Coleção pessoal de MarinaSereno
Respirei fundo e manti o foco no objetivo. O meu fôlego teimava em não ser constante, cortado pelos lampejos de medo e dor. A coragem que havia achado nos sonhos havia se perdido novamente diante ao desafio. Não podia ter erros, não havia o direito de tê-los. A menina do espelho olhava fixamente para mim, ansiando a hora da minha queda, podia ver seu sorriso de canto de boca. Não havia tempo e precisava fazê-lo - se não, me custariam horas de sofrimento por ter sido fraca de novo.
A maior luta é aquela em que envolve você e seu reflexo.
A menina do espelho se prepara para revanche.
O medo. Ele nos faz de marionetes, nos usam, invade nossos pensamentos, delira nossos sonhos, os fazendo pesadelos. E o medo não afasta mal nenhum de ti, só faz com que a causa seja mais penada ao acontecer. O medo não faz nada além de aterrorizar. Ele tem energia negativa, faz as coisas boas não serem tão boas assim. O meu medo de estar feliz é cair de novo. Esse sorriso me assusta. Me preparo para qualquer queda, qualquer dor. Mas me sinto pressionada. Sem ar. É difícil aproveitar assim.
Uma falta de ar. Olhos marejados. Um coração batendo apertado comprimido contra o abraço mais forte que eu poderia dar. Queria sincronizá-lo com seu, guardar cada detalhe seu em mim. Peguei tudo que pude enquanto nosso abraço parava o tempo. Tentei fechar os olhos e notar cada pedaço seu encostado em mim. Sua bochecha colada na minha, seus braços me segurando forte. Me dói te ver partir. Me dói mais ainda os dias sem ti. Me dói acordar sabendo que falta tanto para te ver. Compensa saber da nossa eternidade, certeza. Porque eu não viveria sem você. É fato. Agora que achei meu inteiro, não conseguiria ser metade de novo. Todo o meu ser está em você. O sorriso que risca minha face é teu.
Tristeza seguida de paz, de conforto. Boca com gostinho da tua. Mas a saudade, a maior do mundo, castiga
Vida por vida. Felicidade por felicidade. Somos um só. Metade, metade. Juntos, inteiros.
Preciso de você tanto quanto preciso de ar. E meu sorriso só é existente quando a causa é tua.
Eu criei todos os meus inimigos, um a um, diretamente ou não. Alguns odeiam fielmente a minha pessoa, outros apenas não gostaram da impressão que eu deixei ao me ver passar. E muitos me odeiam simplesmente por não ser eu. Paradoxal e insano. Isso que eu chamo. Eles tentam, mas cada um é bom na arte de se ser. Se quer tanto ser quem eu sou por que não sofrer o que eu sofro? Ou você achava que minha vida se resume nesse sorriso barato que coloco em meu semblante? Posso ser o que você achar que sou, pode ser o que você achar que é, mas que a verdade seja dita: o verdadeiro ser está nos olhos, e o brilho dos meus você realmente não tem.
As palavras não foram feitas para serem jogadas pelo vento. Elas foram feitas para serem direcionadas a todos aqueles que querem ouvir, para que eles possam guardá-las e levá-las pelo resto da vida.
Isso não acontece com as minhas palavras.
Elas são jogadas de modo brutal, ninguém se importa, ninguém lê, ninguém ouve.
São deixadas para trás como lixo, as pessoas passam por elas constantemente e teimam em não olhar na sua direção.
E eu, a dona das palavras, me sinto ignorada, alguém que tanto que falar e ninguém se dispõe a ouvir.
Como sempre, sou deixada de lado. E me sinto só.
Se tens tanto que ir, por que continuas a ficar? Por que tu deixas parte de ti comigo?
A lembrança. A saudade. Não são minhas. São suas. Me perco nelas. Me deixo por aí, olhando para cima e lembrando das juras trocadas, beijos e abraços.
E por me perder nelas que tudo se torna tão difícil. Mas por ser parte de você, é inevitável que eu não me entregue.
E fico esperando, com as suas partes que me foram deixadas que o meu inteiro chegue para fazer do meu sorriso maior que eu.
Sempre acontece. E é isso que envenena minha mente, dispara o coração. Meu medo, ele não é próprio. Não é individual. Vem de uma parte pequena do meu ser, que tem a capacidade de me controlar por inteira. Eu não sei controlá-lo. Não sei medir. Sei como sentí-lo, sei como me machucar. Esses arranhões na minha pele, não são tão superficiais assim. Vem dele. Desse cancêr que pulsa em minhas veias, que mora na minha falta de ar.
Ele toma conta de tudo. Ele é onipotente. Maior que tudo. O ciúmes.
Será que alguém se importa? Ou será só meu ego jorrando do meu ser e formando uma poça de mim? Eu sinto que estou cercada. Por mim. Olho para os lados e só vejo meus sentimentos, minhas emoções. E acho que estou sozinha nesse circo. Acho que ninguém olha para mim, com pena ou horror. Ninguém ao menos olha. Ninguém quer saber a fundo o que se passa aqui. E viro platéia do meu próprio filme. Viro vilã da minha própria história.
Só me sinto só.
A dor da perda é indescritível. Cada vez que me vem sua lembrança na cabeça, é como se fosse novidade o fato de você ter ido. Passa um choque por todo o meu corpo e para no coração. Que bate desenfreadamente, bate sem ritmo, clama teu nome. Tuas memórias foram tudo que me restaram além das suas coisas. O lugar onde viveu, é doloroso olhar na direção do seu berço. É doloroso acordar. Dormir. Respirar.
O ar entre e sai, mas não há diferença nenhuma aqui dentro, morri.