Coleção pessoal de mariakarolina
Eu acho, que talvez, qualquer dia desses, a gente podia se encontrar um no outro, do jeito que eu desconfio que seja o amor.
A gente passa a vida toda, ou uma boa parte dela, atrás de objetivos, acontecimentos do próximo fim de samana, próximos meses ou próximos anos, que quando chegam os objetivos já mudaram, a gente mudou. Objetivos são nada mais que um motivo pra não ficarmos parados, querendo ou não, é a expectativa que te move, porque viver um dia de cada vez é muito difícil.
No fundo, bem lá no fundo o que eu sinto é saudade, saudade de coisas que eu nunca vivi, do que eu não senti. Eu ando por aí procurando o que me conforte, uma amiga, uma música, uma frase, qualquer coisa que me passe a sensação de eu não estar sozinha nessa. Preciso saber se alguém entende cada letra dos meus pensamentos, cada curva dessa minha estrada cheia de medos, uma pessoa que pudesse voltar sem eu ter que pedir e sem me pedir, com a única intenção, a de se encaixar. Mas como isso seria possivel? Ninguém se entende completamente, seria pedir demais pra alguém, além de se entender me entender também. Por isso, exatamente por esse tipo de motivo, eu vou indo assim mesmo, caindo e levantando, botando qualquer coisa que eu sinto no bolso, guardando pra depois. Mas eu cansei, semana passada foi a ultima vez que eu congelei alguém pra ir procurar algo melhor, isso só me ilude, enquanto eu demoro pra deixar ir embora pessoas que eu já devia ter deixado, é egoísmo demais.
As coisas cedo ou tarde enjoam, nós nos acostumamos e tudo fica tão monótomo, sem sal, sem graça, as vezes antes do que gostaríamos. Passamos a notar os defeitos que antes, por mais que já existissem estavam escondidos em baixo de tanta perfeição da novidade. Estamos sempre em busca de coisas, pessoas, lugares novos, nos preocupamos tanto em viver sem tédio que isso se torna tedioso. As coisas não mudam, quem muda somos nós e mudar não é uma coisa ruim, só devemos manter nossos princípios e não esquecer nossas essências, por outro lado, não se apegar em nada e descartar tão fácil as coisas as vezes também cansa, por culpa desse desapego exagerado a bagagem acaba ficando vazia.
Fizeram a gente acreditar que amor mesmo, amor pra valer, só acontece uma vez, geralmente antes dos 30 anos. Não contaram pra nós que amor não é racionado nem chega com hora marcada.
Fizeram a gente acreditar que cada um de nós é a metade de uma laranja, e que a vida só ganha sentido quando encontramos a outra metade. Não contaram que já nascemos inteiros, que ninguém em nossa vida merece carregar nas costas a responsabilidade de completar o que nos falta: a gente cresce através da gente mesmo. Se estivermos em boa companhia, é só mais rápido.
Fizeram a gente acreditar numa fórmula chamada "dois em um", duas pessoas pensando igual, agindo igual, que isso era que funcionava. Não nos contaram que isso tem nome: anulação. Que só sendo indivíduos com personalidade própria é que poderemos ter uma relação saudável.
Fizeram a gente acreditar que casamento é obrigatório e que desejos fora de hora devem ser reprimidos. Fizeram a gente acreditar que os bonitos e magros são mais amados, que os que transam pouco são caretas, que os que transam muito não são confiáveis, e que sempre haverá um chinelo velho para um pé torto. Ninguém nos disse que chinelos velhos também têm seu valor, já que não nos machucam, e que existe mais cabeças tortas do que pés.
Fizeram a gente acreditar que só há uma fórmula de ser feliz, a mesma para todos, e os que escapam dela estão condenados à marginalidade. Não nos contaram que estas fórmulas dão errado, frustram as pessoas, são alienantes, e que poderíamos tentar outras alternativas menos convencionais.