Coleção pessoal de lsancta
Até se diluir
A tarde, em lise nestes vultos
Que cruzam meus passos lentos,
Confunde verdes no mar cinzento.
Gelo e fogo por dentro!
Deixo-me divagar, devagar,
No andar retrô, no vento que enverga.
Ninguém suspeita que me rasga
A fome oculta na nesga da prega.
Ninguém imagina que levo no esboço
Poças de silêncio e alvoroço,
Crispado e liso, vácuo e peso...
Largo- estreito, passo.
E um carro amarelo cruza avenida,
Dobra esquina, atrás da ilusão,
Deixando rastros do som da vida.
Minh’alma, numa bolha de sabão,
Intenta pousar no chão,
Como pingo de chuva.
Mimética
Sou da mata, não me acerto na cidade.
Defendo-me do cativeiro de concreto,
Num desejo violento de liberdade.
Desamarroto as asas do pensamento,
Extrapolo pés automotivos, passivos,
Sedentos... Olhos de onça pintada, radar de morcego,
Patas de guará correm no cimento.
Naturalmente anti-cibernética, instintiva, apelativa,
Permissiva... Sou bicho-palha, macaco-prego,
Saci de duas pernas, Caipora, trilha refrescante.
Toda mata vive no meu corpo, plagas verdejantes.
Em mim vivem formas selvagens,
Sonhos que devoram ansiedade, viragens:
Bosque de mil segredos e folhagens.
Minh’alma ponteia verde estandarte.
Disfarçada na anacrônica Campinas fumegante,
Sou anti-vigas de aço, primitivamente blindada.
Naco de floresta oculta por pele esbranquiçada.
Mimética, simbiótica, defendo-me da morte.
Mas se um talho, um corte...
Verão que é seiva meu suporte.