Coleção pessoal de lisbdc
Saudade é não saber. Não saber o que fazer com os dias que ficaram mais compridos, não saber como encontrar tarefas que lhe cessem o pensamento, não saber como frear as lágrimas diante de uma música, não saber como vencer a dor de um silêncio que nada preenche.
Me goste, mas devagarinho. Naturalmente. Sempre cai bem a amizade, é serio. Não me odeie, de jeito nenhum. Eu morro com isso, faz realmente diferença. Não me trate mal, nem com descaso, cuide de mim, me proteja. Mesmo, me proteja. Me dê colo e carinho, mas só quando eu pedir. Mas preste atenção em mim, eu posso pedir com um breve olhar.
Não se rebaixe, seja orgulhoso. Com todos, e comigo menos, mas não tão menos. Me faça sentir falta de carinho, atenção, conforto e proteção. E me mime, sendo o único que pode me oferecer isso, e ofereça, mas só quando eu pedir. Quando eu estiver me acabando, a beira do choro, me resgate. Me faça enxergar.
Me elogie, concorde comigo, aos poucos, sinceramente. E discorde, se conseguires me mostrar o outro lado. Me ajude a encontrar um equilíbrio, e venha comigo, mas traga outros junto. Não pretendo me isolar. Me faça sofrer. Mas me faça sofrer só quando eu gostar de ti e for gostada. E sempre, sempre, da forma mais sutil possível.
Eu me entrego, eu gosto, eu curto, eu faço coisas que nunca fiz antes, digo coisas que nunca disse, sinto coisas que nunca senti. E tenho medo, de novo, e choro, e faço chorar. E aceito ideias que não eram mais minhas, aceito compromissos que sei que vao me levar onde já me levaram: ao nojo, ao enjoo, à fuga, ao cansaço, e finalmente, à mais um tempo sozinha sem coragem de me entregar, e mais tarde, uma nova necessidade de um tratamento de choque.
Mas se eu tivesse ficado, teria sido diferente? Melhor interromper o processo em meio: quando se conhece o fim, quando se sabe que doerá muito mais — por que ir em frente? Não há sentido: melhor escapar deixando uma lembrança qualquer, lenço esquecido numa gaveta, camisa jogada na cadeira, uma fotografia — qualquer coisa que depois de muito tempo a gente possa olhar e sorrir, mesmo sem saber por quê. Melhor do que não sobrar nada, e que esse nada seja áspero como um tempo perdido.
Vai passar, tu sabes que vai passar. Talvez não amanhã, mas dentro de uma semana, um mês ou dois, quem sabe? O verão está aí, haverá sol quase todos os dias, e sempre resta essa coisa chamada “impulso vital”. Pois esse impulso às vezes cruel, porque não permite que nenhuma dor insista por muito tempo, te empurrará quem sabe para o sol, para o mar, para uma nova estrada qualquer e, de repente, no meio de uma frase ou de um movimento te surpreenderás pensando algo assim como “estou contente outra vez”.