Coleção pessoal de marintimo
Difícil mesmo é não falar de amor e não vivê – lo, por isso, eu sempre amo. Um gesto, uma coisa, alguém. Eu sempre amo, em vida, em morte, em linha. O amor é um enlevo, para raros, para os que são feitos e por ele vivem e sobrevivem. Bonito é amar a si mesmo, esse seu jeito que transborda defeitos mas que arranca risos, lágrimas, poesia. Não falar de amor é não falar de vida, é respirar o que de mais essencial existe e ainda sim desprezá – lo como se o fosse encontrar em cada beijo roubado. Amor cobrado não compensa o amor perdido. Amor não se pede, não se mede, não carece de amor. Amor é amor, no seu imperativo, cujo adjetivo é absoluto e completo para o lábio que nunca pronunciou tamanha beleza. Amar é nadar contra a maré da razão que teima em dominar o coração do homem que nasceu pra viver através dos seus ímpetos.
Existir ainda é pouco..
Entre tantas existências sem sentido, precisamos apenas absorver o melhor da vida onde cada gole solvido nos embriague com um pouco mais de lucidez. Assim faremos com que a realidade hesite bater em nossa porta e nossos olhos fechem para a mesma, cegos de sentido e cheios de devaneio. Precisamos retirar a névoa que os perturba.
Na eterna busca pelo irreal, a farsa pode virar realidade. Ela se adapta ao visível e reflete no espelho a nossa insatisfação. É mais do que preciso viver a vida deixando os pensamentos perecidos nos seus devidos lugares, que eles sirvam de engate para uma nova descoberta e não sejam os eternos comandantes da nossa navegação. Oscilamos tanto no meio de incontáveis ondas que nos afligem todos os dias.
Que todos os nossos escritos sejam verídicos, mesmo que no fundo não os conheçamos devidamente. Ao escrever, permitimos viver um mundo que muitas vezes não é nosso, mas que existe nas entrelinhas, nas linhas dos nossos pensamentos conturbados de amor e suas vertentes. Que a nossa vida não se limite as possíveis definições que colocamos no papel. O que move os desejos para a realização é o que ainda não palpamos. Viver não é tocar apenas o que desejas. Viver é também , ansiar o inexistente e ainda sim, sentí – lo. Que tomemos nos braços a vida com suas verdades para que o último gole não seja tão seco quanto o primeiro que foi dado.
"O coração às vezes é contido pelos alaridos interrogados da minha mente, e mesmo que ele queira esquivar - se do que sente , convenço - o de que melhor é viver o que sempre esteve prestes a acontecer. Por que por mais que minhas palavras entornem razão, a emoção que as expulsa é mais forte do que qualquer raciocínio lógico. Fechando os olhos ao sentir tais palavras que me caem com uma luva de pelica, eu aceito. É incabível não viver o que se sente."
"Quero me elucidar, mas , não encontro palavras que possam definir tamanha perturbação. Não me encaixo em nenhuma acepção, não me encaixo ao bem. É uma mistura de sentimentos desconhecidos, inconstantes. Sei a essência que neles predomina. Tristeza que se esconde no final do corredor onde chorei tantas vezes sozinha, me aflige e me torna perceptivelmente tão fraca e pequena a cada passo que não dou, a cada suspiro lento que almejo na busca da paz de espírito, uma explicação. Me sinto fadada ao fim dos meus sentimentos causadores de uma pulsação quem sabe um pouco mais forte, menos previsível. Talvez o dia amanhã me faça mais sentido, me traga um pouco mais de ser. A minha essência é dilacerada quando me sinto assim, incompleta esperando que o sono feche as janelas da minha alma para a noite, mudando o caminho das minhas lágrimas e do meu corpo."
Morrer de amor..
Ela ainda vive com as asas que lhe foram dadas, o coração na boca liberto e cansado de tantas outras quedas, um pé no chão como atalho pra qualquer fuga.
Não recebe nada em troca, ainda tem o seu amor como garantia e esse, talvez só dure em liberdade.
Pincela em rostos estranhos o que tanto sonhara ou ao menos, imagina em outros quadros os olhos que deseja admirar sem desvios. Os muros do seu coração caem por terra a cada amanhecer em que seus desejos não são dissipados.
