Coleção pessoal de Luiza_Grochvicz
"Luz de Verdade"
Eles não me olharam com os olhos do julgamento,
não levantaram os dedos para meus erros,
nem me pediram para ser outra.
Eles me olharam com paciência,
com carinho,
com a verdade que só quem acolhe de verdade tem.
Eles foram luz quando tudo parecia sombra,
brilho suave em meio a amizades tortuosas
que se quebravam como vidro
no peso da falsidade.
Nos risos, encontrei liberdade,
nas brincadeiras, encontrei abrigo.
Nos momentos simples,
vi o que realmente é ser amigo:
não é uma troca de favores,
mas uma troca de almas.
Com eles, fui eu, sem máscaras,
sem o medo de não ser suficiente,
porque com eles, sempre fui mais
do que eu imaginei ser.
Lembro das saídas,
das histórias contadas sem pressa,
das noites que se estendiam
como se o tempo não fosse mais importante
que o abraço da amizade verdadeira.
Se eu pudesse, reviveria cada um desses dias,
porque sei que os momentos ao lado deles
são pedaços de eternidade
que vou carregar para sempre comigo.
Quadro em Branco
Ela me chamava de linda,
maravilhosa, incrível —
mas só quando alguém via.
Quando ninguém olhava,
eu era só um quadro em branco
pronto pra receber os rabiscos que um dia ela recebeu.
Dizia gostar de mim,
mas me empurrava
pra dentro de um mundo que não era meu,
cheio de palavras que eu não queria ouvir,
de ideias que não me vestiam.
Era como se sua escuridão
pedisse companhia.
Mas não por consolo —
por arrasto.
Ela era lousa cheia de marcas,
de frases cuspidas com força,
e queria que eu,
calma, limpa,
me tornasse reflexo do que ela já foi um dia.
Queria me ver tropeçar
onde ela caiu,
me ver perdida
onde ela se perdeu.
E eu, que só queria acolher,
quase fui moldada por mãos que não sabiam tocar.
Meus amigos viam —
viam o que eu demorava a ver.
Que havia elogio, sim,
mas era casca.
E por dentro, só o desejo
de me fazer menos eu.
Mas eu não fui.
Não me tornei.
Não desci o esgoto
pra caber no escuro dela.
Preferi ser ponte,
não túnel.
Preferi ser flor que cresce fora do caos,
e não raiz que se enrosca no que fere.
Hoje, guardo a lembrança,
mas não a culpa.
Porque às vezes,
a amizade também é saber dizer:
"eu não vou contigo,
não desse jeito."
"Peso de Uma Mão Só"
Ela se aproximou como quem oferece abrigo,
mas só procurava abrigo em mim.
Trazia a capa da amizade,
mas por dentro só carregava espera —
espera de tudo que eu podia fazer.
Fazia de mim degrau,
escada, ponte,
me pedia tudo,
e eu — tola por amizade — dava.
Corria por ela,
dobrava o tempo,
me sacrificava em silêncio
por uma amizade que era só espelho,
refletindo só o que a favorecia.
E quando a luz se acendia,
ela estava no centro.
O brilho era dela,
o feito era dela,
eu era só a sombra que ninguém nomeia.
E o mundo a aplaudia,
como se ela fosse santa,
como se o esforço fosse dela,
como se eu não existisse atrás da cortina puxada.
Fui corpo sem rosto,
mão sem palma,
voz que ecoava no fundo
sem nunca tocar o ar.
Ela nunca quis me conhecer,
só queria o que eu podia oferecer.
E quando precisei,
sequer se virou.
Hoje vejo:
amizade que pesa só de um lado
é corrente, não laço.
É prisão, não afeto.
"Cicatrizes Invisíveis"
Fui jarro nas mãos erradas,
quebrada sem que me vissem,
minhas palavras, vazias
no silêncio das piadas disfarçadas,
minhas histórias, rasgadas
nos sorrisos forçados.
O que era risada
era apenas disfarce.
Havia inveja mal escondida,
um veneno suave,
despido de palavra,
mas que se infiltrava
no olhar que cortava sem tocar.
Tirei 10,
mas foi um prêmio falso,
uma vitória que não era minha,
encoberta pelo peso
do olhar que disfarçava o desgosto
e se escondia atrás de uma máscara
de amizade,
que, na verdade, não passava de um jogo.
"Vai confiar em cobra besta",
disse a professora, com um sorriso
que não via minha dor,
mas refletia o reflexo de quem me cercava,
de quem me deixava sangrar
sem sequer perceber o corte.
