Coleção pessoal de lindaormond
ÁGUAS VÍVIDAS
Tenho profundo medo de nadar.
Por ter afogado em águas fundas,
Duvidosas, que até as areias mais escuras
Se tornam mais claras ao comparar.
Tenho medo de me afogar.
Por debater-me em águas tempestuosas
Que até em dias de ondas harmoniosas
Duvidoso era de se banhar.
Me abstenho de desfrutar a sensação
Enquanto não dessalga as águas do equador.
É a melhor forma de afastar-me daquela dor,
Mesmo onde nunca houve salinização.
É lindo poder conhecer novas águas e seus vários estados.
Melhor é poder conhecer seus corais,
Peixes, algas e outras coisas mais,
Mesmo tendo a certeza que todo oceano aloja navios afogados.
Tenho medo de sempre ser o Titanic,
Pesado e rápido de mais para o que parece ser uma pequena barreira.
Mesmo que, no fundo, tinha total certeza
Que qualquer movimento seria insuficiente.
Digo-vos: É melhor vivenciar novas construções e reconstruções do que continuar incentivando reformas inacabadas!
Saudade de olhar nos teus olhos castanhos,
de piscada em piscada.
Admirar teu sorriso lindo,
de riso a riso.
De abraçar você
sem nem pensar o que está acontecendo lá fora,
de fase em fase.
De te beijar e sorrir depois
por estar feliz do teu lado,
de momento a momento.
De simplesmente te ter por perto,
de saudade em saudade.
E eu me curvo.
Me curvo despido de medo, de irreverências irreversíveis, de bem mal aproveitado e de vestes materiais.
E eu me deixo.
Desvencilho-me da minha carne, da minh’alma terrestre, da matéria veredita e mal criada.
E eu me vou.
Me vou feliz, longe de provas e expiações, longe de malícias e mágoas, de hipocrisia e vida mal submetida.
MEU SETEMBRO É MAIS VERDE
Cuida do verde, menina
Cuida do verde que guarda.
Cuida do verde e ensina
Que nem tudo de fogo é de mata.
Cuida do verde, da planta, do chão.
Cuida com amor e não mata
Cuida do ar, solo e plantação
Que o verde tá na bandeira, Brasil pragmata.
É de amor, pavor e unção
Que o país grita e se cala.
Mas é de fervor, temor e pendão
Que o fogo se ascende e se apaga.
Acalenta o coração que chora
Da mãe de rios em escoamento,
Mãe Terra, que adormece agora
Anestesiando seu sofrimento.
Deixei de me ser,
Serei outro eu,
Pois deixei de me ser.
O outro esqueceu
Que deixei de me ser,
Jamais serei eu,
Pois deixei de me ser,
Serei outro eu.
Autossabotagem
É meu corpo nú sem se desvincilhar das vestes.
É minha alma morta, bem viva no inferno terreno que atrai meus pés materiais.
É minha roupa que não rasga, mas foi feita de vários, soltos, fiapos.
Nunca justifique o que deixou de fazer, pois não fez de qualquer forma. Justifique o que fez, assim entenderão seus motivos.