Coleção pessoal de letsti

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Eu me agarro na brisa da janela meio aberta
Me acalanto com o tanto de frescor que ela trás
Ah, se eu pudesse abrir a porta para o vento,
Ah, se eu tivesse tempo, para passear...
Tirar pedaço da nuvem que parece um algodão
Perder o traço do espaço que já está na minha mão
Embebedar-se com o orvalho que calmamente cai no chão
Pisar no chão que o carvalho forrou em transfiguração
E transformou em um colchão.
Que repousou o beija-flor em toda a sua inquietude
Que abrigou aquela flor para um romântico roubar
Que fez pisar aquela gente cheia de virtude
E fez sonhar aquele sonho que soube apaixonar
Ah, se eu pudesse deixar a brisa entrar e voar...

Ela gostava de desbravar
Era uma aventureira sem casa
Vivia esbarrando em gente, indo à lugares
Mas um dia percebeu
Que se esqueceu na última esquina.

Às vezes eu acho que se eu não te ligasse você esqueceria que um dia liguei.
Às vezes eu acho que não devo te ligar mais.
Eu pego o telefone e observo a hora
É sempre tarde para qualquer coisa
Renato estava errado, não temos todo o tempo do mundo
E essa ligação, já durou tempo demais.
É hora de te deixar ocupar a linha.

Destranca a tranca que tranca teu peito
Dá um jeito de se reorientar
Admita que nada é perfeito
E depois de tudo feito, comece a gargalhar.
Gargalhe pro tempo, pro vento e pra quem quiser mudar
O teu jeito de se apaixonar.
Pela vida, pela rua, pela chuva,
Pela gente que de repente vem urgente
Aqueles olhos que transpassam o instigante
Do faz de conta que se entende por viver.
A gente corre apressado pelo vento
E se esquece de olhar todo o passar
Passar de tempo, de rostos, de apresso.
A mudança de endereço, que isso tudo vai gerar.
Então, destranca a tranca e encosta.
Daqui a pouco a hora certa vai chegar.

Senta, calma, eu vou contar uma história.
São flashes falhos que se estancam na memória
Uma menina que transbordava amor
E um amor que respirava solidão.
Um dia ambos se esbarraram no caminho
Devagarinho, os flagras de uma paixão.
Moraram juntos numa velha quitinete
Encontrada num jornal como manchete
Fruto de liquidação.
Viveram dias no torpor do paraíso
Nas madrugadas se livraram do juízo.
De transbordar o amor foi se evaporando
E os dois pararam de tentar se confortar
Um dia ela sussurrou considerando:
“Se a gente separa, com quem a arara, vai ficar?”
Então soltaram a arara aos quatro ventos
Se separaram e tornaram a caminhar.
E caminhando novamente sob a lua
Um esbarrão na chuva que molhara a rua
Foi transbordando novamente o coração
Daquela gente que vivia de paixão

Não me solta, fica aqui comigo, já te fiz de abrigo pro meu coração.
Não tem volta, tá aí o perigo, não sei se consigo perder tua paixão.
Eu te vejo, descendo a ladeira, saindo do banco que a gente sentou.
E me esqueço de olhar as estrelas pra te ver partindo pra onde ficou.
Me seguro nas flores inteiras e nas brincadeiras que a gente brincou
Me desabo na poça d’água, na foto rasgada que a gente tirou.
Só te peço, fica aqui comigo, pelo infinito ou até o fim.
Ou por pena, pra me ver serena, para me acalmar, fica perto de mim.
Não me esquece na tua penteadeira junto da revista que a gente posou
Me aquece naquela geleira que a solidão me transformou.
Não me solta, fica aqui comigo, já te fiz de abrigo pro meu coração.

Eu conto piadas se quiser sorrir
Eu viro abrigo se a chuva cair
Eu molho os cabelos se quiser correr
E vivo contigo se quiser viver...

Eu planto uma árvore se quiser maçãs
Eu seguro o sol se quiser manhãs
Escrevo uma música se quiser dançar
Eu arrumo asas se quiser voar.

Sentei-me no cordão e fiquei a observar as flores
Vez ou outra uma abelha vinha buscar um pouco de doce
De repente uma moça arranca uma flor
Bem me quer, mau me quer e ela logo está no chão.
As pessoas pisam em suas pétalas sem nem notar
Sequer percebem a beleza que está sob seus pés
Elas ficam tão mais bonitas sem serem arrancadas. – Pensei.
Caminhei até uma floricultura
Observei os apaixonados presenteando suas amadas
Margaridas, rosas, violetas...
Um dia elas murcharão e as pessoas sequer lembrarão
Mas talvez se alguém as plantasse em um quintal qualquer
Deixasse num canto para embelezar
Pra que eu parasse pra fotografar
Um dia ela sairia em uma revista
Milhões de pessoas se emocionariam.
Observei a floricultura uma última vez
Caminhei a largos passos e pensei:
Seriam tão mais bonitas se não fossem arrancadas!

Arco-íris

O vento me toca, diz que vai chover.
A brisa se choca, medo de se perder.
Os pássaros correm, fogem pra não molhar.
A gente se espanta, a pressa faz não olhar.

A chuva nos tranca faz franca buscar abrigo
O cabelo molha e agora: “Se alguém me ver?”
A gente destranca, percebe não ter perigo.
Se molha e implora, dilúvio acontecer.

O sol vem surgindo, quase que deprimido.
A chuva estanca e ao vento os algodões.
As gotas e os raios trazem o colorido
Aplausos ao “íris” e suas emoções.