Mesmo à beira da loucura e inconstante, ela segue. Que ninguém tente lhe arrancar desse devaneio, a vida pra ela é só mais um, talvez o mais doce e perturbador.
Entorpecida, pressiona a razão pra que ela escorra entre os dedos. Não sabe amar pela metade. Vive pra morrer de amor.
"Sou o avesso do meu próprio caminho,
mais sutil do que meus versos,
olhar pouco traiçoeiro,
sou reticências.
Meu ímpeto coloca - se á frente da razão,
meu riso mantém - se solto e vermelho.
Nasci subjetiva e talvez eu morra assim;
com as mentiras mais deleitosas,
o copo derramando verdades impróprias,
coração repleto de amor pra esquecer.
Mergulhei no egoísmo de me amar apenas
e mais do que qualquer outro.
É preferível morrer no seu próprio mar a
ser mais um sobrevivente da falta de consciência daqueles
que nasceram apenas pra ocupar espaço.
De vazio cheio de dúvida já me basta esse que me foi designado.
Não me vacinei contra os mal intencionados e indecisos como eu,
me vacinei contra a tristeza prolongada,
contra o jeito grotesco de viver.
Só não quero morrer sem ao menos saber
por que motivo me colocaram aqui.
Não quero a vida imperativa,
quero a não definida, a infinita
- se possível."
Ainda
Eu ainda queria amar você. Ver meu ar ir embora diante da tua presença, meu coração pular com seus beijos, com suas mãos dançando no meu corpo. Eu queria ainda precisar de você com essa sua razão admirável, com esse amor tão supremo, tão completo. Queria chorar com a sua ausência, com sua presença. Chorar por você, eu ainda queria. Me afogar nas lágrimas vermelhas que secaram com o tempo tão pouco lento mas, tão certeiro. Eu ainda queria te ter em meus braços, te ler poemas novos, cantar algumas músicas que aprendi nesse tempo em que nos mantemos longe. Queria lhe mostrar meu livro, tão pouco bem escrito mas que transborda bons momentos, bons sentimentos - te aguardo na noite mais esperada.
Queria te olhar, te lembrar nossas risadas, meu riso vermelho, nossa raiva. Queria te mostrar minha existência tão plena, tão cheia de problemas, tão cheia de amor. Escrever uma poesia, por você eu ainda queria. A tênue linha que nos separa, o fino laço que aqui ficou, ainda me faz viver bem, ainda me faz lhe desejar o bem. Eu apenas quero. Por isso, não realize o que desejo. O ainda me deixa em um melhor estado de espírito do que aquele que respirei ao seu lado. Pra guardar apenas boas lembranças, o ainda não pode ser saciado. Espécie de desejo contínuo que jamais pode ser resgatado.
Cansaço
Deitar no campo imaturo da minha esperança. Abraçar o mundo sem medo. Meu desejo aumenta a cada dia em que essa visão mecanicista tenta me dominar. Cambaleei e ainda estou aqui entregue aos sentimentos inundados pelo amor , tão pouco repetitivo, tão imprevisível, bem mais humano. Cansaço absoluto. Limite. Vislumbro a fronteira do meu tempo, das minhas forças, da minha vontade de permanecer de pé. A estrada que caminhei chega ao seu fim a cada hora, me deixa aos prantos de tanto cansaço e respiro feliz. Que mundo injusto, ainda preciso cuidar dos meus ferimentos e esperar que eles cicatrizem. Ainda preciso entornar amor no coração daqueles que me apunhalam, que me entregam ao meu instinto. Eu não quero usá – lo, sei do seu estrago. Tranqüilidade intangível. As horas passam e mesmo abandonada por aquela que me faz colocar no papel o que menos entendo, eu ainda tenho um bom sentimento pela vida. Ela que tão pouco sabe de mim, ela que tão pouco me ama, que tão pouco me quer, eu ainda a amo. Entre uma dor e um beijo que ganhamos do mundo, fingir amor pela vida faz – nos perder o verdadeiro amor por nós mesmos.