Coleção pessoal de MarciaRocha15
RÉU CONFESSO
Não me agrada meu pensamento...
Vez ou outra paro e penso
nas rosas que não brotaram e nos lírios que emudeceram,
sem jardim
Concluo, ansiosa, o pensamento...
Quem azulou o firmamento,
verdejou os campos e brilhou as estrelas, cuida de mim,
sem dúvida
O problema não é Ele. Sou eu e o que invento...
É essa dúvida que revoa meu pensamento
e vez ou outra sofro pelas rosas que não brotaram
e pelos lírios
que emudeceram
sem jardim
Pobre de mim quando me afasto d’Ele.
Pobre de mim...
MCRocha
Outono, Escócia. 2024
SER POETA
Sou poeta, finjo,
Não se iluda por mim.
Ser poeta é mesmo assim:
Fala o que não existe,
Feliz, se faz de triste
sempre só para encantar!
Um poeta finge amar
deveras o desconhecido
Achado, se faz perdido
Perdido não quer se achar.
Um poeta faz tudo isso
sempre só pra encantar!
Rir pode! (riram de Jesus, de Copérnico, de Einstein...).
O que a IGNORÂNCIA não pode é impedir o percurso daquilo que ela não acredita.
"O manipulador usa os recursos fornecidos ingenuamente pelo manipulado. Esteja atento e guarde seus valores."
"SORTE nada mais é do que um "interior profundamente verdadeiro e sincero", ao qual o Universo responde!"
METADE
Que a força do medo que tenho
Não me impeça de ver o que anseio;
Que a morte de tudo em que acredito
Não me tape os ouvidos e a boca;
Porque metade de mim é o que eu grito,
Mas a outra metade é silêncio...
Que a música que eu ouço ao longe
Seja linda, ainda que tristeza;
Que a mulher que eu amo seja pra sempre amada
Mesmo que distante;
Porque metade de mim é partida
Mas a outra metade é saudade...
Que as palavras que eu falo
Não sejam ouvidas como prece
E nem repetidas com fervor,
Apenas respeitadas como a única coisa que resta
A um homem inundado de sentimentos;
Porque metade de mim é o que ouço
Mas a outra metade é o que calo...
Que essa minha vontade de ir embora
Se transforme na calma e na paz que eu mereço;
E que essa tensão que me corrói por dentro
Seja um dia recompensada;
Porque metade de mim é o que penso
Mas a outra metade é um vulcão...
Que o medo da solidão se afaste
E que o convívio comigo mesmo
Se torne ao menos suportável;
Que o espelho reflita em meu rosto
Um doce sorriso que me lembro ter dado na infância;
Porque metade de mim é a lembrança do que fui,
A outra metade eu não sei...
Que não seja preciso mais do que uma simples alegria
para me fazer aquietar o espírito
E que o teu silêncio me fale cada vez mais;
Porque metade de mim é abrigo
Mas a outra metade é cansaço...
Que a arte nos aponte uma resposta
Mesmo que ela não saiba
E que ninguém a tente complicar
Porque é preciso simplicidade para fazê-la florescer;
Porque metade de mim é platéia
E a outra metade é canção...
E que a minha loucura seja perdoada
Porque metade de mim é amor
E a outra metade... também.