Coleção pessoal de machadob
Madrigal Melancólico
O que eu adoro em ti
Não é a tua beleza
A beleza é em nós que existe
A beleza é um conceito
E a beleza é triste
Não é triste em si
Mas pelo que há nela
De fragilidade e incerteza
O que eu adoro em ti
Não é a tua inteligência
Não é o teu espírito sutil
Tão ágil e tão luminoso
Ave solta no céu matinal da montanha
Nem é a tua ciência
Do coração dos homens e das coisas.
O que eu adoro em ti
Não é a tua graça musical
Sucessiva e renovada a cada momento
Graça aérea como teu próprio momento
Graça que perturba e que satisfaz
O que eu adoro em ti
Não é a mãe que já perdi
E nem meu pai
O que eu adoro em tua natureza
Não é o profundo instinto matinal
Em teu flanco aberto como uma ferida
Nem a tua pureza. Nem a tua impureza.
O que adoro em ti lastima-me e consola-me:
O que eu adoro em ti é a vida!
E eu a amei não pelo jeito que ela dançava com os meus anjos, mas pelo jeito que o som do seu nome conseguia silenciar os meus demônios.
Dizem que o tempo cura todas as feridas, mas, quanto maior é a perda, mais profundo é o corte. E mais difícil é o processo pra ficar inteiro novamente.
Porque quando as pessoas veem bondade, esperam por ela. E não quero ter que viver com as expectativas de ninguém.
Porque no final, quando perdemos alguém, cada vela, cada oração, não compensarão o fato de que a única coisa que sobrou é um buraco na sua vida onde aquela pessoa que você gostava costumava estar...
Sim, minha força está na solidão. Não tenho medo nem de chuvas tempestivas, nem das grandes ventanias soltas, pois eu também sou o escuro da noite.