Coleção pessoal de marilianacifbarbosa
FOI ASSIM...
Tal como um cedro banido da terra
Por mãos assaz cruéis e gigantescas,
Nela deixando um rastro de guerra
E, no solo, feridas bem grotescas...
Tal como um corpo celeste que erra
No espaço, em curvas romanescas,
Perdido o brilho que em si encerra,
Ao vácuo fosse em espirais dantescas...
Foi assim...assim... e muito mais,
A perda tanto e tão sentidos ais,
Que no passar do tempo não se esvai.
Chegaram dores em dias cruciais,
Ausência eterna em vazios abismais,
Foi bem assim, quando morreu meu pai...
Lembrando meus pais.
ESTAIS EM MIM
Habitais em minha face
nas fibras dos meus cabelos
nos pigmentos da minha pele
no carmim do meu sangue.
Estais refletidos
em meu modo de sorrir,
de pensar,
de sentir
e de falar.
Estais em mim
entrelaçados,
cingidos,
amalgamados.
Sou célula fecundada
onde a seiva das sementes
construiu sua morada.
Deixastes a humanidade,
mas legastes ao meu eu
tudo o que vos pertenceu.
E fostes convertidos no nada
na vastidão da eternidade.
ADVERSAMENTE
lua crescente
noite longa e fria
adormeço em leito
macio e quente
envolta em manto
de cetim...
antes
tu adormeces
ao relento
manto bordado
de orvalho e vento
turva o teu carmim...
amanheces
do teu sono
com um perfume
todo teu
e tu
rosa de outono
tu me pareces
mais radiante
do que eu.
ILHA PERDIDA
há uma ilha perdida
no mapa do meu ser
onde o passado
gravou teus passos
mal dados
mal traçados
e o som da tua fala mansa
de frases imprecisas
palavras maltrapilhas
– fel em meus sentidos –
e nessa ilha perdida
no mapa do meu ser
sem lume e sem guarida
procuro tua sombra.
ALIENAÇÃO
Estou de bem com a vida
de bem com a morte
o amor
o desamor
a verdade e a mentira
sinceridade, hipocrisia
silêncio e balbúrdia
boas e más intenções...
Se me dizem alienada
com a cabeça nas nuvens
pois faço poesia
enquanto a maioria
prefere pornografia
e o crime anda solto
há fome no mundo
e há guerra
na Terra
bombas estilhaçam corpos
jovens e robustos
e drogas enlouquecem...
Sonhar vale nada
a vida menos ainda
o mal vai decidindo
o futuro das massas
enquanto a injustiça grassa
cadeia não pega graúdo
dinheiro compra tudo.
Não posso carregar
a dor do mundo
em breve passarei
só poemas deixarei
não importa o sol se pôr
matéria foi feita
pra se decompor.
06-11-2015
MEU RETRATO
Imprimi na tela meu sentir em cores,
De vivos tons e brilhos cintilantes,
E misturei na tinta sonhos multicores
E o luzir das emoções constantes.
E a cada sonho meu, trocado em dores,
Se ofuscava o brilho, outrora fulgurante,
Mas unindo esperança aos meus pendores,
Renovava a tinta com o fulgor de antes.
Reavivada, assim, mil vezes repetidas,
Com pinceladas novas, devolvi o encanto
Da minha vida a se espelhar na tela.
Por fim, desfeito o encanto, as cores fenecidas,
A tela desbotada abandonei num canto,
E enxugando pranto, contemplei-me nela.
Um lugar ao Sol
Na minha sala de estar
quadros pintados por mim...
- esforço de acertar.
Um sapatinho de cobre
uma lembrança tão nobre
de sincera amizade.
Há flores no meu jardim,
adornos da natureza,
em cachepôs de xaxim.
Nenhum vaso de cristal
de traçado ornamental
sem estória,
sem memória...
E em cada mesa de canto, abajures reformados,
sozinhos, abnegados,
iluminam meu recanto.
Sumo segredo é a VIDA.
A morte, estranho dilema.
São a chegada e a partida,
de Deus, vontade suprema.
Mãe – abrigo dos sem teto,
agasalho do sem manto,
conforto do inquieto
que se acalma com seu canto.
Religião e suas crenças,
são uma fuga constante.
Da dor e tantas doenças,
Socorro a todo o instante.