Coleção pessoal de LuizaGrochvicz

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"⁠Mercado da Fé"

Eles pregam amor, mas apontam com o dedo,
sorriem com os lábios, mas ferem em segredo.
Na roda dos justos, só senta quem pensa igual,
quem anda na linha, quem segue o ritual.

Um evangelho de fariseus,
onde cada um escolhe os seus.
E quem não cabe no molde exato,
vira motivo de riso barato.

“Falta Deus”, sussurram entre pratos e orações,
mas nunca perguntam das minhas aflições.
Debocham do que não entendem, rejeitam o que é diferente,
com um zelo que machuca, um orgulho que é doente.

Se inflamam na bolha do sistema,
onde tudo que escapa vira problema.
Não aceitam a dúvida, não suportam o pensar,
preferem repetir a fé que aprenderam a decorar.

Mas eu creio, sim — na luz que não exclui,
na verdade que não se vende, na paz que constrói.
Minha fé é silêncio, é abraço, é chão,
não vive de aparências, vive de compaixão.

Eu sou aquela fora da grade,
que não troca a alma por vaidade.
E mesmo sem ser aceita em seus altares,
sei que há beleza em ser quem não se disfarça,
mesmo que doa, mesmo que canse.

Pois não há nada mais santo
do que amar sem condições,
do que ouvir sem julgar,
do que viver sem precisar se moldar.

⁠Bolhas Sagradas

Eles dizem que seguem a luz, mas esquecem de olhar nos olhos de quem está na sombra.
Vivem debaixo de um teto que chamam de fé, mas que mais parece um muro alto, cheio de espinhos — onde só entra quem fala igual, se veste igual, acredita igual.
E eu? Eu fico do lado de fora. Porque não repito seus refrões, não me prostro diante de suas certezas engessadas, não aceito um céu vendido por parcelas de culpa.

Nas reuniões de família, os olhares não são apenas julgadores, são quase inquisidores.
Se eu falo de silêncio, de arte, de dúvida, de filosofia… vem o riso velado, o deboche disfarçado de piedade.
“É fase”, dizem uns.
“Falta Deus”, dizem outros.
Mas ninguém se pergunta onde estava o amor que tanto pregam quando me deixaram sozinha com minhas perguntas.

Eles escolheram os seus. Os que se encaixam, os que seguem a cartilha.
Um evangelho de fariseus, onde a salvação virou senha de grupo e o perdão é privilégio de quem pensa igual.
E se inflamam... oh, como se inflamam! Na bolha do sistema, alimentam-se uns dos outros, confirmando certezas enquanto se afastam da compaixão.
Chamam isso de fé, mas soa mais como exclusão sagrada.
Falam de Cristo, mas caminham como Caifás.

E eu, do lado de cá, não deixo de crer.
Mas minha fé é outra: é aquela que ouve o silêncio, que acolhe a dúvida, que abraça o diferente.
Minha fé não me manda apontar dedos, mas estender mãos.
E talvez, um dia, eles entendam: que ser verdadeiro dói mais do que ser aceito, mas liberta.

Porque não existe santidade alguma em isolar o outro.
E a verdade que liberta nunca viveu trancada em bolhas de arrogância.

⁠"Prisão Silenciosa"

Estou aprisionada, mas não por grades visíveis, e sim por paredes invisíveis que se erguem dentro de mim. Cada pensamento é um grito abafado, cada palavra, uma tentativa frustrada de escapar, de ser ouvida. Dentro de mim, há um mundo inteiro, um universo de sentimentos, ideias e reflexões que ninguém vê. Eles estão presos em mim, e eu estou presa neles.

Quero gritar, quero falar tudo o que tenho guardado, mas a voz se esvai antes que eu consiga libertá-la. As palavras se perdem no ar, como se houvesse uma barreira invisível que as impede de atravessar. Ninguém escuta. Ninguém se importa. Cada frase que quero dizer se transforma em silêncio, uma prisão mental onde sou a única prisioneira.

Eu observo o mundo, mas estou distante dele. Vejo pessoas falando, vivendo, e sinto que há algo em mim que não se encaixa. Não sou uma parte desse mundo, mas também não consigo me libertar dele. Tento conversar, tento me conectar, mas as palavras que me escapam são vazias, não transmitem o que verdadeiramente sinto. O que quero dizer nunca chega a ser dito. O que quero expressar fica preso, aprisionado, como se fosse uma chama que arde sem nunca poder se manifestar em fogo.

E então, escrevo. Escrevo porque, talvez, ali esteja a única fuga possível. Cada frase que nasce de minha mente é um pequeno grito silencioso que não posso mais engolir. Cada palavra que se forma no papel é uma tentativa de libertação, um lampejo de algo que não posso mais reter. E, no entanto, ao escrever, me pergunto: quem lerá? Quem ouvirá essas palavras soltas, esses fragmentos de mim que coloco no papel, mas que ainda parecem tão distantes? Será que alguém se importa? Será que alguém vai perceber que ali está o único grito que ainda posso fazer?

É doloroso, essa sensação de estar invisível, de viver presa numa prisão mental onde a liberdade é apenas uma ilusão. Mas as palavras, essas que escrevo, são minha única forma de existir plenamente. Talvez ninguém leia, talvez ninguém entenda, mas, ainda assim, escrevo. Pois, se pelo menos eu mesma me ouvir, talvez isso seja o suficiente para me manter viva dentro de mim.

E assim sigo, entre as sombras da minha mente, tentando dar forma ao que não posso falar. Cada frase é uma liberdade temporária, um pequeno espaço onde a minha voz se faz ouvir, mesmo que, no final, ninguém escute.

"⁠Fragmentos de Mim"

Eu sou duas, e em cada uma de mim, me perco.

