Coleção pessoal de lucasantana

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''Diz-me o que deveras sentes, coração!''

Ah, este teu bater dolente,
A caminhar por entre a gente
Que desdenha do teu jeito.
Estás sempre amargurado,
Nunca com nada contentado,
Quais os males o têm feito?

Este teu tormento me incomoda,
Saibas que o sofrer virou moda
E não há por que temer,
A vida passa tão ligeiro,
Se queres amar, tens o mundo inteiro,
Então, por que se esconder?

Diz-me o que deveras sentes, coração!
Para que eu possa te ajudar,
Nesta vida só há uma oração
A qual, todos devemos orar,

Mas por que, tu, só tu és indiferente,
Quantas vezes não ouvistes meus conselhos,
Foste mal, cruel e tão inclemente,
Mas agora, olhe pra si, quedado de joelhos.

Afasta de ti, os corriqueiros temores,
Verás que do teu mal, eles são causadores,
Que te empoem os vagarosos sofrimentos,
Não olhemos mais para traz,
Pois em nós, já se perdeu a paz
De leves sonhos de penares isentos.

Choremos juntos, meu irmão,
Consigo, hei de unir a mão
Para que doa menos a nossa solidão,
Entoarei teus gritos nestes versos,
Onde serão lidos pelos olhos perversos,
Os mesmos que te jogaram no chão.

''As minhas perdas''

Procuro no meu desvairado viver,
Uma única e humilde vitória
Para colher os píncaros da glória
E algo que eu possa crer,
No entanto vejo apenas perdas
Ai... e como eu perco!

Meus sorrisos inocentes
Que eram puros e doirados,
Perdi-os, e ganhei outros atordoados
Que se vendem pra toda gente
Sem cobrar um único tostão,
Pois nada valem.

Meus cantos mais bonitos,
Que ecoavam em minha juventude,
Agora se resume a um barulho rude
Tal qual o cantar de corvos aflitos,
Onde estava deus, quando te foste?
Não sei, não sei: é a resposta.

Quantas mãos já me acenaram ao partir,
Sem perceber o mal que me faziam,
Resignado, via aquelas sombras que se iam,
Para nunca mais voltar e de pranto me cobrir
Ai, dores que me afagam a toda hora,
Eis que vem a saudade me acompanhar.

Deixo-me acostumar com estas memórias,
Talvez sejam as únicas em minha escuridão,
Não tenho nada a não ser a minha solidão
Que de fato ainda sabe me contar histórias:
Ilusões e tormentos, paz e desesperos
Tudo se atrela ao meu viver e são minhas perdas.

''Saudades de ti''

Ai, este teu olhar que não me esqueço,
Esta tua voz ainda ecoa nos meu ouvidos,
És p'ra mim a dor que adoro e pela qual padeço
Tudo que é teu está ligado à meus sentidos,
Por quê não vens mais uma vez viver ao meu lado?,
Juro-te que serei o teu eterno amado.

Ah, se meus lamentos te pudessem alcançar,
Tu saberias o quanto sinto a falta do teu lindo olhar,
Mas eis que para ti a vida continua
E no entanto para mim, ela apenas passa
A alegria dos dias nem se quer se insinua,
Pois sem ti o meu jardim perdeu a graça.

Voltarei a rever-te algum dia na eternidade
Lá onde pairam doces melodias de amor
Às quais guiaram a nossa felicidade,
Porém a tristeza ao desprender-se, trouxe a dor,
Quisera eu, que tu pudesses estar aqui,
Para diminuir estas saudades que sinto de ti.

''Dura caminhada''

Mau começa o dia,
E eu já estou apressado,
O sol nem seus raios irradia
E eu já estou atordoado,
Basta despertar e a lágrima já cai.

Dura caminhada cotidiana,
Os mesmos olhos, os mesmos rostos,
Cruzam meu caminho toda semana
De tantos vê-los, já sei os seus desgostos,
São só faces mórbidas e isto não me atrai.

Pelas longas estradas prossigo solitário,
Tendo apenas a minha sombra companheira
Que me guia à pé para o trabalho,
Pensando se sozinho, hei de seguir a vida inteira,
Já nada me faz falta, a solidão está sempre comigo.

Dura caminhada tristonha,
Lá vai meu coração qualquer,
Com desesperança de quem não sonha
E a tristeza daquele que já perdeu a fé,
Vai a vida a passar e eu a carpir este castigo.

Conviver com a solidão é atormentante quando por malicia o coração começa a despertar-se para o amor

''Dei-te uma rosa encarnada''

Ao ver-te a passar pela minha viela,
Com teus cálidos passos de princesa,
Um vestido de chita com uma fivela
Dando a teu corpo forma e maior beleza,
Trazias nos braços uma sexta de palha,
Da minha roseira, tirei com a navalha
Uma rosa encarnada que a ti se igualha,
Por ser tão formosa e avermelhada
Como tua pele macia e morena,
Dei-te uma rosa encarnada
P'ra pensares só em mim, serena.

