Coleção pessoal de luuizagoncalves
Saudade é solidão acompanhada,
é quando o amor ainda não foi embora,
mas o amado já.
Saudade é amar um passado que ainda não passou,
é recusar um presente que nos machuca,
é não ver o futuro que nos convida.
Saudade é sentir que existe o que não existe mais.
Saudade é o inferno dos que perderam,
é a dor dos que ficaram para trás,
é o gosto de morte na boca dos que continuam.
Só uma pessoa no mundo deseja sentir saudade:
aquela que nunca amou.
E esse é o maior dos sofrimentos:
não ter por quem sentir saudades,
passar pela vida e não viver.
O maior dos sofrimentos é nunca ter sofrido.
Quando eu te peço pouco é porque eu quero tudo que pode me dar, quando eu te peço pra esquecer é porque quero te fazer lembrar de tudo que passou. Quando eu te digo o que eu não penso é porque eu não paro de pensar. Quando eu tento me esconder é porque eu só quero te mostrar, o que eu ainda sou.
Eu acredito nas casualidades, nos encontros, nas passagens. Nas conversas que temos, nas músicas que cantamos. No que somos e nunca deixamos de ser.
Eu acredito que podemos ser muito fortes, muito mais. Podemos ser como todos, e o tudo pode ser capaz. Eu quero suas mãos, suas ideias e defeitos, que me ensine o seu jeito, enquanto aprende o meu. Quero que faça sentido, que seja proibido, mas que entre nós todos não exista lei. Quero ser tudo que tem graça, que tem gosto e dá pra sentir. Quero o que mais me dá vontade, e quero vontade pra prosseguir. Quero voar, mergulhar, morrer e matar a vontade de querer.
Eu vivo um refrão antigo, feito às pressas, plágio de uma bela melodia. Eu vivo um sonho toda noite, eu vivo a noite todo dia.
Quando parece mentira, é porque é verdade. Os filmes, os livros e as músicas são fruto da imaginação humana, retratos de realidades criadas dentro da nossa cabeça, simulações às vezes utópicas da vida 'como deveria ser'. Pensando assim, a gente se acostuma a achar que, para sermos felizes, temos que aceitar essas mentiras e fazê-las verdades genuínas. Os mais sábios, inclusive, dão-se por satisfeitos ao resignarem-se com a idéia de que a ignorância é pré-requisito pra felicidade e que, como 'seres superiores' que são, não se vêem passíveis de serem acometidos por esse sentimento, mesmo sabendo que ele está por aí, em todo lugar.
Está nos filmes, nos livros e nas músicas, mas não está dentro de nós. A gente lê e relê mil vezes, assiste, grava e revê, ouve a música em volumes ensurdecedores na vã tentativa de capturar esse sentimento, nem que seja por alguns segundos, nem que seja só um pouquinho. E quando parecemos estar sentindo, nosso mecanismo de auto-defesa programa-se para fazer com que a gente ache que tudo aquilo não passa de um placebo para uma doença da alma. Uma doença sem cura.
Aí, há uns 4 ou 5 meses atrás, eu, que sempre fui sábia, cética e conformada com a finitude do amor, com os limites do que se sente e ávida defensora do individualismo, vi tudo mudar perante os meus olhos. E não estava na TV, no papel, nem no meu aparelho de som. E, definitivamente, não é de mentira. Tão verdade é que hoje eu vejo tudo diferente, pois não tenho mais cortinas na frente dos olhos.
Hoje eu vejo que os filmes, os livros e as músicas não estão aí por acaso. Eles são manifestações concretas de momentos em que o homem conectou-se com o divino, que paira no ar, mas é invisível aos olhos. São fragmentos de pequenos milagres operados por mãos trêmulas, imperfeitas e pecadoras. São imagens de um destino do qual a gente precisa estar em constante procura, até o fim dos nossos dias.
Digo isso porque eu encontrei o meu.
E o que eu sinto é o tal do amor. Aquele surrado, mal-falado, desacreditado e raro amor, que eu achava que não existia mais. Pois existe. E arrebata, atropela, derruba, o violento surto de felicidade causado pelo simples vislumbre do teu rosto.