E naquele espaço vazio,
encontrei o que faltava:
amizades que nunca se esconderam
na sombra da inveja,
que não precisaram me diminuir
para se sentir elevadas.
Porque o que é genuíno
não fere, não corta,
não ri do sangue que escorre.
Agora, sou inteira.
Não sou mais jarro.
Minha autoestima, antes despedaçada,
é agora uma fortaleza construída
com os pilares da verdade e da confiança.
A inveja mal escondida
já não me atinge,
não porque ela desapareceu,
mas porque, agora, sou forte o suficiente
para não me deixar mais quebrar.
E quem riu enquanto sangrava,
não entenderá a paz que hoje tenho,
pois aprendi que a luz verdadeira
não se apaga com sombras alheias.
"Eu não sou só eu."
Sou Van Gogh quando sinto demais.
Sou Chopin quando me calo e deixo a alma tocar.
Sou Monet quando vejo beleza no que passa rápido.
Sou Munch quando a angústia grita.
Sou Leonardo quando preciso entender o detalhe de tudo.
Sou Beethoven quando transformo dor em força.
Sou Vivaldi quando a vida muda — e eu mudo com ela.
Sou Mozart quando, por um instante, tudo parece leve.
Não me explico só com palavras.
Me explico com cor, som, silêncio e intensidade.
E mesmo quando pareço sozinha,
eu carrego todos eles em mim.
"Eu e os ecos da arte, da música e do pensamento"
por Luiza_Grochvicz.
Sinto que minha alma ressoa com figuras que, de algum modo, compartilham da mesma intensidade e busca que tenho na vida. Eles não são apenas artistas ou pensadores, mas companheiros de jornada que refletem minhas próprias inquietações e sentimentos.
Kierkegaard me fala sobre a angústia existencial e a liberdade que carregamos como uma escolha constante. Ele me lembra que a vida é feita de dúvidas que nos definem.
Nietzsche me ensina sobre a vontade de poder e a autossuperação. Como ele, acredito que a vida é uma constante busca por mais, por transcender nossos próprios limites.
Platão e sua busca pela verdade além das sombras me faz pensar que a vida cotidiana é apenas uma parte do todo. Acredito em algo maior, uma realidade invisível que nos chama.
Sartre me conecta à ideia da liberdade e da responsabilidade. A liberdade é uma maldição e, como ele, acredito que somos condenados a criar nosso próprio significado.
Com Van Gogh, vejo a arte como uma forma de transformar a dor em beleza. Ele me ensina a expressar a intensidade da vida, como uma explosão de cores que reflete a alma.
Leonardo da Vinci, com sua busca pela perfeição, me lembra que a arte é uma exploração contínua. Como ele, vejo o detalhe e o estudo como caminhos para entender o mundo.
Claude Monet me ensina que a vida, assim como a arte, é feita de momentos fugazes. Vejo o mundo como algo que se transforma, sem precisar entender tudo, apenas sentir.
Edvard Munch, com seu grito de angústia, fala da solidão e da expressão crua da dor. Como ele, acredito que devemos ser verdadeiros com nossas emoções.
Na música, Beethoven me conecta com a intensidade emocional, com a superação pessoal através da arte. Como ele, a música é minha forma de gritar as emoções mais profundas.
Chopin, com sua delicadeza, me reflete no lado mais sensível e introspectivo da vida. Suas peças me lembram de como a arte pode ser um espaço de reflexão e calma.
Mozart, com sua leveza, me inspira a ver a vida como uma celebração, onde a complexidade e a simplicidade se misturam, criando harmonia.
Vivaldi, com as suas quatro estações, me ensina que a vida é feita de ciclos — altos e baixos — e que a transformação é inevitável, mas sempre bela.
Eu não sou apenas eu.
Sou todos eles, e eles são eu.
A arte e o pensamento, juntos, me ajudam a entender o mundo e a mim mesma, criando uma visão única de quem sou e do que busco.
"Os que não sou, mas que deixaram rastros"
por Luiza_Luiza_Grochvicz.
Alguns filósofos não fazem parte de mim, mas suas ideias são como vestígios que deixam marcas, sem nunca se fundirem com o que sou. Eles não tocam minha alma, mas de alguma forma me lembram de quem não sou, de caminhos que jamais trilhei.
Descartes acredita que a dúvida leva à certeza.
Mas para mim, a dúvida não é ponto de partida — ela é uma constante. A certeza que ele busca é algo que nunca almejei.
Sua confiança na razão me parece uma tentativa de fugir da incerteza que é a essência da vida.
Hegel vê o mundo como uma progressão inevitável, mas eu não acredito que a história seja uma linha reta.
