Coleção pessoal de LivianRocha

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⁠"Você nem é tudo isso" foi o que eu te disse quando você me perguntou se eu ficaria bem. Isso não passa de uma tentativa fracassada de tentar me auto-convencer disso, de passar a acreditar. A verdade é que eu sempre tive a certeza de que você é tudo isso, de que você é mais do que eu já fui capaz de idealizar algum dia (só você não percebe isso). No final das contas, repetir isso como um mantra não é efetivo, fui condicionada a considerar apenas os fatos, mergulhar nesta ilusão, portanto, seria uma aposta vazia, cuja essência é de distração e não de resolução; é querer fugir da verdade, o fato é que seria mais fácil se você realmente não fosse.

Talvez seja melhor guardar na memória o nosso breve momento de paixão. Talvez seja necessário simplesmente sair dessa situação o mais rápido possível. Talvez eu deva simplesmente aceitar que estamos a procura de experiências diferentes e seguir em frente, sem mágoas e sem questionamentos, portando, somente, a gratidão por esse renascimento que você me proporcionou. Tenho usado o "talvez" como um eufemismo, pois sei que o advérbio adequado seria "certamente", mas acontece que este segundo é indigesto, é cruel e real. Enfim, é um compilado de coisas que me assombram: o "certamente" é sobre como eu tentei fingir que tudo estava sob controle, é sobre as inúmeras vezes que eu tentei acreditar que não me apaixonaria, é sobre o fato de você ser diferente das demais. Ele é, portanto, a confirmação de tudo o que eu sempre neguei, acontece, porém que este momento fantasioso possui um caráter dicotômico: apesar de ser fruto da minha imaginação contrariando toda a sinceridade que você sempre teve comigo, ele é, paradoxalmente, positivo pois foi através dele em concomitância com a sua presença em minha vida que eu renasci. Quero, portanto, lhe agradecer por tal feito, quero lhe agradecer por lembrar-me, involuntariamente, que não tem como manter tudo sob controle, que não dá para prever o que vai acontecer e que, simplesmente há pessoas com as quais eu não conseguirei manter algo casual; despretensioso. Eu sei que essas conclusões podem parecer simples, mas acontece que eu precisei acreditar no contrário para viver bem às vezes dá certo em outras não,

Eu lembro do seu sorriso safado até hoje, sinto carinho, gratidão, paixão. Contudo, já me conformei com o fato de que não irei vê-lo novamente, aceitei, finalmente, que é mais sadio preservar as boas lembranças a construir lembranças novas. Além disso percebi que apesar do que vivemos parecer muito, ainda é insuficiente, pode até ser bastante, mas não é extraordinário - não é insubstituível.

É estranho pensar que o simples fato de você visualizar os meus stories me fazem, frequentemente, sentir-me próxima de você. Apesar disso soar paradoxal (pois eu silenciei os seus status), sinto que no fundo e por teimosia, é exatamente isso que eu quero. Mesmo que eu não consiga entender o seu afastamento repentino e silencioso, quero que saibas que eu não duvido que o que vivemos foi real; foi breve, sem oportunidades de uma possível concretização do que idealizamos, mas foi, puramente um momento de epifania; momento este que foi um divisor de águas: saímos do estágio de flerte "despretensioso" para uma fase de esclarecimento do sentíamos, momento no qual confessamos toda a admiração que sentíamos reciprocamente, momento no qual questionamos o porquê de perdermos tanto tempo flertando ao acaso, como quem não quer nada. Hoje, o vácuo definitivo que você me deu completa 2 meses, é estranho dizer isso, mas, eu não fiquei triste, felizmente não deu tempo de criarmos um nível de proximidade que nos impedisse de um afastamento sem dor. Mas eu me questiono frequentemente sobre o porquê, entende? Desde quando nos conhecemos nunca tinha havido uma certa estabilidade na nossa relação, mas justamente quando você me abandonou parecia que era o momento exato no qual estávamos começando a criar este equilíbrio, inclusive às vezes me questiono se foi esta a razão, talvez você tenha percebido né?

Durkheim diz que os fatos sociais por possuírem um caráter coercitivo muito forte nos impedem de possuir uma personalidade singular; livre de influências externas. Hoje, enquanto um amigo meu ouvia Amy Winehouse, pude perceber que você moldou parte da minha personalidade - tal como uma instituição faz com cada um dos indivíduos. Sim, você modificou, sutilmente, minhas maneiras de "pensar, sentir e agir", de modo que, eu como alguém que nunca se interessou por música estrangeira acabei por desenvolver uma baita admiração por Amy e Rihanna - às vezes acho, inclusive, que posso enxergá- las a partir do seu olhar.