Coleção pessoal de lurdes_bernardo
E se Deus nos deu a alegria de acordar de novo
Será porque quer que continuemos a viver
Ainda que com os atropelos e engodos
A vida deve fazer-se de recuos e recomeços.
Se tem saúde agradeça
Se é feliz agradeça
Se sabe sorrir agradeça
Se está vivo agradeça
E se está viva...
Viva a vida.
"No silêncio Deus fala"
No silêncio Deus fala
No silêncio eu o escuto
No silêncio me embala
No silêncio eu luto.
No silêncio eu chorei
No silêncio eu sorri
No silêncio eu tanto amei
No silêncio rejuvenesci.
No silêncio eu encanto
No silêncio eu abraço
No silêncio eu canto
No silêncio eu traço.
No silêncio eu semeio
No silêncio eu calo
No silêncio eu premeio
No silêncio eu falo.
“Nesta pedra”
Nesta pedra onde me sento
Vejo a terra em movimento
Aqui venho descansar
Aqui oiço a voz do vento
Fico a ouvir o silêncio
E o meu coração pulsar.
Nesta pedra onde me sento
Venho para meditar
Sobre o amor que está no ar
Onde te amo docemente
Ouço-me em tom de preces
Que me rogam que regresses.
Nesta que foi a nossa pedra
Onde sempre nos sentamos
As sestas que aqui fizemos
As cartas que aqui deitamos
As músicas que compusemos.
Quando estendíamos a manta
Há sombra do castanheiro
Enamorados cativávamos
Tudo parava no tempo
Esse em que nos alheávamos.
Levávamos o baralho
De cartas para jogar
Mas de tão enfeitiçados
Mimávamo-nos aninhados
Com tanto amor para dar.
"Já me faltam as letras"
Já me faltam as letras
Para descrever esta natureza
Nas saudades que o meu peito encerra
Se enche toda a terra desta beleza.
Terra minha poiso onde eu nasci
Naquele morro que mais sobressai
Não te veem mas meus olhos miram
O que não viram meus ancestrais.
Será que gostariam de ver agora
A terra amada do seu coração
Hoje!
Fornelos já não tem aquela imagem
Que em tempos floresceu o meu coração.
Tantas horas tantas tardes tantas noites
Tanta vida que se viveu em Fornelos
Quantas saudades deixaram esses dias
Que bons que foram, quantas alegrias.
Velho Fornelos da minha juventude
Aonde os dias foram de alegrias
Tantas horas passaram em nossas vidas
Tantas histórias de tantas magias.
Vivências jamais vividas desses dias
Que na memória repousam em sua casa
Em anos áureos de tantas alegrias
Que gostava de fazê-los regressar
Ainda que fossem apenas por uns dias.
Vou ali e já venho
Gastar as solas ao descer
Até à praia fluvial de Fornelos
E do meu mergulho tirar prazer.
Hei-de depois esticar-me ao sol
A bronzear-me na relva um pouquinho
A beber um ice tee fresquinho
Ou a comer um geladinho.
Quando o fim do dia acontecer
E a casa de novo regressar
Tentarei o prazer do luar
Na frescura da noite a passear.
"Verão"
Batendo a estrada em paralelos
Gastando as solas dos sapatos
Rumo à praia fluvial de Fornelos
Descendo por vinhas e socalcos.
Por estrada de frondosos castanheiros
Descendo por carreiros até ao rio Aguilhão
Que em dias de grande estio refrescam
Nossas caminhadas em tardes de Verão.
Sol escaldante em terras durienses
De verdejantes relvados bem tratados
Num ventre de águas transparentes
Em correrias de tilintares soluçados.
Espraiado em penhascos e vinhedos
Numa bela orquestra de cachoeiras
Por encostas e campos cultivados
Entre penedos e silvados de amoreiras.
“As férias”
já terminaram
Estou a chegar a correr
Das caminhadas que fiz
Para o corpo manter feliz
E a minha mente crescer.
Para convosco estar de novo
Em felizes contemplações
Companhias do meu espírito
Que quando sozinha estou
Sinto como reflexões.
Neste corpo às vezes cansado
Que ouvidos atentos já mal tem
Em seu voar de pensamentos
Deixa largar os seus também.
De olhos semicerrados
A retrospetiva faz
Dos seus dias bem passados
Mas que ficaram para trás.
Acabou-se o que era bom
As férias para o ano há mais
Mais um ano se passou
E a vida soltou seus ais.
"Há de tudo um pouco nesta vida"
Os que valorizam e respeitam
Os que menosprezam e enjeitam
Os interesseiros e intriguistas
Os oportunistas e hipócritas
Os que mendigam, os lambe botas
Os parasitas que pouco ou nada fazem
Os que no fundo não passam de farsolas
Os manientos e armados em chiques
Os que não passam de alambiques
Os bem falantes e comediantes
Os tristes de espírito ensanguentado
Que só pensam em espezinhar os outros
Os salafrários calhordas usurários
Os pertinentes de enfado acentuado
Os cabeças duras e casmurros
Os peneirentos birrentos e turras
Os calculistas e usurários
Os fanáticos, lunáticos arbitrários
Os pelintras armados em ricaços
Os palermas armados em palhaços
Os interesseiros e os marotos
Os capazes e afoitos
Os calvos e calados,
Os sonhadores desenrascados
Os senhores, os benfeitores, os retos
Os cavalheiros os homens de bem,
Os amorosos que se amam de paixão
Os esposos de alma e coração.