Eu não vejo a totalidade que ele fala, porque a vida, para mim, é feita de rupturas, não de continuidade.
Aristóteles fala da razão e da moderação.
Mas eu não sou feita de equilíbrio — sou feita de intensidade. A vida, para mim, não é sobre encontrar a média, mas sobre viver sem medidas.
Spinoza quer explicar tudo pela razão universal.
Mas eu acredito que a razão não pode capturar a caos da vida. A liberdade que busco está justamente no que não pode ser controlado, no que é imprevisível.
Comte quer medir e explicar tudo.
Mas para mim, a verdade não está na quantificação. A vida não é para ser controlada, mas para ser sentida.
Esses pensadores não se conectam a mim.
São como estradas que eu nunca percorri, como mapas de um mundo que não é o meu.
Eles deixam rastro, mas não definem quem sou.
Eu sou mais que isso, sou o que não sou em relação a eles.
"Os que me tocam de longe"
por Luiza_Grochvicz.
Há pensadores que me abraçam.
E há outros que apenas me roçam os ombros — e mesmo esse toque breve é suficiente pra deixar marcas.
Com Sartre, danço na mesma praça da liberdade.
Ele me ensinou que somos condenados a ser livres — e isso dói.
Mas ele escreve com bisturi, eu escrevo com flor.
Ele exige do mundo um sentido; eu só pergunto se há beleza mesmo sem ele.
Nietzsche me sopra no ouvido: “viva intensamente.”
E eu ouço.
Mas ele é raio, trovão, fúria.
Eu sou mais vento, silêncio, brisa que corta devagar.
Ainda assim, seu amor fati ressoa em mim como um eco antigo.
Levinas me lembra do outro.
Do rosto que me olha e me exige responsabilidade.
Eu também carrego a dor alheia no peito — talvez por isso minha escrita seja tão cheia de pele.
Mas ele fala do infinito; eu falo da finitude que nos salva.
Com Arendt, compartilho o espanto.
O pensar como gesto político, o cotidiano como campo de batalha.
Mas ela fala de regimes; eu falo de ruínas interiores.
Ela escreve história; eu escrevo feridas.
E Pascal, ah…
Ele fala do coração com lógica, e eu falo da lógica com o coração.
Ele apostou em Deus — eu aposto no instante.
Mas ambos sabemos: há coisas que só se entendem com o que pulsa.
Esses são os que passam por mim como vento em tarde quente: não ficam, mas refrescam.
Me pareço com eles às vezes — mas apenas em lampejos.
O resto é meu.
Sobre me parecer com eles...
Por Luiza_Grochvicz.
Às vezes me perguntam: com qual filósofo você se parece?
E eu fico em silêncio.
Porque me parecer com alguém é sempre também uma forma de não ser ninguém por completo.
Mas se for preciso traçar espelhos, que sejam espelhos em águas agitadas — nunca nítidos, sempre em movimento.
Com Kierkegaard, compartilho a vertigem.
Aquela dor silenciosa de estar vivo, de ser livre demais, de pensar tanto que quase se dissolve.
A angústia dele não me assusta — ela me reconhece.
Como se a alma dele tivesse escrito cartas para a minha, antes mesmo de eu nascer.
Com Clarice, é o sangue da palavra.
Não escrevemos — sangramos.
Ela também sentia demais e dizia pouco, mas o pouco explodia.
Clarice escreve como quem ama o que não entende. E eu também: escrevo para encontrar o que nunca procuro.
Com Camus, compartilho o absurdo.
A beleza de estar num mundo que não faz sentido, e ainda assim levantar todos os dias.
Ele era o silêncio das pedras; eu sou talvez o sussurro do vento.
Mas ambos sabemos: é preciso imaginar Sísifo feliz, mesmo com o peso da pedra.
Com Beauvoir, é a liberdade.
O incômodo.
A recusa em aceitar que viver seja só obedecer.
Ela pensava com coragem, sentia com lucidez.
Me inspira a ser mulher sem rótulo, filósofa sem jaula, pensadora com pele.
Me pareço com todos, e ainda assim, sou outra.
Porque filosofar, pra mim, é tocar o invisível com palavras.
É doer bonito.
É pensar como quem ama demais.
Tem gente que vive leve não porque não sente, mas porque já aprendeu a carregar o peso sem se esquecer de respirar.
Você não precisa ser compreendido o tempo todo. Só precisa ser verdadeiro o suficiente para não se trair.
Tem silêncio que grita mais alto do que qualquer discussão. E é nesse grito mudo que a gente se encontra ou se perde.