Coleção pessoal de Leivanio
Quando estiveres triste
Quando estiveres triste, respire com a profundidade de sua dor, deixe as lágrimas darem vazão e as sinta lavarem o seu rosto, mas quando secarem, levante e olhe ao seu (re)dor, onde possa existe dor também é um lugar que se pode sentir vida. O céu não precisa ter outras cores se não azul.
As outras pessoas não precisam pagar pelo mal que uma te causou. O mundo não se restringe nas boas companhias de bar que não te levaram pra casa.
Levante, faça um café, tome um banho e deixe a água cair. Pense nas (des)ilusões, mas tome consciência das (i)lusões que criaste para não ter que por em cheque tudo aquilo que não querias se dar conta. A vida não se desenha por um só lado.
Embora sejas autor(a) de tua arte, há uma diferença em ser protagonista de sua própria história, a vida necessariamente não segue tuas vontades enquanto fores apenas parte da vida de alguém.
Não espere que alguém entenda suas diferenças se tu mesmo não as conhece, impor empatia não é o mesmo que se colocar no lugar do outro, o egoísmo não está apenas do lado de lá, pois amizade não se sustenta com obrigatoriedades. Ninguém é obrigado a ser companhia em um destino diferente de sua viagem.
As vezes, a desordem da qual reclama é só mais uma consequência do caos que vives internamente e externaliza por querer controlar o que não precisa de controle, mas sim de coesão e operações.
O fluxo da vida não precisa de ti para seguir. Ele é uma constante que não espera as pendências de quem apenas faz parte dela. Lembras que há uma diferença entre viver ou atuar na própria vida?
A forma que passares a ver a vida será a maneira que o mundo passará a lidar com tuas escolhas. Existe um respeito do universo pela existência que alguns chamam de lei do retorno, de deus, de destino, mas é puro desejo, talvez por isso, em vez de esperar que algo passe ou alguém seque teu pranto, afogue-se no que é teu, tome as rédeas e o peso das tuas escolhas, ninguém tem que adivinhar que precisas de companhia se tu não abres mão de uma tóxica solidão.
Em tempos sombrios e de cegueira, a razão ainda é uma maneira de enxergar luz para além daqueles que só reproduzem o que seus líderes vomitam em templos e palácios sem glorias.
Leva-se tempo até entender que andar descalço pode ser mais prazeroso do que não poder tocar o chão. Se leva tempo pra sentir firmemente os caminhos que se quer sentir, as escolhas que se quer tomar, os muros que se quer pular. Muitas vezes paga-se caro pela simplicidade de andar descalço. É difícil compreender que se pode desagradar e continuar amável, que se pode amar e também magoar para manter-se saudável, até entender que se sua felicidade deixa o outro infeliz, realmente existe algo muito errado nisso tudo, e não é com você. Algo precisa mudar, mas realmente não é você que precisa mudar! Protagonizar a própria vida muitas vezes é abdicar do investimento de quem te ama ou diz que ama para escrever sua própria história com os pés no chão, mesmo que tenhamos aprendido a vida toda que não se deve andar descalço.
Estrangeiro
Já faz um tempo que decidi romper fronteiras e pisar no desconhecido terreno do desejo. A minha língua materna passou a ser somente um código essencial que possibilita outras formas de pronúncias e gera estrangeiros raciocínios que me levam a sorrir para o mundo dos outros. As barreiras entre o familiar e as estranhezas perpassam pelas limitações das poucas experiências e muitas desconstruções do que foi um dia fronteiriço. É libertador! E onde estaria a liberdade nisso? Justamente no ato de ser imperfeito, sem a culpa das falhas e sem o medo que limita o nosso sujeito errante. Pois se aventurar ao mundo não precisa traçar destinos marcados em linhas como as da palma de nossa mão. O céu não precisa ser o limite, pode ser só mais um espaço que escapa a fantasia do que se entende por infinito. O mundo nunca foi tão pequeno e tão grande quando a noção de tamanho é uma variável daquilo que é possível de ser sustentado. Então, a melhor companhia para nosso destino somos nós mesmos. E se tudo que ainda te deixa no chão é a penas o peso de tuas próprias asas, jogue-se no abismo de si e tome voo! Sinta a leveza de voar sem ser estrangeiro do teu próprio desejo!