Há a Maria Luiza, que se veste de responsabilidades, com os olhos voltados para o futuro. Ela corre atrás de um diploma, de um concurso, ela se dedica, estuda e cumpre o papel de filha, de estudante, de quem carrega o peso de ser "prática". Ela tem um mundo de afazeres, de compromissos, de expectativas que são suas e dos outros. Ela vive no concreto, na rotina do dia a dia, onde o tempo se divide entre faculdades, casa e as certezas que não questiona. A filosofia, essa paixão que ela guarda como um suspiro, parece distante. Ela não tem tempo para ela, não sabe se quer saber.

E há a Luiza Grochvicz, essa outra versão que se esconde, mas que não pode ser ignorada. Ela vive no silêncio das palavras não ditas, nas linhas soltas que se espalham por cadernos e folhas que ninguém vê. Ela não quer diplomas, não se importa com concursos. Ela só quer entender, refletir, mergulhar no abismo da existência e deixar que as palavras lhe mostrem o caminho. A Luiza que sente a filosofia como um abraço acolhedor, uma forma de vida, um estado de ser que só ela conhece. Ela é apenas pensamento, apenas escrita, e no simples ato de escrever, ela se sente inteira. A Luiza que se sente boa, e que, por mais que ninguém veja, não precisa de aprovação. Ela só precisa escrever, pensar, questionar. Ela só precisa ser.

E ainda assim, sou ambas. Duas faces da mesma moeda, cada uma exigindo sua atenção. Quando a Maria Luiza se perde nos compromissos, a Luiza Grochvicz a observa de longe, com uma saudade silenciosa do que nunca viveu. Quando a Luiza Grochvicz se perde nos seus pensamentos, a Maria Luiza se pergunta se pode deixar o mundo real para trás, mesmo por um momento. Há algo de doloroso em ser essas duas, como se as mãos não fossem suficientes para abraçar ambas as versões de mim. Como se houvesse uma incompletude que só pode ser preenchida pelo outro, mas que, no fim, continua sendo apenas eu.

Eu sou a busca constante entre o ser e o fazer, entre a razão prática e a reflexão filosófica. Mas talvez, na soma dessas duas, eu me encontre. No dilema do cotidiano e na paz do silêncio, eu me refaço a cada instante, tentando ser tudo aquilo que sou e que ainda não sei ser.

E talvez, em algum lugar, no meio do caos e da calma, exista a verdade. Uma verdade que só pode ser entendida se ambas as versões de mim se abraçarem, se reconhecerem, e se permitirem ser.

⁠"Silêncio e Ser"

Em cada palavra, um vazio, Que se preenche com o eco da dúvida. Na página em branco, o grito do ser, Que não se vê, mas se sente, se antecipa.

Serás? Pergunto, e me perco, Entre o que sou e o que ainda serei. E cada silência sussurra mais alto, Do que as palavras jamais ousaram dizer.

Caminho em sombras e luzes tênues, Como quem busca a verdade na escuridão. Mas a verdade, ah, ela é escorregadia, Reflexo de um espelho quebrado, fragmentado.

E, assim, escrevo. Sem certezas, sem fim, Como quem mergulha em águas turvas, Onde o que se encontra não é resposta, Mas o respirar da alma que busca se encontrar.

Serás, talvez, um som perdido, Ou o silenciar do mundo que se escuta. E no vazio da palavra, o ser, Ainda é mais do que pode ser dito.

⁠A esperança, às vezes, é só um ato de continuar mesmo sem saber o porquê.

⁠O maior problema da vida é a própria vida em si. Afinal, tudo na vida é um problema.

⁠O maior dilema da vida é descobrir quem somos de verdade… sem nos perder tentando ser o que o mundo espera.

⁠“‘Manda quem pode, obedece quem tem juízo"— talvez o juízo verdadeiro esteja em quem ousa questionar.

⁠O que você diria que é seu bem mais precioso? Para mim, é afamília. Nada no mundo tem mais valor do que os abraços que me mantêm de pé.

Penso logo reflito, reflito logo respondo, respondo logo encontro, encontro logo perco, perco logo procuro, procuro logo reflito.

⁠Looping.....

Todos temos o dom de filosofar mas poucos sabem colocar isso em palavras.

⁠Uma sabia uma vez me disse que a sua alegria é a tristeza de muitos ela só não falou que essas pessoas eram "amigos" e familiares.

⁠O silêncio é meu maior amigo e a solidão o meu pior inimigo.

⁠Meus pensamentos vem e vão mas somente uma coisa permanece....
dúvidas.

⁠Eu não sei o que quero da vida e nem o que a vida quer de mim.

"⁠Eu, em pedaços que ninguém entende"

não há inteiro em mim.
sou feita de partes que não se falam,
de pensamentos que dormem antes de nascer.

há fé, sim —
mas ela vive num canto escuro
e às vezes esquece o próprio nome.

às vezes eu falo com Deus,
ou com o silêncio,
ou com ninguém.
quem responde, nunca sei.

não quero sentido.
quero só continuar sendo,
mesmo quando ser
me pesa mais que viver.

sou poema que se nega a rimar,
sou lágrima sem nome no meio da tarde.

se me entenderes,
me perderei.
me guarde como se guarda o vento:
sem tentar fechar a mão.

⁠Sou boa em muitas coisas, mas nunca o suficiente para ser lembrada por nenhuma. E talvez, no fundo, isso seja o que mais dói.

Eu transformo dor em arte, solidão em frases, tristeza em beleza.

⁠Aprendi com uma alma antiga que a amizade é um eco, não um laço. Os colegas partem como fumaça, e tudo o que resta são fragmentos — grãos perdidos da imensidão