Coleção pessoal de mailirouponis
Não exatamente como gostas de água, conquanto esta, na verdade, seja capaz de cavar buracos no granito mais duro; mas, antes, como gotas de lacre derretido, gotas que aderem e se incorporam àquilo sobre o que caem, até que, finalmente, a rocha não seja mais que uma só massa escarlate.
Reprimido, o impulso transborda, e a inundação é sentimento; a inundação é paixão; a inundação é loucura até: tudo depende da força da corrente, da altura e da resistência do dique.
As rodas da máquina têm de girar constantemente, mas não podem fazê-lo se não houver quem cuide delas. É preciso que haja homens para cuidar delas, homens tão constantes como as rodas nos seus eixos, homens sãos de espírito, obedientes, satisfeitos em sua estabilidade.
Estabilidade. Não há civilização sem estabilidade social. Não há estabilidade social sem estabilidade individual.
Eram forçados a sentir as coisas intensamente. E, sentindo-as intensamente (intensamente e, além disso, em solidão, no isolamento irremediavelmente individual), como poderiam ter estabilidade?
Não é de admirar que esses pobres pré-modernos fossem loucos, perversos e desventurados. Seu mundo não lhes permitia aceitar as coisas naturalmente, não os deixava ser sãos de espírito, virtuosos, felizes.
Falta de ar, falta de espaço; uma prisão insuficientemente esterilizada; a obscuridade, a doença, os cheiros.
Mas é que, quando não se conhece a História, os fatos relativos ao passado, em geral, parecem mesmo incríveis.
Porque os detalhes, como se sabe, conduzem à virtude e à felicidade; as generalidades são males intelectualmente necessários.