Quando os obstáculos do caminho persistirem, feche a estrada e tome um voo, veja a coisa de cima, rasgue os céus, abra as asas e assuma a cabine, pilote suas emoções, estabilize a rota para sentir novamente os pés no chão. Pouse em uma serenidade longínqua. Busque na razão àquelas possibilidades de remendar-se, e costure novos sonhos em sua própria alma.
Insônia
Quando os pensamentos sobram e as noites tendem a se prologar, o silêncio da madrugada perturba os sentimentos bons, a insônia passa ser aquela companhia inconveniente enquanto o nascer do dia vem surgindo em passos lentos. Não há pressa de chegada. O relógio vai marcando minutos como horas e segundos como uma vida.
A mente fica eufórica, pois o passado, presente e futuro já não possuem ordem, tornaram-se um tempo só.
As preocupações, a desordem da cronologia angustia fortemente até as falhas mais brandas do que é comum a qualquer um.
Aqueles pequenos erros são potencializados e nutridos por pensamentos invasores e cruéis.
Os juízes que habitam as profundezas da subconsciência emergem com sua soberania e autarquia dos tiranos. Julgando qualquer ideia de calmaria para que o turbilhão das emoções se faça presente e o caos propague-se por todo resto de noite despertando todos os fantasmas infantis e o medo do escuro. Nesse momento o coração está no estômago sendo digerido pela acidez da ansiedade.
E nas fragias tentativas de menção de sono, luta-se contra os temores insuportáveis, pois não soubera como difícil é perder-se entre as bordas de uma cama quando à noite não traz paz.
Quando voltaremos a cortar a angústia da existência com a fantasia de uma vida azul?
Essa sensação apocalíptica cria uma dialética entre o sobreviver e viver. Se é possível viver? Se a gente na verdade só tinhamos sobrevivido esse tempo todo!
Memórias de um passado inexistente.
O radicalismo não deu certo em lugar nenhum do mundo!
A intolerância é a morte da civilização e consequentemente a aniquilação do sujeito.
Diferente da paixão, o amor não é pra
amadores. Demanda uma maturidade para o cotidiano. Por isso é muito difícil sustentar amores na juventude. Pois depois da paixão o que fica é (ato)alha molhada na cama ou (caos)cinha pendurada no box e um outro sujeito deitado no sofá.
“Vão dizer que foi sorte”
Não, não vão dizer porque as pessoas não dizem. Dizer isso é assumir pra si um fracasso. E normalmente o sucesso do outro é ameaçador até quando for por sorte. Segue apenas fazendo teu corre!
Nada é fácil, mas também nem precisa ser. Talvez precisa ser possível se isso já nos agrada sem a obrigação de agradar o mundo.
Em alguns caminhos pela vida, a natureza é testemunha de muitas alegrias, tristezas, perrengues, idas e vindas, mas também de muitas partidas... (par)tidas. Talvez porque um dia teve e hoje é ímpar. As vezes é necessário partir para um dia voltar a ser par ou resgatar a ser ímpar.
A sexualidade humana é uma organização psíquica variável não determinada pelo biológico. Ela é constituída pela organização de suas experiências e processos pulsionais. Não tem nem a ver com gênero, mas sim, com a organização psíquica de cada sujeito. Tentar padronizá-la fazendo analogia à sexualidade animal que é institiva e não pulsional, é pura ignorância e a ignorância é base para qualquer violência.
Seguir
Sigo estando aqui,
Ainda parado em um novo cenário,
As vezes caminho com muitas ausências.
A poesia demanda abrir asas,
Buscar uma nova experiência e pôr novas formas no papel.
Mas no fundo,
Eu jamais deixei de sentir,
Jamais neguei as experiências embora muitas vezes tenha buscado uma beleza no passado,
No entanto, eu a encontrei hoje na simplicidade.
Tenho procurado em meus livros, falaram-me que estava lá, aquelas coisas perdidas no meio de uma frase.
Sei que em essência nem sempre predominará o bem, mas nele confio assegurado em uma fantasia apostando nos demais dias que poderei rever o mar azul.