"Se eu pudesse iluminar"
Se eu pudesse iluminar a Primavera
Com o brilho dos meus olhos feiticeiros
Esta vida seria uma encantadora quimera
E os dias eram sempre domingueiros.
Com o olhar embevecido de meiguice
Tranquilamente sossegasse o coração
Na luminosidade de uma traquinice
Pudesse iluminar também o Verão.
E assim a vida era simplesmente querida
Num mágico e transmissível abandono
Em que todas as rosas vermelhas da vida
Florissem também o revoltoso Outono.
E chegasse ao frio Inverno da saudade
O calor que o mundo inteiro esquecesse
Então travaria toda a minha ansiedade
Aquela que os sentimentos adoecessem.
"Tenho um abraço"
Tenho um abraço e à tua espera
Assim que chegares te estreitarei
É muito apertadinho de emoções
Cheio de paixão e tanto bem.
Vens cá buscar ou queres que o leve
Naquele sonho que se tornou viral
Na concretização da saudade
Que juntos fomos regando devagar.
Que enfadonha é a ansiedade
Deixando em rebuliço o coração
Penas esvoaçantes de saudade.
Que a aproximação e a bondade
Chegando em preces de emoção
Encha de brisa suave esta liberdade.
"O amor"
É como um jardim florido
Onde o cheiro inebria
Onde o calor dos beijos entontece
Onde as caricias e desejos
Se entranham na pele
Onde o brilho dos olhos se espelha
Onde o coração dispara a mil à hora
Onde tudo se sente e aflora
No corpo elétrodos faíscam
Sensações esquentam e aceleram.
Intensas...
Sugam as entranhas.
Há um vulcão incandescente
Prestes a entrar em erupção.
Um clímax de êxtase
Extravasa a essência do amor.
Raios de sol enchem de luz
O âmago do ser,
Num espaço celestial
Acalma-se o peito arfante
Engole-se uma lufada de ar.
Uma sensação inexplicável
Uma doçura inimaginável
Só quem sentiu...
“Quando morrer”
Se a morte vier e me quiser levar
Entrego o meu espírito para descansar
Na graça divina me quero abrigar
Minha alma em paz quero repousar.
Meus bens terrenos de nada me valeram.
Fui mais fiel àquilo que me ofereceram.
Estimei muito o amor que me devotaram.
Fui uma idealista a quem não prezaram.
Aos que me estimaram...quero agradecer
Amaram-me em vida...enquanto criatura.
De quem em vida tanto me fez sofrer.
Nem flores quero ter na sepultura.
Meus amigos amei profundamente.
Dividi com eles pouco do meu ser.
Deles fui muito amiga.
Mas lhes dei muito pouco do meu viver.
Que fazer com a distância
Que nos privou dessas exultações
Mas ficaram para sempre na lembrança
Instantes passados...boas ocasiões.
Amei muito as minhas alegrias.
A vida fantasiei de várias cores.
Quis muito viajar, conhecer mundo
Perdurei por esse desejo profundo.
Algumas vezes espinhosa
Hoje colorida e maravilhosa.
Teve porém o condão de ser
A vida que Deus me deu para viver.
Na paz!
Serei a calmaria,
a sabedoria, a boa vontade,
a pessoa certa para toda a verdade.
a bondade e a plena harmonia,
a alegria e a consciência sã
do melhor dia a dia
Entre o hoje e o amanhã.
“Um abraço”
Um abraço te vou dar
Meu amigo de coração
Aquele abraço sincero
Carregado de carinho
E estimação.
Abraços e beijinhos
Queria abrir a excelência
Para que sempre seja
O tempo que passa e não volta
Na solução do desejo
Onde a tormenta se ausenta.
E vira apenas desejo
De realização real
Entre um abraço e um beijo
Sempre será Primavera
No coração dos amigos
Numa amizade natural.
"O brilho do sol"
Quero ser a tua estrela...
Em todos os desafios...
Como o brilho do sol...
Distinto em elogios...
Estrela que do sol recebe...
A sua luz cintilante...
Ser a tua recompensa...
A todo e qualquer instante...
Que o brilho seja o fulgor...
De teus olhos radiantes...
Em que o meu e o teu amor...
Seja sempre como dantes...
Em que os beijos se tornem
O açúcar dos amantes
Seremos berço imortal
Apaixonados...hilariantes.
“Na calmaria”
Na calmaria da noitada
Sai da sombria ladeira
A lua envergonhada
Para se passear inteira.
No vão daquela escada
Soluçando em aflição
Salta a Maria aprisionada
Do seu carecido coração.
Chega à rua sombreada
E entre o lusco-fusco
Vê a lua tão dourada
Através do crepúsculo.
Ficou então ali parada
A sonhar com o seu amor
Que a deixou abandonada
Ao relento e sem pudor.
Cheia de penas fugiu
Não queria mais viver
Descalça naquele frio
Acabou por perecer.
Mas logo os anjos desceram
E a incensaram com carinhos
Tão inocentes apareceram
E a transportaram sozinhos.