Coleção pessoal de MarcoARCoura

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Expressão da Alma

Um dia me perguntaram:
“O que é a poesia?”

E eu então respondi:
“É a expressão da alma
Em forma de melodia.”

E daí me questionaram:
“Você se sente um poeta?”

Foi quando esclareci:
“Sou simplesmente mineiro.
Todo mineiro é poeta…
Tal qual cada brasileiro.”

Renascer

O sol nasce… Mas se põe
O sol se põe… Mas renasce
Ele sempre faz assim.
Talvez seja o destino
Deste ancião-menino…
Este é o seu ciclo sem fim.

A lua nasce e então cresce
Vê-se plena e vai minguando…
Mas depois rejuvenesce
Ainda com mais vigor
Ela sempre faz assim.
Talvez esta seja a sina
Desta anciã-menina…
Este é o seu ciclo sem fim.

Não tenho o fulgor do sol
Nem o esplendor da lua
Mas quem dera eu possa ter
Esse dom de renascer.

Presente

Eu ganhei um canivete
Bem antigo, desgastado
Certamente tão usado
Por esse meu doador.

Não imagino o seu preço
Mas como ele tem valor!
Doou-me com tanto amor,
Nem mesmo sei se o mereço

Sempre que o tenho nas mãos
Uma lágrima me cai...
Este velho canivete
Eu o ganhei de meu pai.

Hospedagem

Viver é chegar…
Então se hospedar
E depois partir.

Chegada
Hospedagem
Partida…
Fases integrantes da mesma jornada

Mas o coração não se esquece:
Aquele que chega e nele se hospeda
Mesmo quando parte, ali permanece.

SABIÁ-LARANJEIRA

Quão belas são as lembranças
Lá dos tempos de criança...

Sendo um bom homem do campo
Meu pai tinha antigos pios.
E tal como a brincar
Ficávamos a imitar
Dos pássaros, os assobios.

Qual era a nossa emoção
Quando os pássaros nos ouviam!
E, então, retribuíam
Com uma linda canção!

E ontem, ao entardecer,
Sem querer voltei no tempo...
Ouvi um doce assobio
Vindo de uma paineira.
E mal pude acreditar
Lá estava a cantarolar
Um sabiá-laranjeira.

Revivendo meu passado
Eu ouvi, maravilhado,
Seu impecável assobio.

Desta vez fiquei calado
E com os olhos marejados
Eu não dei sequer um pio.

Serenidade

Vi um casal caminhando
Cá em solo brasileiro
Pelo jeito e sotaque
Era gente do estrangeiro

No colo da mãe dormia
Um bebê, despreocupado,
Sem jamais imaginar
O que se passava ao seu lado.

O marido, cabisbaixo reclamava
A esposa, entristecida murmurava…

Nada estava dando certo
Para aquela jovem família
Pois no ar se percebia
Desalento e agonia.

Talvez longe de sua terra,
Sem emprego ou sem dinheiro,
O casal sentisse incerto
Seu futuro e paradeiro

Mas no colo de sua mãe
No final daquele dia
O bebê, bem sossegado,
Serenamente dormia…
E ao olhá-lo mais de perto
Percebi que até sorria.

Quem dera este nosso mundo
Tão antigo e tão moderno
Pudesse ser, tão somente,
Um suave colo materno.

Seu doce colo

Sonhei que voltei no tempo
E realizei meu maior desejo…
Deitei-me em teu doce colo
E recebi um beijinho teu…
E apenas sussurrei: “Minha mãe!”

De repente, duas lágrimas de felicidade
Escorreram de meus olhos…

Acordei, voltando ao meu tempo…
Não mais senti o teu doce colo,
Não mais senti o beijinho teu…
E apenas sussurrei: “Minha mãe!”