Na imensidão dos teus olhos negros,
Deleitei meus sonhos de criança,
Só por ti, escondi meus medos,
Para no meu oculto amor, pôr esperança,
Pus-te a rosa nos teus negros cabelos
Quantas noites sonho em vê-los,
Pois são a razão dos meus pesadelos,
Em tuas mãos atirei meu coração
Quando deitei-te o meu primeiro olhar,
Não sei se esta noite, vens ou não,
Mas sei que de ti a rosa jamais sairá.

''Fado da espera''

Passam-se as horas lentamente
Como uma tortuosa procissão
Que arrasta toda a gente
Seguindo pela rua sem direção,
E eu aqui estou a esperar.

Espero por um sorriso,
Que me toma a cabeça à todo minuto
Uma cabeça sem juízo
Que foi-se embora com outro astuto,
Deixando-me ver o tempo a passar.

Oiço o relógio com seu tiquetaquear,
Fazendo um tremendo concerto musical
Onde estão cem mil músicos a tocar
Fados, tangos, boleros para o meu mal

Espero por uma imagem,
Que não me foge dos olhos por um segundo
É um tristonho personagem
Que talvez esteja com os pés no mundo.

Esperar, esperar, eis o meu fado
Que por castigo Deus me deu,
Talvez um dia eu a tivesse encontrado,
Mas a minha espera já nos perdeu.

''Atrevida declaração''

Perdão, oh, flor, mas quero dizer-lhe,
Que já não me contenho de desejo,
Chego a estremecer quando lhe vejo
Ao passar distraída ao lado dele,
Sei que há uma diferença entre nós,
Que faz do meu destino mais atroz.

Abraçar-lhe, sei-o eu que não posso,
Pois o que sou diante de si?
Nada, eu há muito já compreendi,
É por isso que sozinho me esforço
Para poder chegar um dia ao teu encalço
E ser maior que este ser tão falso.

Um dia hás de me enxergar na escuridão
Em que tu te cegaste, e te fizeste,
Verás que meu amor te fará menos agreste,
E assim me darás de corpo e alma teu coração,
Peço-te desculpas por esta atrevida declaração
Que não pude calar em minha mera ilusão.

''Na rua do meu silêncio''

Canto já só em minha solidão,
Na quietude desta minha rua,
Onde amores passam corridos
Como pássaros perdidos,
Acalentados pelo brilho da lua
Que os abraça em nuvens d'algodão

Na rua do meu silêncio,
Passam figuras risonhas
Do passado à que pertenço,
Contando histórias tristonhas.

Conservo no olhar uma tristeza incomum
Que veio de não sei de onde,
Mas que me é um grande tormento,
Sento-me nas calçadas do sofrimento,
Procurando a minha sombra que se esconde
Dentro de mim não indo a lugar nenhum.

Na rua do meu silêncio,
Há vozes que ecoam pelo ar,
Pensando que me convenço
De que devo um dia falar.

Misericórdia

Nunca mais rezarei,
Nunca mais sorrirei.
Perdi a fé na vida
Pois mataram minha querida.
Vejo em todos os lugares onde passo
A sombra do seu vulto amado.

Misericórdia, misericórdia, misericórdia.

Quando a vi pela primeira vez
Me apaixonei com insensatez,
Vivemos juntos durante um ano,
Ainda ouço sua voz á dizer me: eu te amo.
Porquê Deus tirou ela de mim?
Sem ela tudo parece ter fim.

Misericórdia, misericórdia, misericórdia.

Já não tenho mais familia
O sol para mim não brilha.
Os sinos da catedral,
Anunciavam com sofrimento,
O seu dolente funeral
E o fim do meu casamento.

Misericórdia, misericórdia, misericórdia.

Perdão meu deus,
Mas não posso prosseguir
Vou me destruir
Mas tende piedade de mim
Quero viver nos braços seus
Na eternidade sem fim.

Misericórdia, misericórdia, misericórdia...

Cigarro

Fumo um cigarro
Para me acalmar
Sozinho a caminhar
Ou dirigindo meu carro.

Tenho vozes a me perseguir
Tenho sombras á me acompanhar
Por isso vivo a fumar,
Até a cortina da fumaça me encobrir.

A vida é como um cigarro
No primeiro trago vem o prazer
Depois a tosse traz o escarro
E se perde a vontade de viver.

Não me importa a realidade
Já que sou banido pela felicidade.
Fumo sem razão, sem discriminação
Assim como minha alma, negro está o meu pulmão.

Eu

Agora só me resta o véu da escuridão,
Esse vazio desgastante e aflito
Esse caminho por ninguém percorrido,
A minha trágica e melancólica canção.

um pássaro, que não sabe voar
um céu encinzentado de inverno,
um demonio queimando no inferno,
um coração, que vive a gritar.

uma suplica desesperada,
um bandido arrependido,
uma alma dilacerada.

um rico sem apogeu
uma melodia, sem alegria.
essa macabra criatura, sou eu.

'' FUGA DA REALIDADE''

viver na vida dura,
Travar um combate,
Com a alma insegura,
A dor logo nos abate,
A realidade tortura,
E a loucura nos invade.

Procuramos algo para esquecer.
Alguém para sempre nos beijar,
Um romance trágico para ler,
Um cigarro para fumar,
Uma garrafa de whisk para beber,
Ou simplesmente podemos rezar.

A realidade vive em confusão
O melhor é sonhar, e viver na ilusão.