Pequeno

Acalme-se pequeno... Venha ver o pôr do sol
Mesmo minha agitada alma
Ali se põe calma
Feito um girassol...

Deite na grama verde, feito teu olhar
E contraste-se com o vento
Do mundo temos todo o tempo
Quanto puder imaginar...

Enlace minha mão na tua
E ao fechar os olhos, deixe-se acariciar.
Convido-te a esperar a lua
E mais tarde, quem sabe a jantar...

Entre tantos porquês

Dói lembrar-se do teu sorriso...
Dói sentir essa saudade...
Os porquês me corroem, fisgam-me a sanidade.
Delírios com teu beijo faz-se o paraíso.
Entre tantos
Tantos porquês
Como ainda não consegui expulsar-te do coração?
Talvez esse seja o que mais me distrai
Preciso para meus olhos outra direção.
Preciso que tenha vento para te dizer “ Vai...”.
Vai com o vento menina
Deixe-me aqui no meu sofá
Busque em outros mares a tua sina
Pois cravada em meu céu já está.

Todas as pessoas
Todas as gerações
As crenças, a fé.
Todas as orações.

Todas as vidas
Todas as emoções
Todos os problemas
Todas as resoluções.

Todos os sorrisos
Todo o amor
Todos os abraços
Todo o calor.

Todas as noites
Todos os dias
Todas as alegrias.

Todos os choros
Todas as chuvas
Todos os coros
De adoração.

Todas as mãos
Todos os laços
Todos os traços.

Todos os todos...

O frio do teu calor

Como um vento sul, frio e vagaroso.
Tomou por antecedência
Arrepiando, o pesaroso.
Aqueceu sem procedência.

Deixou-me em calafrios
Sem ter o porquê de fugir
Perdurou mais que outros frios
Mas esquentou e teve de ir.

Por inverno eu imploro
Ao inverso eu quero gelar
E flocos de neve choro
Na janela a te esperar.

O frio do teu calor
Em uma época de toda errada
Chegou trazendo torpor
E se foi na madrugada.

Procuro na chuva e outros carnavais
O que o vento fez de amor
Talvez ande no sul ou em outros litorais
O frio leve e sereno que aqueceu o meu calor.

Tardar

Acalma a alma pequena
E sente, vamos ver o mar.
Curtir a tarde serena
Os gostos e rostos do amar.

Feche os olhos e veja com o vento
O que transpassa o acariciar
Esqueça-se do tempo
Lembre-se do devagar.

Não pense no porquê de estar feliz
Apenas deixe-se acalantar
Ouça o que o gesto diz
E de jeito ponha-se a sonhar.

Uma vida

Andou por entre os carros
Correu por entre os pássaros
Caiu rente ao cordão
Partiu um coração.

Subiu a escada do céu
No céu não viu uma harpa
Da noiva ergueu o véu
Pediu-a que nunca parta.

Chorou a partida da esposa
Orou para um gigante
Salvou uma mariposa
Quebrou o retrato da estante.

Perdeu todo o dinheiro
Por não ter manga para o Ás
Deixou de ser passageiro
Fez guerra para ter paz.

Cantou o hino nacional
Elegeu-se rei de uma terra
Pulou mais um carnaval
Indagou que nunca erra.

Errou e foi exilado
De toda e qualquer pequena
Chorou e foi maltratado
De si começou a ter pena.
Liberto passou a odiar
O gigante e seus descendentes
Viveu apenas para espalhar.
A descrença para os crentes.

Morreu e foi enterrado
Numa terra em algum lugar
Da história foi ignorado.

Medo

Eu tenho medo de sorrir e não ser retribuída
De abraçar e não ser abraçada
De nas lágrimas ser diluída
E no peito ser despedaçada.

Eu tenho medo de dormir e não acordar
De ao abrir os olhos ver escuridão
De não conseguir enxergar
E de entregar meu coração.

Eu tenho medo de morrer na solidão
De não fazer parte da história
De no final ser mais um borrão
De qualquer lembrança na tua memória.

Permiti-me chorar somente para a lua. O céu era banhado por uma chuva de meteoros, seria irônico dizer que estava chorando.
Até o céu chorava.

Se eu pudesse ser a única pessoa a te ver no mundo
Ver-te-ia de mil formas
Para que o teu rosto ficasse eternizado de mil maneiras em minhas memórias.

Tentativa e erro.

Ele é mais um bom samaritano
Aquele cara, daquela banda.
Ele vai me tirar um sorriso espontâneo
Vai deixar a minha dor mais branda.

Sei que ele vai me amar
Poderei com sua mão brincar
Então, porque não?
Talvez tenha espaço no meu coração.

Forçarei o meu melhor sorriso
Talvez o seus braços não sejam o paraíso
Tentativa e erro por felicidade
Talvez a gente supra essa vontade.

Pode ser que eu venha a amar
Porque não tentar?
De repente personifique o tal alguém
Sofrer não mais me convém.

A janela

Eu posso ver as luzes da cidade
As almas que vagam penosas por lealdade
A lua que quase passa despercebida
E a rua que dá mil voltas sem saída.

Eu vejo a vida da minha janela
Procura e acha mais do que procura como Anabela
Daquele livro, daquela autora.
Do parapeito da cortina bem feitora.

O chão daqui é tão convidativo
A viagem por um desejo impulsivo
Visto assim que até então controlável
Como a luz latente da janela inviolável.