De repente duas lágrimas de saudade
Escorreram de meus olhos…

NINHO VAZIO

Dois bonitos passarinhos
Que voavam por aí
Um dia se encontraram
E logo se apaixonaram

Construíram um belo ninho
Simples, mas aconchegante
Então vieram os filhotinhos
Felizes e esfuziantes

A família aumentou
E a trabalheira também…
Ter comida e segurança
Não é fácil pra ninguém

O casal de passarinhos
Com integral dedicação
Transmitiu aos seus filhinhos
Respeito e educação

E assim, dia após dia,
Numa luta sem parar
Os pequenos filhotinhos
Aprenderam a voar

Mas em uma tarde voaram
E já não voltaram mais…
Foram construir seus ninhos
Seguindo os próprios caminhos
Como um dia, lá atrás,
Também o fizeram seus pais

Então, assim de repente
O ninho aconchegante
Que era tão quente e seguro
Ficou triste, escuro e frio
Tornou-se um ninho vazio

E o casal de passarinhos
Lá na varanda do ninho
Hoje fica a murmurar
Esperando que numa tarde
Os filhotes reapareçam...
E que voltem pra ficar.

PENSAMENTO

Não posso respirar
Lá no fundo do mar...

Mas meus pensamentos
Mergulham por horas
No oceano profundo
Da minha existência

Não posso ficar
Flutuando no ar...

Mas meus pensamentos
Mergulham por horas
No horizonte infinito
Da minha existência

Como é bom poder pensar!

Pensando eu viajo ao fundo do mar
Ao topo do céu
A qualquer lugar!

Sem saber quando parar
Sem ter pressa pra voltar

Nunca deixe alguém ceifar
A tua liberdade de pensar
E de se manifestar...

O pensamento é um direito
Que merece e exige respeito.

RIO

Tal como um constante rio
Ora calmo, ora bravio
Eu vou seguindo o meu curso...

Meu destino é alcançar
Em algum momento e lugar
A imensidão do lindo mar

No caminho há remansos
E momentos de harmonia
Mas também há cachoeiras,
Rochedos e ribanceiras.

Muitos são os desafios
Que eu tenho enfrentado...
E tantos são os problemas
Que eu tenho contornado.

Mas há também as alegrias
Que inundam meus belos dias

E vou seguindo, sem parar
Quer apressado ou devagar
Como um constante rio
Em busca do lindo mar.

(In)sanidade

Alguns dizem que sou são…
Outros dizem que sou louco…
Todos eles têm razão:
Sou de cada um, um pouco.

Porta do céu

Aquela nuvem - a mais bela,
Retocada com pincel!
Não seria, talvez, ela,
A porta que dá pro céu?

Ponte

Antes que a vida
A ti desaponte
Soluções aponte!
Evite ser muro,
Procure ser ponte!

Bem-te-vi

O teu canto, bem-te-vi,
Bem que vi quanto me aquece!
O teu canto é mais que um canto…
O teu canto é um encanto!
É teu canto uma prece!

Benção

“A sua benção, papai!
A sua benção, mamãe!”

“Meu filho, Deus te abençoe!”

É pena que hoje pensem
Que esse tempo já se foi…

Pois a benção de uma mãe…
Pois a benção de um pai…
É benção que não se esquece!
É benção que sempre aquece!
É benção que permanece!
É benção que não se vai.

Fortaleza

Apesar dos problemas da vida…
Apesar dos dilemas da morte…
Apesar dessa dor tão doída…
Eu me sinto cada vez mais forte.

Contágio

Se a pandemia é contagiosa
A poesia é contagiante.
Já que a vida nos contagia…
Que seja de poesia!

Sorte grande

Por que estás tão feliz?
Tiraste a sorte grande?
Ganhaste na loteria?

Por que estou tão feliz?
Sim! Tirei a sorte grande!
Deus me deu um novo dia!

Prece aos filhos

E a cada passo
Uma prece eu faço:
“Meu Deus, protegei o destino
Desse cativante menino!”

E a cada passo
Uma prece eu faço:
“Meu Deus, protegei, sim, a sina,
Dessa fascinante menina!”
Amém.

Essência

ESTAR é verbo importante,
SER é verbo essencial.

Sou filho, sou pai, sou neto…
Sou amigo, enfim, sou gente.
Sou um eterno aprendiz
Na constante busca por ser feliz.

Estou doutor, motorista
Estou aluno, professor
Estou pedreiro, artista…

SER é verbo permanente
Que estará sempre presente.
ESTAR é verbo passageiro
Que se finda de repente.

Que no oceano do nosso viver
Flutuemos no verbo ESTAR
Mas mergulhemos no verbo SER.