E finalmente dizer que lá longe há uma luz à vista, como em uma miragem,
Mas é possível ver a luz.
O ato de Escrever
Gosto das coisas que me tocam, as vezes certas coisas me tocam que perco a capacidade de controle sobre o que penso. É como se eu entrasse em suspensão e assistisse a ousadia de minha inspiração escrever como se ver uma máquina antiga de datilografia escrevendo sozinha, como se ela soubesse o que diz e ignorance quem sou. Apenas diz. E é nesse momento que estou lá. Por dizer algo que não sei de onde vem, mas que sinto de uma maneira tão genuína que me encontro.
É um saber que não é meu, mas que ecoa de mim. Reverbera no corpo e me ponho a sentar para asisstir um movimento causado como efeito de despertar sentimentos.
A partir daí, não me restar nada mais, pois algo assopra em meus ouvidos o dito que não é meu, mas que faz parte de mim, porque sou um pouco de tudo que me inspira, pois a vida me toca!
E no momento que transcrevo isso perco total autonomia de um egoísmo humano. É como uma nascente, que não cabe dizer ao rio por onde correr, apenas fluir, e por fluir não precisa do controle do que diz. Então em verbo estou. Estou lá como tudo aquilo que me toca, que sinto, que assombra e faz sentido pra mim.
Noites Fechadas
De algumas noites fechadas,
Como se fecha rapidamente um guarda-sol,
O dia despertou cedo,
Pondo o rosto sobre o volante,
Amiúde, o sol faz lembrar de conhecidos caminhos.
Aqueles aborrecimentos que são rotineiros,
Percorridos por estradas ao som do vento que oscila emoções nas mesmas canções.
As vezes se pode acompanhar o coro frágil e violento, mas outras vezes a beleza da estrada é também um acolhimento pra alma. E derrepente tudo muda, o som muda!
Ao longo do caminho se ver um rasgo no meio do céu, tons quentes e um singelo tom azul.
Uma luz encadeia o rosto,
E isso nos faz ter um novo olhar da estrada,
Faz acelerar não somente o carro, mas também o coração.
E de repete se ver beleza lá fora!
Porque se reconhece no que o toca, e aquilo que toca é belo e real,
Nos tornando mais original, genuíno como toda naturalidade poética é!
E nos faz criar aberturas para a próxima noite,
Abrindo possibilidades de dormir na paz.
Pois só é possível contemplar beleza externa se houver do lado de dentro paz.
Leivanio
Aprendi a olhar a vida com os olhos do mundo. Enxergando a beleza genuína como ela é, sem os mais ou menos que se colocam e deslocam para uma visão fictícia ou fantasmática da naturalidade das coisas.
Aqui, o belo se faz contemplar e o exótico impera nas flores, cores e ditos.
Ditos que me fazem dizer que quero encharcar-me de palavras,
Daquelas que fazem eco e põe cor no vazio que nos pega de surpresa.
Que algumas vezes falam por nós, pois também somos feitos de vazios e imensas faltas. Diria até que 70% pode ser água, mas trinta no CENTRO é o lugar daquilo que nada preenche.
A palavra é uma possibilidade quando se consegue um equilíbrio no que se diz, pode dizer, se perde em não dizer ou por dizer demais. Porém, aqueles ditos que põe palavras no vazio nos trazem de volta. Nos fazem escalar etapas da e do alto sorrir.
O NARCISISMO DE DEUS
Desde as muitas teorias criadas para explicar a existência da criação do mundo e o homem na terra, uma em especial faz parte do imaginário da cultura de quase todos que foram atravessados pela cultura judaica-cristã, que é justamente o mito que deus criara o mundo em seis dias e no sétimo descansou.
Ora, se Deus criou o mundo em seis dias como diz nos escritos bíblicos, e se ele por si só é Deus, por que a necessidade de criar alguém que fosse sua imagem e semelhança? Pode-se pensar que a existência de Deus seria solitária, pois não se bastou existir.
Seria então Deus um ser Narcisista? Incomodado com sua solitária existência? Que criou um ser no espelho de sua face por ter se deparado com sua solidão projetada no solitário Adão? E Eva, veio em auxílio para tirar Adão do monótono paraíso e da solidão?
