Coleção pessoal de LeticiaGil

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Me perco, me procuro e me acho. E quando necessário, enlouqueço e deixo rolar.

Nunca sei se quero descansar porque estou realmente cansada, ou se quero descansar para desistir.

E, se você me achar esquisita, respeite também.
Até eu fui obrigada a me respeitar.

Cuidado – reciclagem

Conheço pessoas que têm tanto cuidado com o lixo! Demonstrando consciência ambiental e maturidade ecológica. Separa adequadamente, sabe desvincular tipos de lixo integrados como tampa de metal do pote de vidro que tem rótulo de papel e que tem orgânico estragado. Esmeram-se, arranjam tempo para este trabalho minucioso. Determinam prioridade e fecham suas tarefas com este item. Têm espaço na cozinha para cada um deles. Organiza na semana um dia para levar, depositar com cuidado e esmero, com consideração. Tem tanto respeito pelo meio ambiente, zelo e é impressionante como sabe ser ecológico, consciente, prestativo, amoroso e com tanto bom senso e tão justo com todos. Pois até de vidro cuida para que as pessoas humanas que entram em contato com este tipo de lixo em seu trabalho de coleta e não se machuque.

Mas pergunto: e a ecologia relacional? Será que as pessoas pensam e cuidam desse ambiente? Como cuidam dos sentimentos, emoções, vida dos demais que compartilham de sua convivência?! Percebe-se em alguns, desprezo, desrespeito, falta de valores e qualidades básicas. E até mesmo falta de posturas adequadas a cada um dos envolvidos em seu meio de coexistência. Não há certas reservas e pudores bem como compostura e decência de acordo com as camadas, categorias, condição de relação de cada pessoa de sua convivência ou não convivência. Íntimos, estranhos, recém chegados, antigos conhecidos, parentes se misturam em igualdade corrompida, doentia e lascívia quase pornográfica. As atitudes são devassas e libertinas. Uma mistura de temas, conteúdos, passado transcorrido, futuro desconhecido, presente embaralhado, mexido, misto...
Não cuidam de colocar, alocar, dispor e classificar amantes, filhos, ex companheiros, parentes, inimigos, desconhecidos, estranhas, companheiro atual, interesseiros, colegas, amigos sinceros em seus lugares, cada um no seu canto com seu quinhão de porção desde atenção, cuidado e zelo. Há relações que devem ser descartadas devidamente com cuidado e não ficar trazendo lixo orgânico de volta para casa.

E há ainda pessoas-produtos que não servem ao nosso consumo ou porque estão aquém ou além de nosso merecimento, capacidade de entendimento, condição de consumo e que não devem sair de seu meio natural e puro. Jamais arranquem flores dos jardins, plantas das hortas, árvores das florestas, animais silvestres da natureza, e queiram apoderar-se, controlar e encher a vaidade, o Ego, o senso de poder e conquista; e inflar o pavão esnobe e imaturo que habita o recôndito de certos corações humanos. Não ajude a extinguir nobres e dignos puros seres humanos que ainda vivem sobre a terra. Façam uma ecologia completa, sejam ecologistas plenos e tenham atitudes conscientes assim como consumo de relações sabias, verdadeiras, dignas conscienciosas.

Letícia Gil

Como uma Fênix... AS últimas brasas estão apagando e as primeiras cinzas, virando penas!

LET ME TRY AGAIN

Você viveu um grande amor que terminou meses atrás. Está só. Nada nesta mão, nada na outra. A sexta-feira vai terminando e, enquanto seus colegas de trabalho aquecem as turbinas para o fim-de-semana, você procura no jornal algum filme que ainda não tenha visto na tevê. Ao descobrir que vai passar Kramer vs. Kramer de novo, não resiste e cai em tentação: liga para o ex.

Tentar outra vez o mesmo amor. Quem já não caiu nesta armadilha? Se ele também estiver sozinho, é sopa no mel. Os dois já se conhecem de trás para frente. Não precisam perguntar o signo: podem pular esta parte e ir direto ao que interessa. Sabem o prato preferido de cada um, se gostam de mar ou de montanha, enfim, está tudo como era antes, é só prorrogar a vigência do contrato. Tanto um como o outro sabem de cor o seu papel.

Porém, apesar de toda boa intenção, nenhum dos dois consegue disfarçar o cheirinho de comida requentada que fica no ar. O motivo que levou à separação continua por ali, escondido atrás do sofá, e qualquer hora aparece para um drinque. O fim de um romance quase nunca tem a ver com os rompimentos de novela, onde a mocinha abre mão do amado porque alguém a está chantageando ou porque descobriu que ele é, na verdade, seu irmão gêmeo. No último capítulo tudo se esclarece e a paixão segue sem cicatrizes. Já rompimentos causados por incompatibilidades reais não são assim tão fáceis de serem contornados.

