. É uma corda bamba. Um caminho que se encerra no final de uma batalha para um novo trilhar. Podemos, agora, até voar. E quem pensou que a palavra seria descansar?
Eu me inspiro no grande poeta e músico, AA, para escrever os meus atuais versos. Este é um momento transitório. É preciso um estado de êxtase para escrever. Não sei praticar meditação mas para escrever esvazio a mente. Palavras caem como folhas secas em dias de inverno. É semelhante ao médium que psicografa. A diferença é que as palavras surgem do meu próprio espírito e eu vou. É descer degraus desenhados por essas palavras simples que muito conheço mas não conhecia em conjunto. Hoje, eu escrevo versos como quem borda cada ponto ou costura cada retalho. Eu descarrego sentimentos vivos de uma vida triste que traz dor. E dor não me serve pra mais nada.
Subitamente, você pára na beira de um abismo
É uma visão bem mais ampla que o mar
São novos ares
Novos ventos
Um estar próximo às nuvens que nos faz até acreditar no céu
Respiração
Inspiração
Uma adornação tão singela e natural
Não há vazio
Não há medo
Não há sensação alguma de um esbarro nas costas
É só o ficar
Quem pensa em suicídio numa beira de abismo?
É quem não sabe a doce sensação de poder ali navegar.
Às vezes, perdemos
Na maioria das vezes perdemos
Às vezes ganhamos
São poucas vezes?
As vitórias são saudavelmente mais lembradas
Não importa a quantidade
Não importa a intensidade
Toda vitória tem o sabor da melhor fruta
Tem a cor mais bonita de um arco-iris
É a mais bela fotografia
A mais afinada voz
O melhor vôo
A grande faceta
hahahahahaha
A grande busca
O verdadeiro loop
O ápice daquela noite
E que bobagem é a perda!
Balanço sem criança
Rede sem preguiça
Bandeirolas de roupas
Ferrugem na decomposição
Tapete verde em desuso
Camada de girassóis ao chão
São ipês amarelos da remissão
Um click que pára o tempo
Pára o espaço
Esboça a forma
A pintura que não borra
A doce magia da criação
Moldura nítida da memória
Em traços finos da emoção