Coleção pessoal de LuadeSaturno
Moça do brinco de pérola
talvez eu brinque de você
com suave ironia
e um cachecol no pescoço
deixe você ficar no sofá
com um violão vira-latas
desde que não roa meus sapatos
aqui é tudo pequeno, quarto
conjugado, quisera loft
numa garagem velha
não tenho paisagem marítima
da janela
mas a gente pode ver a lua
afundando num aquário
Agudíssimo
inútil consultar o tarô
ou o dentista
sempre haverá esta pinça
no riso
um Louco diante do abismo
uma broca estridente
reverberando você distante
você além do alcance
do google maps
você entre carnes e arcanos
com celular sem conexão
enquanto a dor fica intolerável
enquanto seguro suas fotos
de encontro ao coração
como eletrodos
enquanto sinto
que me arrancam os nervos
todos
O que dá nas ruas, chérie
Fumaças de jardim
me engolem
Espirros e espirais
de pólen
Andar nas ruas
é catar alergias
ou procurar alegrias
achar acasos que permitam casos,
caso de repente, você...
Invento cenas e ando nas ruas
como num cromaqui.
Se der de cara contigo
numa floricultura
direi de cara: hello, chérie!
Só pra encarar seus olhos
de clorofila
E vou planar silenciosa,
em fotossíntese,
numa respiração de folha
E você mais irresistível
do que plástico-bolha
(pra me lembrar
o quanto eu sou
sinestésica)
E vou dar bandeira. E você dá o fora.
E já deu minha hora.