Toda reconciliação é precedida por uma etapa onde o casal, cada um no seu canto, faz idealizações. As frases que não foram ditas começam a ser decoradas. As mancadas não serão repetidas. As discussões serão evitadas. Na nossa cabeça, tudo vai dar certo: o roteiro do romance foi reescrito e os defeitos foram retirados do script, ficando só as partes boas. Mas na hora de encenar, cadê o diretor? À sós no palco, constatamos que somos os mesmos de antigamente, em plena recaída.

Se alguém termina um namoro ou casamento, passa um tempo sozinho e depois resolve voltar só por falta de opção, está procurando sarna para se coçar. Até existe a possibilidade de dar certo, mas a sensação é parecida com a de rever um filme. Numa segunda apreciação, pode-se descobrir coisas que não haviam sido notadas na primeira vez, já que não há tanta ansiedade. Mas também não há impactos, surpresas, revelações. Ficamos preparados tanto para as alegrias como para os sustos e, cá entre entre nós, isso não mantém o brilho do olho.

Se já não há mais esperança para o relacionamento e tendo doído tanto a primeira separação, não há por que batalhar por uma sobrevida deste amor, correndo o risco de ganhar de brinde uma sobrevida para a dor também. É melhor aproveitar esta solidão indesejada para namorar um pouco a si mesmo e ir se preparando para o amor que vem. Evite a marcha a ré. Engate uma primeira nesse coração.

Sumi porque só faço besteira em sua presença, fico mudo
quando deveria verbalizar, digo um absurdo atrás do outro quando
melhor seria silenciar, faço brincadeiras de mau gosto e sofro
antes, durante e depois de te encontrar.
Sumi porque não há futuro e isso não é o mais difícil de
lidar, pior é não ter presente e o passado ser mais fluido que o ar.
Sumi porque não há o que se possa resgatar, meu sumiço é
covarde mas atento, meio fajuto meio autêntico, sumi porque
sumir é um jogo de paciência, ausentar-se é risco e sapiência,
pareço desinteressado, mas sumi para estar para sempre do seu
lado, a saudade fará mais por nós dois que nosso amor e sua
desajeitada e irrefletida permanência.

Sentir-se amado

O cara diz que te ama, então tá. Ele te ama.

Sua mulher diz que te ama, então assunto encerrado.

Você sabe que é amado porque lhe disseram isso, as três palavrinhas mágicas. Mas saber-se amado é uma coisa, sentir-se amado é outra, uma diferença de milhas, um espaço enorme para a angústia instalar-se.

A demonstração de amor requer mais do que beijos, sexo e verbalização, apesar de não sonharmos com outra coisa: se o cara beija, transa e diz que me ama, tenha a santa paciência, vou querer que ele faça pacto de sangue também?

Pactos. Acho que é isso. Não de sangue nem de nada que se possa ver e tocar. É um pacto silencioso que tem a força de manter as coisas enraizadas, um pacto de eternidade, mesmo que o destino um dia venha a dividir o caminho dos dois.

Sentir-se amado é sentir que a pessoa tem interesse real na sua vida, que zela pela sua felicidade, que se preocupa quando as coisas não estão dando certo, que sugere caminhos para melhorar, que coloca-se a postos para ouvir suas dúvidas e que dá uma sacudida em você, caso você esteja delirando. "Não seja tão severa consigo mesma, relaxe um pouco. Vou te trazer um cálice de vinho".

Sentir-se amado é ver que ela lembra de coisas que você contou dois anos atrás, é vê-la tentar reconciliar você com seu pai, é ver como ela fica triste quando você está triste e como sorri com delicadeza quando diz que você está fazendo uma tempestade em copo d´água. "Lembra que quando eu passei por isso você disse que eu estava dramatizando? Então, chegou sua vez de simplificar as coisas. Vem aqui, tira este sapato."

Sentem-se amados aqueles que perdoam um ao outro e que não transformam a mágoa em munição na hora da discussão. Sente-se amado aquele que se sente aceito, que se sente bem-vindo, que se sente inteiro. Sente-se amado aquele que tem sua solidão respeitada, aquele que sabe que não existe assunto proibido, que tudo pode ser dito e compreendido. Sente-se amado quem se sente seguro para ser exatamente como é, sem inventar um personagem para a relação, pois personagem nenhum se sustenta muito tempo. Sente-se amado quem não ofega, mas suspira; quem não levanta a voz, mas fala; quem não concorda, mas escuta.

Agora sente-se e escute: eu te amo não diz tudo .