Se a psicanálise vai até onde há possibilidades de dúvidas, a religião começa a partir de uma crença, da ideia inquestionável de acreditar em algo maior que vem em socorro de nosso assombroso desamparo. No entanto, pensar a existência pelo víeis bíblico por si só nos faz em algum momento nos deparar com um Deus também desamparado. Que até as crenças humanas advêm do desamparo, pois o Deus cristão é a própria imagem de quem o criou, demandando um investimento narcísico de crer para existir. Pois não basta existir, precisa ser adorado por alguém que não existe sozinho.
Isso nos leva a raciocinar que o sujeito dentro de todas suas estratégias psíquicas está sempre em fuga daquilo que de fato é, um ser primordialmente só, desamparado e lançado ao mundo para viver a dialética do se encontrar em si e tentar se achar no outro.
Nascemos sozinhos e morreremos sozinhos, porém pensar sobre isso no campo do real é desolador, por isso buscamos viver e criar maneiras de nos relacionarmos socialmente.
Por outro lado, o ato de se relacionar com alguém deriva o sofrimento de deparar-se com o desejo do outro, e que esse desejo é impossível de controle. Eva sabia disso.
Então a angústia nos assola, pois ela sempre nos remete ao nosso próprio desamparo, ao nosso narcisismo.
O filósofo Arthur Schopenhauer, que por muito inspirou Freud, já usava o dilema do porco espinho para fazer menções às relações humanas, de como é sofredor para o sujeito se relacionar de qualquer maneira humana possível, até mesmo se pensarmos hoje em dia no surgimento das relações líquidas na modernidade, via redes sociais, quanto mais intimidade e aproximidade entre um sujeito e um grupo, mais espinhosa essa relação poderá se tornar. Radicalmente bloquea-se e silencia-se qualquer ameaça ao EU, fugindo daquilo que não é imagem e semelhança. No conto bíblico há um lugar próprio que é destinado aos hereges, aqueles que não se assemelham e devem ser castigados. Quem não me ama, não é digno do reino do meu céu, não é isso?
Essa ambivalência afetiva passa a nutrir as neuroses no mundo contemporâneo, pois o que se busca no outro, seria justamente o eco de sua própria voz.
Como disse Caetano Veloso, narciso acha feio o que não é espelho, pois paradoxalmente as identificações mesmo derivadas daquilo que possa ser diferente ao sujeito, ela serve para que o sujeito possa diariamente afirmar sua identidade de ser e sentir-se pertencente a algo, um grupo do qual é ele mesmo, que por ora, o faz perder contado com o outro ou mesmo em companhia de alguém, o sujeito buscar inconsciente manter-se sozinho dentro de sua bolha narcísica para preservar sua fantasiosa ideia que existir o basta.
Leivanio Rodrigues
As Pessoas Mudam
Sempre acreditei na capacidade humana de ressignificar buracos paralelos à sua existência, aquelas falhas de percurso que se abre quando tudo que se conhecia é rompido por um vazio que destrói tudo o que satisfatoriamente era confortável de se viver. As pessoas são sucumbidas pelo pessimismo e por não apostarem em si, por não investirem no próprio existir e não acionar a tecla auto-limpante de sua morada interna, mesmo quanto tudo que se tinha desmoronou-se de forma gradual. Hoje o ser humano freneticamente busca desintoxicar o corpo, mas não a alma. Cada vez se ver pessoas imundas pela angústia e alagadas por uma lama de insegurança, culpa e vaidade. Pondo seu sujeito refém do que não se sabe, esperando que o mundo externo mude para abrir a porta do que humanamente se é. Infelizmente só o crime não tem vergonha de sua real face, enquanto o amor humano morre lentamente sem pressa pra sair de casa, porque as pessoas estão abandonadas de si mesmas. No entanto eu acredito que as pessoas possam mudar, mesmo que tudo que sabemos possa nos levar a pensar o contrário. Porém somos feito de emoção, de afeto e de relações. Se estas forem revistas e trabalhadas, reforçadas por um desejo singular de criar mais intimidade entre si e o sujeito que lhe habita, teremos mais razão para acreditar que as pessoas mudam.