Cá entre nós
"Tenho há três anos um computador surrado, dotado de um esturricado HD de 80gb. Ao longo desse tempo, fui baixando discos, criando músicas, fazendo inúmeras coisas até que o espaço acabou, me obrigando a fazer um backup. Por "backup" entenda-se salvar em outro lugar os arquivos que a gente não precisa mais, mas não tem coragem de deletar pra sempre. E foi aí que percebi: eu nunca fui um cara daqueles que fica pensando durante horas o que escrever. É muito mais a minha cara sentar a mão nas teclas de forma afobada e desordenada, no melhor estilo Chico Xavier. Quem acompanha meu empoeirado fotolog sabe muito bem disso. Eu gosto de escrever sem pensar, para refletir depois, quando já estiver publicado. Já cansei de vasculhar os arquivos antigos e, por meio dos meus textos, revisar cada segundoo de um passado que eu poderia ter esquecido. Minha mente se preocupa com cada vez mais coisas, e eu preciso de um backup. Por isso vejo na escrita a solução. Ela é meu backup. É como se eu tirasse da cabeça um momento, uma história, assim abrindo espaço para muitos outros momentos, mais intensos e melhores do que os antigos. E, se minhas sinapses falharem algum dia, lá estarão meus relatos para refrescar minha memória.
Portando, se algum dia você perceber que sua cabeça está cheia de histórias, dilemas, problemas a serem resolvidos, talvez seja a hora de você fazer o seu backup, ou melhor, escrever um pouco, para descarregar um pouco disso tudo. E se for uma história triste, sempre teremos a opção de mandar tudo pra lixeira."
* Esses passos tímidos ecoam alto demais e, para quem não quer ser visto, isso não é nada apropriado. Esses corredores de azulejos brancos incomodam. Essas paredes frias que, mesmo que eu me mantenha longe delas, me privam do calor e do aconchego que tanto procuro, nessa noite.
* São esquinas que, sem alto-falantes, emitem sons de toda sorte, e muitos deles, infelizmente, são de uma voz familiar. São suspiros aos quais estou assutadoramente acostumado. Tenho uma permanente impressão de que esses sussuros já muito me esquentaram os ouvidos, em outros noites parecidas com a de hoje. Aí eu luto para não perder a concentração nesses sons, não me soltar da corda que me aponta a direção da saída mais próxima. Desconcentrado, tudo que cuidadosamente orbita meu coração sem bater nas minhas costelas perde o controle e aí tudo que sinto é uma dor interna intermitente que segue cada batida do bumbo de uma música triste qualquer.
* Desconcentrado, agarro-me ao trinco da primeira porta que eu encontro. E sempre acabo no mesmo quarto, na frente do mesmo computador, ouvindo as mesmas músicas, ínsone.
* Parece que eu tô reclamando, mas eu vejo beleza nisso tudo.
Despedir-se de um amor é despedir-se de si mesmo. É o arremate de uma história que terminou, externamente, sem nossa concordância, mas que precisa também sair de dentro da gente.
Sumi porque só faço besteira em sua presença, fico mudo
quando deveria verbalizar, digo um absurdo atrás do outro quando
melhor seria silenciar, faço brincadeiras de mau gosto e sofro
antes, durante e depois de te encontrar.
Sumi porque não há futuro e isso não é o mais difícil de
lidar, pior é não ter presente e o passado ser mais fluido que o ar.
Sumi porque não há o que se possa resgatar, meu sumiço é
covarde mas atento, meio fajuto meio autêntico, sumi porque
sumir é um jogo de paciência, ausentar-se é risco e sapiência,
pareço desinteressado, mas sumi para estar para sempre do seu
lado, a saudade fará mais por nós dois que nosso amor e sua
desajeitada e irrefletida permanência.
Ela o amava. Ele a amava também. E ainda, que essa coisa, o amor, fosse complicada demais para compreender e detalhar nas maneiras tortuosas como acontece, naquele momento em que acontecia dentro do sonho, era simples. Boa, fácil, assim era. Ela gostava de estar com ele, ele gostava de estar com ela. Isso era tudo.
Se sou amado,
quanto mais amado
mais correspondo ao amor.
Se sou esquecido,
devo esquecer também,
Pois amor é feito espelho:
tem que ter reflexo.
Não fosse amor, não haveria planos
Como uma onda quebraria cedo
Fosse um momento, não faria estragos
Eu não estaria no chão, não, não
Não fosse amor, não causaria medo
Feito um brinquedo cansaria logo
Fosse ilusão não traria tanta saudade
E eu não choraria no chão, então
Deve ser amor, deve ser, então...
Não fosse amor, não duraria tanto
A chama de um Banho-Maria brando
Fosse passado não passaria corrente
E não chamaria de amor, eu não..
O amor. sem palavras. Ou. A palavra amor, sem amor. Sendo amor, ou. A palavra ou. Sem substituir nem ser substituída por. Si, a palavra si, sem ser designada ou gnificada por. O amor. Entre si e o que se. Chama amor, como se. Amasse (esse pedaço de papel escrito amor). Somasse o amor ao nome amor, onde ecoa. O mar, onde some o mar onde soa. A palavra amor, sem palavras.